João Paulo Meneses: Rádio musical precisa de ter «gente dentro» para sobreviver

A rádio já teve morte anunciada muitas vezes, mas sobreviveu sempre, através de adaptações às adversidades. Hoje, a ameaça chama-se […]

A rádio já teve morte anunciada muitas vezes, mas sobreviveu sempre, através de adaptações às adversidades. Hoje, a ameaça chama-se Internet e mais uma vez se terá de mudar a forma de fazer rádio e, desta vez, a mudança terá mesmo de ser radical.

Esta é a convicção do jornalista e investigador João Paulo Meneses, que vaticina que as rádios baseadas apenas na música têm os dias contados, se mantiverem o modelo que utilizam há décadas.

A solução passa pela produção de conteúdos, fazer «rádio com gente dentro», uma forma de combater o fenómeno do acesso livre e universal a todo o tipo de música através da Internet e as formas cada vez mais variadas de a ouvir, com as novas tecnologias e plataformas.

O jornalista da TSF foi o convidado desta semana do programa radiofónico «Impressões», dinamizado pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. Uma conversa que pode ser ouvida na íntegra hoje, sábado às 12 horas em 102.7 FM ou no site da RUA.

João Paulo Meneses é o coordenador da Redação do Porto da TSF e também é professor universitário há mais de 20 anos, para além de autor de dois livros. Em 2008 concluiu o doutoramento em Música na Rádio pela Universidade de Vigo. Um percurso que o levou a refletir profundamente sobre o futuro da Rádio, visão que tem vindo a partilhar em conferências e que o trouxe a Faro na passada semana, no âmbito das comemorações dos 10 anos da RUA FM.

Na altura de escolher a área em que se queria doutorar, João Paulo Meneses decidiu enveredar por uma matéria que, ainda que ligada ao que fazia, não dominava, uma vez que o seu desejo era «aprender». «Depois de 20 anos a trabalhar em jornalismo, passei a interessar-me com a importância da música na rádio, com a rádio musical, uma área em que nunca tinha trabalhado», revelou.

«Na minha tese, tentei avaliar os desafios que se colocam à rádio, face ao aparecimento da Internet. Todos os meios de comunicação estão sujeitos a uma turbulência terrível, provocada por uma coisa inusitada. Provavelmente nunca acontecerá um terramoto tão intenso como a Internet. Muda tudo, meteu-se nas nossas vidas», contou.

No seu estudo, acabou por separar «a rádio de palavra da musical», uma vez que a primeira, considerou, não é profundamente afetada pela Internet, por ser feita por pessoas. «Já a rádio musical não, pois apareceu um concorrente de peso. Durante mais de 50 anos a rádio foi monopolista na oferta de música. As pessoas tinham discos, mas quem é que tinha dinheiro para comprá-los todas as semanas? Portanto, música era na rádio», considerou.

«Até que apareceu esta “coisa do Diabo”, que é a Internet, que tem muito mais música do que aquela que havemos de conseguir ouvir algum dia, também de borla e com uma grande vantagem sobre a rádio: enquanto que na rádio ouvimos a música que alguém decidiu propor, na Internet ouvimos aquela que queremos. Paro, ando para a frente, pauso para fazer ir à casa de banho, volto atrás…Portanto, como distribuidora de música, a rádio está completamente ultrapassada, a não ser que junte à música outra coisa que é importante, que é o valor acrescentado, como o que estamos aqui a dar hoje [na entrevista]», disse.

«Eu tive um diretor na TSF que me disse uma vez que, se pudesse, punha uma bomba na Internet (risos). Obviamente que é algo disparatado, mas foi no sentido que a Internet veio criar tanta instabilidade, veio tirar os órgãos de comunicação social do seu conforto. Abalou-nos totalmente», contou.

Quatro anos passaram desde que João Paulo Meneses começou a defender a sua teoria dentro e fora de portas, tempo que «tem vindo a confirmar» aquilo que diz. «A rádio não pode competir com a Internet [na distribuição de música] e se o fizer, perde», resumiu. O problema é real, mas há soluções, desde logo «introduzir palavra na música». Em Portugal, há já exemplos da mudança que está a ter lugar. «A Rádio Comercial ultrapassa a RFM, até há pouco tempo líder em Portugal, não pela música, mas pelo Ricardo Araújo Pereira e pelo Nuno Markl», disse.

A Internet é uma ameaça à rádio musical que liderou as audiências de há décadas a esta parte, mas é também uma oportunidade para os que souberem adaptar o seu modelo de negócio e tirar mais-valias desta rede global.

Além de ter revolucionado a oferta, a Internet é igualmente um concorrente de peso ao nível do mercado publicitário, a principal fonte de receitas dos meios de comunicação social. E é aí que os projetos jornalísticos terão de investir, acredita, para garantir a sua sobrevivência, uma vez que os anunciantes «querem estar onde há público».

«Se as propostas jornalísticas vão conseguir sobreviver face à publicidade potencial, isso é algo que precisa de tempo para ser testado, é uma espécie de braço de ferro entre as duas partes», considerou.

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