O território não se gere pelos limites administrativos

Por incrível que pareça, na atual conjuntura nacional e internacional, vai ocorrer no Algarve um pequeno investimento que visa o […]

Por incrível que pareça, na atual conjuntura nacional e internacional, vai ocorrer no Algarve um pequeno investimento que visa o melhoramento ambiental. Fala-se aqui da limpeza da Ribeira dos Machados que será levada a cabo pelo Município de São Brás de Alportel.

As ribeiras assumem-se como parte estruturante da paisagem, constituindo corredores ecológicos com os mais altos níveis de biodiversidade.

Desta forma, é da maior importância a manutenção destes corredores e sobretudo o desenvolvimento de projetos que visem o seu melhoramento.

As intervenções ao nível das linhas de água, sejam elas grandes rios ou pequenos riachos, devem sempre ter em conta a espacialidade de uma linha de água, isto é, devem ser interpretadas como intervenções que põem em causa uma série de fatores, nomeadamente a segurança de populações e bens, estejam estes localizados a jusante ou a montante da intervenção.

Só tendo em conta os efeitos que uma intervenção ao nível de uma linha de água tem é que se pode intervir com consciência, prevendo os comportamentos da ribeira e prevenindo desastres naturais, como as cheias.

Na Ribeira dos Machados, pelos vistos, tais premissas não são conhecidas, visto que, segundo as notícias que me chegaram às mãos, a intervenção a realizar, que passará por uma limpeza, a implementação de painéis informativos e a execução de um espaço de lazer, apenas será realizada no troço que se encontra dentro dos limites administrativos do concelho.

Ou seja, não serão contemplados os restantes troços da linha de água, levando esta situação à ocorrência de problemas futuros, como a apropriação por parte da vegetação exótica nas margens, acumulação de detritos nas áreas não intervencionadas, gerando bacias de retenção a montante, podendo vir a causar cheias, entre outros.

Deixo então uma pergunta no ar: será que os erros do passado não fazem com que os decisores políticos entendam, de uma vez por todas, que o território não se gere pelos limites administrativos, tendo de ser assumido como um todo?

 

Autor: Tiago Águas é licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade do Algarve e inicia hoje a sua colaboração com o Sul Informação

 

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