Experiência e primeiros passos marcam conversa sobre empreendedorismo em Portimão

Um empresário experimentado e com provas dadas num setor altamente competitivo e outro que está agora a dar os primeiros […]

Um empresário experimentado e com provas dadas num setor altamente competitivo e outro que está agora a dar os primeiros passos no empreendedorismo.

Bruno Carlos, diretor-geral da Flesk Telecom, e Delfim Martins, promotor no Algarve dos passeios turísticos em moto com side car da «Bike my Side», explicaram a cerca de quatro dezenas de participantes em mais uma Beta Talk em Portimão as razões das suas apostas no mundo dos negócios, os desafios e as dificuldades.

Delfim Martins é arquiteto de formação e trabalhava numa grande empresa da área da construção, no Algarve. De repente, devido à profunda crise que atinge o setor, viu-se desempregado. E teve que pensar no que fazer a seguir.

«Os meus colegas diziam: eu vou para Angola, eu vou para o Brasil. Mas a mim não me apetecia ir para lado nenhum, gosto muito do Algarve e de Portimão». Se na sua área de formação as oportunidades são escassas, Delfim teve que começar a pensar outside the box, fora da sua zona de conforto, «noutra aposta para além da arquitetura».

«Nos últimos tempos, há muita gente a falar de empreendedorismo, de desenvolvimento pessoal, da necessidade de ir para a frente. E foi isso que eu resolvi fazer», contou.

«Em conversa com um amigo de Lisboa, que é designer e também estava desempregado, ele disse-me: comprei um sidecar e faço passeios temáticos aqui por Lisboa. E disse-me que isto é um êxito por exemplo em Xangai, uma cidade super poluída. Então eu pensei: se isto faz sentido em Lisboa e em Xangai, que são cidades, com poluição, porque não no Algarve? Porque não arriscar?»

E foi o que Delfim Martins resolveu fazer: «vou ao encontro do que a região me pode oferecer, que é o turismo, e ofereço um produto diferente, viagens alternativas, que não se destinam ao turismo de massas, mas ao de qualidade».

Com ajuda da sua mulher, que trabalha na área do Marketing e da comunicação empresarial, Delfim resolveu então adaptar o conceito da «Bike my Side» ao Algarve. Desenvolveram o slogan do serviço, em inglês: «Private guide with a smile», ou seja guia privado com um sorriso. Porque «o que se pretende é que as pessoas saiam satisfeitas desta experiência», sublinhou, perante os participantes da Beta Talk que teve lugar na segunda-feira, no espaço do café-concerto do Teatro Municipal de Portimão.

 

Uma mota e um motorista com histórias curiosas

 

Delfim Martins

A moto escolhida foi uma Ural T, uma sólida moto com sidecar, fabricada à mão, na Rússia. Esse foi o maior investimento, já que custou 15 mil euros, num total de 25 mil a investir.

«A Ural T é uma moto russa, baseada na BMW de 1939, usada pelos alemães na II Guerra Mundial. Os russos sacaram nessa altura cinco motos, levaram-nas pela Finlândia, que era país neutro, e copiaram peça por peça, fazendo a sua própria moto. Para fugir aos bombardeamentos alemães, Estaline mudou a fábrica para a zona dos Montes Urais, onde ainda hoje se situa. Tudo é feito à mão: os blocos de motor, por exemplo, são feitos numa fábrica ao lado e o metal é vertido manualmente para umas formas», contou.

Mais engraçado que a própria história da moto com sidecar é o facto de que, quando decidiu lançar-se neste novo negócio, o Delfim nem sequer sabia andar de mota… «Quando fui ao revendedor para encomendar a Ural T, ele dizia-me: “olhe que esta mota é para gente com muita experiência”. E eu respondia-lhe: “não se preocupe”…»

Entretanto, como é lógico, Delfim Martins tirou a carta de moto e já tem bastante experiência. De tal forma que, num pré-lançamento da «Bike my Side», já está a fazer passeios pela Rota do Petisco, ao preço promocional de 30 euros para duas pessoas. E já tem tido interessados.

Estando desempregado, Delfim entregou ao Instituto do Emprego e Formação Profissional um projeto para a criação da sua empresa em nome individual, mas ainda não recebeu resposta. Entretanto, avançou com todos os registos necessários para esta atividade de animação turística.

 

Promoção da «Bike my Side» já arrancou

 

E está já a produzir um vídeo promocional, bem como fotografias para dar a conhecer o serviço. O marketing deste produto completamente inovador no Algarve está a ser feito sobretudo na internet, nas redes sociais como o Facebook.

Mas, quando tiver os folhetos e todo suporte de comunicação prontos, Delfim Martins vai entrar em contacto com os hotéis de Portimão e da zona do Barlavento algarvio, bem como com os postos de turismo.

Além dos passeios temáticos para duas pessoas com o guia sorridente, que podem ter como ponto de interesse a paisagem, a gastronomia, os monumentos, a diversão noturna, a «Bike my Side» vai ainda oferecer outro produto completamente novo: «vamos contactar com os organizadores de casamentos e oferecer a moto com sidecar para transportar os noivos. Os carros clássicos estão agora muito na moda, mas eu quero oferecer este novo produto, com esta mota que tem uma imagem algo vintage, para casamentos e despedidas de solteiros. E garanto à noiva que entrego o noivo a horas!»

«Precisava de ser feliz noutras áreas, a apanhar vento na cara. Mas não deixo de ser arquiteto e de ter de pagar as quotas da Ordem», concluiu Delfim Martins, promotor da «Bike my Side» no Algarve.

 

Como nasceu o maior datacenter do Algarve

 

Bruno Carlos

Experiência diferente tem Bruno Carlos, que é um dos fundadores da empresa Flesk Telecom, com sede em Faro, e dona do maior datacenter do Algarve e um dos maiores do país.

Este datacenter culminou anos de crescimento da empresa e foi inaugurado em Maio de 2011, num investimento de mais de um milhão de euros, inteiramente suportado por capitais próprios, no parque multiusos do Areal Gordo, em Faro.

A Flesk Telecom, explicou Bruno Carlos, criada em 2001, começou por ser mais uma empresa de webdesign e webdevelopment, criando sítios na internet para clientes individuais e empresas. Mas a concorrência era grande, o mercado estava saturado, e depressa a empresa começou a apostar também no registo de domínios na internet, usando um truque que se provou ser altamente lucrativo: registou uma série de marcas genéricas em seu nome, como Dominios.pt. E assim, quando alguém procurava “domínios” nos motores de busca, a primeira resposta que aparecia era o link para a sua empresa.

A partir de 2003, «acabámos por abandonar a criação de websites e apostámos apenas no registo de domínios e no alojamento de sites», acrescentou o empresário.

A primeira sede da empresa era na Avenida 5 de Outubro (mais conhecida por avenida do Liceu), em plena cidade de Faro, e não permitia o crescimento das instalações. «Num datacenter como o nosso, é preciso ter geradores de emergência, sistemas de arrefecimento redundantes, redundância elétrica e de dados, deteção de incêndios, para que nada falhe. Isso já não era possível nas instalações anteriores. Por isso, resolvemos sair da cidade». E mudaram-se para um parque industrial, nos arredores de Faro, no Areal Gordo.

O grande sucesso da Flesk tem a ver com a qualidade do serviço que oferece e com o facto de possuir a marca Dominios.pt. «O que é que uma empresa do Algarve consegue fazer contra os grandes de Lisboa, os tubarões internacionais, as grandes multinacionais?», interroga, retoricamente, Bruno Carlos.

«Lançámos a Dominios.pt, que é uma marca genérica e por isso não precisa de muito esforço de marketing e de publicidade. Consegue-se tráfego orgânico a custo zero na internet».

 

Clientes de todo o país nem sabem que Flesk é algarvia

 

Além dessa primeira marca genérica, a Flesk registou outras: Servidores.pt, Cloud.pt, datacenter.pt, backup.pt. Mas porque as marcas genéricas também se gastam, também já tem uma marca forte registada há dez anos, «mas só vamos lançá-la quando não conseguirmos extrair mais sumo das marcas genéricas».

Como nunca se apresentaram como empresa do Algarve, a não ser desde que inauguraram o novo Datacenter no Areal Gordo, a Flesk conseguiu vingar num mercado marcado por muitos preconceitos geográficos. «Tivemos um cliente de Lisboa que nos disse: “como vocês estão mesmo aqui ao meu lado”. E nós respondemos: “mas nós estamos no Algarve”. E ele respondeu: “Ai é? E no Algarve também se trabalha na internet? Isso não é só sol e praia?”», contou Bruno Carlos.

O certo é que a esmagadora maioria dos clientes da Flesk Telecom, no registo de domínios e no alojamento de sites, são de fora do Algarve, apesar de até ter conseguido, por ter orientado o seu core business para essas duas áreas, captar muitos dos seus anteriores concorrentes na área do webdesign. E a empresa tem mesmo clientes estrangeiros, nomeadamente de Espanha.

«Investimos no novo Datacenter porque, em certo momento, também nos apercebemos que, para continuar a crescer, precisávamos de ganhar imagem. Já tínhamos o handicap de estar no Algarve, por isso precisávamos de ter instalações de qualidade, ao nível do que de melhor existe», contou Bruno Carlos.

E foi uma aposta ganha: «a partir do momento em que tivemos o novo Datacenter, começámos a atrair clientes entre os nossos fornecedores, como a Portugal Telecom ou a Optimus, alugando espaço no nosso centro de dados para eles alojarem lá os seus próprios dados».

 

Sempre a inovar com novos serviços

 

Neste mercado ligado à internet, o que agora é inovador já é obsoleto daqui a uma hora. Por isso, há que estar sempre na crista da onda. Daí que a Flesk Telecom não durma sobre os louros obtidos, e esteja sempre a apostar em novos serviços.

Na própria segunda-feira, dia 17, quando teve lugar a Beta Talk em Portimão, a empresa lançou um novo serviço, aproveitando uma das suas marcas genéricas previamente registadas: o Backup.pt.

«É um serviço para particulares e para empresas. Se roubarem o seu portátil, mas tiver contratado connosco este serviço de backup remoto, só terá de comprar um portátil novo e ir buscar os dados que estão guardados no nosso datacenter», explicou o empresário.

O serviço de Backup Remoto permite efetuar uma cópia de segurança da informação que se guarda no computador e que é de extrema importância para os negócios, nomeadamente no que diz respeito a emails, imagens ou documentos.

Essa cópia de segurança é efetuada via internet e armazenada num servidor seguro instalado no Datacenter da Domínios.PT , situado em Faro, permitindo aos clientes efetuar sempre que for necessário um restauro automático da informação.

Quem já é cliente da Flesk Telecom «ganha 5 GB de backup vitalício». Mas a empresa algarvia vai lançar em breve o serviço Backup.PT de forma comercial.

E internacionalização, está nos planos da Flesk? «Sempre nos posicionámos para o mercado nacional e a internacionalização não faz parte dos nossos planos a curto prazo. Mas já temos clientes internacionais, nomeadamente espanhóis».

Será que o Algarve algum dia poderá ser um Silicon Valley europeu?, quis saber um dos participantes nesta Beta Talk.  «Eu gostaria disso, porque as empresas tecnológicas juntas conseguem ir muito mais longe, as ideias fervilham mesmo que seja numa conversa de café. Não quero viver numa ilha que é o Algarve», respondeu Bruno Carlos.

 

O que são estas Beta Talks?

 

As Beta Talks são conversas inspiradoras da partilha de ideias e do “networking”, que decorrem um pouco por todo o país no dia 16 de cada mês. Em Setembro, por 16 ser um domingo, a conversa teve lugar no dia seguinte. A próxima terá lugar a 16 de outubro, mais uma vez no café-concerto do Tempo, em Portimão.

As Beta Talk contam sempre com dois empreendedores convidados, à conversa com todos os presentes, acerca dos desafios que superaram, as oportunidades que detetaram, o que aprenderam e que conselhos têm a dar a futuros empreendedores.

Realizam-se em Portimão desde julho último, na sequência de um protocolo de colaboração celebrado entre o Município e a Beta-i – Associação para a Promoção do Empreendedorismo e da Inovação.

A Beta-i tem desenvolvido um importante trabalho em termos da criação e dinamização de uma cultura e rede de empreendedorismo e inovação, nomeadamente através da promoção de eventos como o TEDxEdges, que já teve lugar em Portimão, ou o Silicon Valley comes to Lisbon, bem como na aceleração de “start-ups” e facilidades de acesso a investimento, na forma de programas como o Startup Weekend, além da criação de espaços, serviços e produtos focados no empreendedor.

A cada nova Beta Talk cresce a rede de apoios, no seguimento dos propósitos da criação de uma dinâmica em torno desta área do empreendedorismo, sendo disso exemplos a rádio universitária RUA FM, a APGICO- Associação Portuguesa de Criatividade e Inovação, a GAIM, associação sem fins lucrativos na área da investigação e marketing que reúne um conjunto de docentes de diversas universidades e áreas, bem como alunos dessas instituições e presta serviços  na área da consultoria, formação e estudos de mercado, e ainda o IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação.

Para além destas novas parcerias, a Beta Talk de setembro teve o apoio local da ETIC- Algarve e a parceria de media do Sul Informação, tendo ainda a colaboração da Universidade do Algarve através do CRIA – Centro Regional de Inovação do Algarve/Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia, ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, NERA – Associação Empresarial da Região do Algarve e Inesting, além da página Algarve Emprego ao nível da divulgação.

 

 Fotos: Rui Canelas / Etic-Algarve

Veja todas as fotos aqui.

 

 

 


 

 

 

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