Como é a Cor do Outono

Do largo espetro da radiação eletromagnética, apenas uma ínfima parcela é detetada, sentida conscientemente e interpretada pela visão humana. A […]

Do largo espetro da radiação eletromagnética, apenas uma ínfima parcela é detetada, sentida conscientemente e interpretada pela visão humana. A esta parcela do espetro costuma-se chamar luz visível.

O fenómeno da cor de um objeto é o resultado de vários fatores: o iluminante, o próprio objeto e o recetor. Em última análise tem a ver com a luz que chega aos olhos, intacta tal como é produzida pela fonte ou transformada espetralmente pelo objeto observado.

Os olhos contêm na sua superfície interior posterior um conjunto de quatro tipos de sensores para receber e transmitir ao cérebro a informação obtida a partir das imagens de objectos aí formadas. Os bastonetes têm uma alta sensibilidade em todo o espetro visível com um máximo na sua zona central, dando uma informação integrada da luz que aí chega. Os outros três tipos de sensores, os cones, são sensíveis a diferentes zonas do espectro, dando assim informação conjugada ao cérebro, resultando numa sensação a que chamamos cor.

Os objetos podem interagir com a luz de modo diferente, consoante a sua constituição atómica ou molecular. Assim, podem absorver a luz numa certa zona espetral, difundi-la ou deixá-la atravessar.

Como exemplo, a cor azul do céu é resultante da difusão preferencial que as partículas do ar provocam na zona azul do espetro visível, observando-se transversalmente em relação à direção de incidência dos raios solares. Pelas mesmas razões, a cor alaranjada do céu na direção próxima da do sol, deve-se ao facto de a luz, ao atravessar a atmosfera, ‘perder’ parte da radiação na zona do azul.

Os fenómenos de absorção e difusão funcionam conjugados. Assim, como exemplo, se um objeto, iluminado com luz branca (cobrindo todo o espetro visível), absorve essencialmente na zona do azul, a sua ‘cor’ será amarelada, ou se absorve na zona do verde, a sua ‘cor’ é magenta (misto de azul e vermelho).

Se a iluminação dum objeto branco for feita com luz azul, o objeto parece ter a cor azul. Se, porém, o mesmo objeto for iluminado com luz vermelha, ele é percecionado como vermelho. Por outro lado, um objeto que apenas difunda luz ‘vermelha’ e absorva tudo o resto do espetro visível, se for iluminado com luz branca, parecerá vermelho, mas se for iluminado com luz azul, parecerá negro, uma vez que ele absorve essa radiação.

Os objetos também podem ‘adquirir’ cor através de outros fenómenos óticos, tais como pela reflexão (‘cor’ da superfície da água num lago, que reflete as imagens de objetos no exterior), refração (arco-íris que se forma pela passagem da luz pelo interior das gotas de água da atmosfera) ou pela difração da luz (na superfície de uma mancha de óleo, na superfície de um CD ou de um DVD).

Finalmente, deve considerar-se que, ao longo do ano, a luz do sol incide segundo inclinações diferentes, variando em função da latitude do lugar. Assim, no inverno em Portugal e para o mesmo cenário e hora do dia, a luz do sol atravessa maior quantidade de ar na atmosfera, ficando a sua cor mais amarelada do que no verão.

Além disso, a maior quantidade de água na atmosfera favorece a formação de nevoeiros e nuvens, fazendo com que haja menos intensidade de luz a incidir na superfície da terra e maior difusão da luz em todo o seu espetro.

Os próprios objetos existentes na natureza, nomeadamente as árvores e outras plantas, mudam a sua estrutura ou composição molecular. Por todos estes fatores, a passagem do verão para o outono é a altura do ano em que se nota mais a mudança desde cores mais ‘quentes’ para cores mais ‘frias’.

 

Autor: Francisco Gil
(Departamento de Física, Universidade de Coimbra)

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Foto de: António Piedade

 

 

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