Mais de 800 pessoas viajaram por um dia e uma noite à Pré-História de Alcalar

Mais de 800 pessoas, gente de todas as idades, famílias completas, passaram no sábado pelos monumentos megalíticos de Alcalar, em […]

Mais de 800 pessoas, gente de todas as idades, famílias completas, passaram no sábado pelos monumentos megalíticos de Alcalar, em Portimão, para viver um dia e uma noite na Pré-História.

Só à noite, sob a luz mágica da Lua Cheia, estiveram em Alcalar mais de 460 pessoas, para participar nas atividades organizadas pela equipa do Museu de Portimão, que incluíram observações astronómicas, recriação de um enterro à luz de archotes, explicações sobre a ligação dos monumentos funerários aos ritos da vida e da morte, histórias contadas à fogueira, oficinas de várias artes, bem como pão cozido na pedra e carne assada no espeto, à moda pré-histórica.

Com uma noite cálida e límpida, depois de alguns dias de chuva outonal, o cenário de todas estas atividades organizadas no âmbito das Jornadas Europeias do Património foi apenas iluminado pelos archotes, pelas fogueiras e pela lua que brilhava bem redonda, lá no céu.

Francisco Ponceano, professor de Contabilidade na Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes e astrónomo amador, bem explicava que «com este luar, mal se consegue ver os astros». Mas as pessoas de todas as idades não se importaram com isso e fizeram fila para espreitar, através dos telescópios, as crateras da Lua ou as quatro luas de Júpiter.

Alguns, nomeadamente as muitas crianças que estiveram presentes, precisaram de se colocar em cima do banquinho para poder espreitar o firmamento, mas todos ficaram satisfeitos. «Nunca tinha visto as luas de Júpiter», comentava um miúdo para o pai, depois de ter estado a espreitar pelo telescópio.

 

Um feiticeiro compenetrado do seu papel

 

O ponto alto da noite foi a recriação de um enterramento pré-histórico, feito à luz dos archotes e do luar, tendo como som de fundo o canto do Coral Adágio, com os seus elementos de negro vestidos e alinhados no topo do túmulo principal de Alcalar.

A cerimónia era conduzida pelo feiticeiro, trajado a rigor e com a cabeça coberta por um barrete de pele grosseira. Por baixo daquele trajo pré-histórico estava João Reis, funcionário de uma empresa de segurança que, durante alguns anos, prestou serviço no Museu de Portimão.

Agora, apesar de já não trabalhar no Museu, João Reis não quis deixar de participar, como voluntário, na recriação pré-histórica. «Enquanto lá trabalhei, sentia que fazia parte daquela equipa, daquela família. Agora já não estou lá, mas disse-lhes que podem sempre contar comigo. E aqui estou eu!».

Tal como todos os outros participantes da recriação, fossem eles funcionários e técnicos do Museu de Portimão ou amigos, João Reis esteve em Alcalar desde as 9h00 da manhã até depois da meia noite como voluntário, sem ganhar um cêntimo pelo seu trabalho. «O barrete faz muito calor, mas faz parte do meu trajo e não o posso tirar», assegurava o feiticeiro, muito compenetrado do seu papel.

Antes do início do enterramento, o arqueólogo Rui Parreira, da Direção Regional de Cultura, explicou as ligações de Alcalar com os ritos de morte dos homens que há 5000 anos habitaram esta zona do interior do Algarve e aqui foram sepultados. E falou das ligações destes monumentos funerários à lua. «Estes túmulos estão orientados para a primeira lua cheia de Primavera, a seguir ao Equinócio, a mesma que ainda hoje determina a data da Páscoa» revelou o arqueólogo que há longos anos tem trabalhado em Alcalar.

O túmulo principal, cujo interior estava iluminado, foi uma das grandes atrações da noite. Pela estreita passagem até à sua câmara principal, tão estreita que só as crianças e os adultos mais magros conseguem agora passar, os homens pré-históricos levavam os seus mortos para os sepultar no interior da câmara ou nos nichos laterais. «Mas isso foi há 5000 anos!», comentava um garoto de cerca de 12 anos para outro, que manifestava algum medo de entrar no corredor estreito. «Isto é como no Indiana Jones, bem divertido», dizia um adulto que arriscou ficar com as calças sujas de lama ao arrastar-se pela passagem estreita até ao interior do túmulo megalítico.

 

Noites da Pré-História vão voltar

 

Ali ao lado, debaixo de uma oliveira, Nuno Silva explicava os segredos dos instrumentos mais antigos do homem, os tambores e as flautas, e exemplificava de forma muito expressiva como terá começado a música.

Mais abaixo, à volta da fogueira, atarefavam-se várias pessoas, todas vestidas de peles, a cuidar do pão feito com a farinha moída nas mós pre-históricas, amassada e depois cozida em cima de pedras quentes. Na mesma fogueira, assava uma peça de carne, sempre vigiada por um assador experimentado, também ele voluntário. E quem quisesse podia provar o pão e a carne, cujo cheiro pairava no ar.

Esta primeira experiência da Noite Pré-Histórica em Alcalar correu tão bem que José Gameiro, diretor do Museu de Portimão, garantiu ao Sul Informação que «há que reconsiderar a utilização deste espaço à noite, com outras atividades em articulação com a Direção Regional de Cultura».

«O sucesso desta primeira experiência abriu caminho para o aproveitamento deste espaço à noite», sublinhou.

Gameiro fez questão de sublinhar que este dia e noite de viagem no tempo só foi possível graças ao trabalho voluntário da equipa do Museu, de técnicos da DR de Cultura e de alguns amigos. «Isto prova que, quando há boa vontade, há ideias baratas!», concluiu.

 

Veja aqui a galeria fotográfica da Noite Pré-Histórica de Alcalar

 

 

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