Curiosity chegou a Marte: Curiosidade como forma de vida (II)

Uma vez na superfície do planeta, começa a missão científica do Curiosity. Este verdadeiro laboratório possui uma quantidade muito grande […]

Uma vez na superfície do planeta, começa a missão científica do Curiosity. Este verdadeiro laboratório possui uma quantidade muito grande de equipamento científico:

1.     Três tipos de câmaras diferentes (fabricadas pela Malin Space Science Systems), todas elas redundantes.

O sistema MastCam é constituído por 2 câmaras true color de alta resolução e elevada capacidade de memória (imagens com resolução de 1600×1200 pixéis e vídeos de 1280×720 pixéis e 10 fps e compressão por hardware); o sistema MAHLI (Mars Hand Lens Imager) composto por uma câmara montada no braço robotizado do Curiosity com a capacidade de tirar fotos com 1600×1200 pixéis (14.5 micrómetros por pixel) dotada de vários tipos de iluminação e com capacidade de armazenar imagens em vários formatos com e sem compressão; e o sistema MARDI (Mars Descent Imager) usado durante a fase de descida para documentar todo o processo.

De elevada resolução (equivalente à MAHLI) irá tirar imagens quando a distância ao solo estiver entre 3.7km e 5 metros, a uma cadência de 5 imagens por segundo;

2.     Um instrumento remoto denominado ChemCam composto por um laser, denominado LIBS (Laser-induced Breakdown Spectroscopy), e um sistema denominado remote micro-imager (RMI).

Com o laser, o Curiosity pode vaporizar um objeto a 7 metros de distância, sendo o espectro da luz emitida analisada pelo RMI.

O RMI pode também, utilizando as mesmas óticas tirar imagens dos objetos a analisar, bem como do resultado da vaporização, tendo a capacidade de resoluções de 1mm a 10m de distância.

Este é um fabuloso instrumento para selecionar objetos de interesse que mereçam uma análise mais rigorosa. Não se esqueçam que o Curiosity é um explorador à procura de sinais de vida;

3.     Um espectrómetro de raio-x por partículas alfa (APXS), que também já equipava as duas versões anteriores de robôs que foram colocados em Marte.

Com este dispositivo o Curiosity pode analisar a composição química de amostras em estudo, fazendo incidir feixes de partículas alfa e analisando o espectro de raio-x resultante, o que permite identificar a exata composição química da amostra;

4.     Um dispositivo denominado CheMin que tem como objetivo detetar minerais e respetiva abundância em Marte.

Na verdade, este é mais um espectrómetro de raio-x e de fluorescência que trabalhará em conjugação com o braço robotizado e com as ferramentas colocadas na ponta do braço, nomeadamente a broca e os dispositivos de recolha de amostras.

Depois de obtidas, o pó resultante é colocado no espectrómetro para que faça a sua análise. O Curiosity é um verdadeiro químico e mineralogista;

5.     Um outro instrumento denominado SAM (Sample Analysis at Mars)e que tem como objetivo analisar a composição orgânica e gasosa da atmosfera marciana, mas também de amostras recolhidas pelo braço robotizado;

Fase final de colocação do Curiosity na superfície de Marte

6.     Um outro instrumento muito interessante é o RAD (Radiation Assessment Detector). Tem como objetivo analisar a radiação dentro da nave durante toda a viagem e durante a fase de colocação na superfície.

É a primeira vez que isto se faz e tem como objetivo preparar uma viagem com tripulantes;

7.     O DAN (Dynamic Albedo of Neutrons), um emissor e detetor de neutrões, foi desenvolvido para detetar hidrogénio, gelo ou água na superfície de marte ou logo abaixo da superfície;

8.     E não podia faltar uma completa estação meteorológica (REMS – Rover Environmental Monitoring Station) com a capacidade de medir na perfeição a temperatura do ar e do solo, humidade, pressão, direção dos ventos e nível de radiação ultravioleta;

9.     Dois sistemas de câmaras de navegação (NavCams) e deteção de problemas (HazCams);

10.   Um sistema muito complexo de instrumentação denominado MEDLI (Mars Entry, Descendant and Landing Instrumentation) que tem como objetivo medir todas as variáveis necessárias à manipulação e controlo da nave espacial.

A NASA não se esqueceu que perdeu algumas naves porque falhou o processo de medida durante a descida para o planeta, por exemplo.

 

Um verdadeiro cientista. Totalmente equipado.

Depois de ter chegado, o Curiosity demorou umas horas a ficar operacional. Teve de levantar a sua cabeça, um mastro que é essencial para o funcionamento das várias câmaras e dos instrumentos a bordo.

Depois, olhou à volta, procurou objetos e locais que pareçam interessantes (o seu sistema de navegação é muito completo e autónomo), percebeu à distância (com o seu laser e instrumentos) se o local merece uma atenção cuidada, fazendo análise química rigorosa dos locais mais interessantes, medindo tudo, tirando fotos e fazendo vídeos.

E nós, aqui na terra, receberemos diariamente os resultados do seu trabalho científico que não é mais do que a consequência de uma das nossas características mais notáveis: a CURIOSIDADE de saber mais.

 

Leia a primeira parte deste artigo clicando aqui.

(Versão completa em http://www.re-visto.com/curiosity)

 

 

Autor: J. Norberto Pires é professor no Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra

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