Halloween e provincianismo

Há pouco, o comentário de um amigo no Facebook lançou a discussão sobre a estupidez de importarmos as tradições dos […]

Há pouco, o comentário de um amigo no Facebook lançou a discussão sobre a estupidez de importarmos as tradições dos outros, como o Halloween, enquanto esquecemos as nossas próprias tradições. Quanto a mim, isto é uma manifestação do nosso imenso provincianismo português.

No caso do Halloween, trata-se de uma comemoração que foi importada sobretudo por via da televisão e dos filmes norte-americanos. E nós até temos tradições portuguesas, 100% nacionais, com um significado semelhante e com muito mais ligação à nossa realidade: o Dia das Bruxas.

É que, contrariamente ao que muita gente pensa (sobretudo os portugueses do Sul), não é bem verdade que em Portugal não haja tradição deste Dia das Bruxas. No Norte, nomeadamente em Trás-os-Montes, esta tradição mantém-se forte, assim como na vizinha Galiza.

Aliás, é preciso não esquecer que muitas das datas festivas católicas são uma cristianização de festejos pagãos, como é o caso do Dia das Bruxas.

Por isso, não será por acaso que mais ou menos por esta altura do Dia das Bruxas há dois dias importantes para os católicos, um deles feriado (para o ano já não será), o Dia de Todos os Santos, a 1 de Novembro, o outro o Dia de Finados, a 2, data de romagem dos vivos aos cemitérios para homenagear os seu mortos.

Por isso, tendo nós tradições tão ricas, seja as pagãs, seja as católicas, não percebo qual a necessidade de estar a importar americanices…

Mas a verdade é que o Halloween está aí, e em força, motivando até desfiles nas escolas. O mais engraçado é que, se as escolas promovessem comemorações do Dia das Bruxas, se calhar haveria pais a achar mal. Mas como o é Halloween (que assinala basicamente a mesma tradição pagã a marcar o início das trevas do Inverno), até pode ser. Já agora, alguém sabe o que quer dizer halloweeen?

Esta invasão, bem como a do Dia dos Namorados/S. Valentim, outra “tradição” importada dos Estados Unidos, também tem muito a ver com interesses comerciais. E até o Pai Natal, que é cada vez mais o símbolo das festividades natalícias, tem a ver com essa comercialização. Foi a Coca-Cola que há umas boas dezenas de anos, nos Estados Unidos, fixou a imagem do velhote simpático de barba branca e roupa vermelha. Mas hoje, em Portugal, o Pai Natal está quase a destronar o Menino Jesus…

As tradições não são algo de imutável, vão mudando e evoluindo ao sabor do devir dos povos. E, com a globalização, as tradições locais, regionais e nacionais, tendem a esbater-se. Mas é pena, pelo que isso significa de perda de identidade e de diversidade.

Por mim, como não sou católica praticante e por isso o Dia de Todos os Santos não me diz grande coisa, prefiro ficar-me pelo Dia das Bruxas. Que até tem muito mais a ver com as minhas raízes transmontanas.

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