Catástrofe no Algarve

Saudações a todos os leitores. Venho aqui manifestar as minhas mais sinceras condolências às vítimas da catástrofe natural que ocorreu […]

Saudações a todos os leitores. Venho aqui manifestar as minhas mais sinceras condolências às vítimas da catástrofe natural que ocorreu no passado dia 15 de Agosto, no Algarve. A Proteção Civil ainda não tem os números oficiais que provieram desta tragédia (na verdade, não tem nada), mas calculam-se danos inestimáveis, sobretudo morais e nos pára-choques de centenas de viaturas.

Mas perguntará o leitor, quiçá preocupado, o que terá de facto acontecido nessa quarta-feira? Terá sido um sismo? Um tsunami ou um tornado? Não. Foram apenas uns chuviscos.

A manhã do dia 15 veio cinzenta e nublada, fresca mas não fria, porém prometeu logo não convidar ninguém a banhos. As praias assumiram o cenário de um dia de inverno, praticamente desertas, mostrando a quem não sabia que às vezes, muito raramente, no Algarve o sol também se esconde. Sol, como eu te compreendo: eu bem me tento esconder de tanto turista que, sabe-se lá por que carga de água, não podia ter vindo de férias noutro mês, mas em vão…

O resultado foi catastrófico e, permita-me o arrojo, ridículo. Como se numa região de tamanha riqueza cultural e paisagística, sobretudo no verão, não houvesse mais sítio nenhum para ver ou se estar que as praias do nosso longo litoral, toda a santa gente incorreu numa inesquecível peregrinação ao shopping que havia mais perto (ou mais longe). E a julgar pela afluência, ao contrário daquilo que nós, algarvios, achamos no inverno, os shoppings não pareceram assim tantos.

Eram milhares e milhares de pessoas a passear nos corredores e nas lojas de todos os centros comerciais da região. Uma multidão como eu nunca tinha visto. A densidade populacional era tão grande que nas horas ‘fortes’ pareciam as primeiras filas de um concerto dos U2. Teria sido o dia perfeito para a malta dos Censos ter inquirido metade do portugueses. Foi como se o último dia 1 de Maio se tivesse repetido, mas desta vez exclusivamente no Algarve e não havia 50% de desconto a partir dos €50 em compras.

O bloco humano era quase impenetrável e todo este cenário me fez perguntar em silêncio: será que, de onde toda esta gente vem, não há chuviscos?

Muitos empresários terão esfregado as mãos com tão dantesca situação, pela oportunidade de negócio que a mesma representou, mas não os humildes lojistas que se redobraram em esforços para não transparecer demasiado o caos em que estavam a trabalhar. Nos olhos de alguns colaboradores podia ver-se a dor e o desespero de quem não está habituado a ser absorvido pela multidão enquanto trabalha. E, como diz a minha avó: tudo o que é de mais, enjoa.

Nas caves destinadas ao estacionamento, o caos era semelhante. Uma marcha lenta para entrar e para sair dos parques, carros abruptamente estacionados em buracos demasiado pequenos para a sua dimensão, manobras escusadamente apertadas e que fizeram pequenas mossas nos pára-choques alheios. E a isto subtraia-se a paciência e a falta de arte de alguns condutores…

Culpa do São Pedro? Culpa do feriado? Não terá o Algarve outros pontos de interesse para se visitar quando a praia não é uma opção? Tem, tem e não são poucos! Mas haverá certamente falhas basilares na divulgação e promoção do turismo algarvio. Se quem nos visita não tem conhecimento de outras opções de cariz natural, cultural e paisagístico, a culpa só pode ser da falta de publicidade, porque cultura geral não costuma ser o dom do transeunte comum.

Da minha parte, posso deixar aqui algumas opções de visita a ter em conta em futuras situações como esta: Parque Natural da Arrábida; Templo de Diana; Gerês; Alqueva; foz do rio Douro; Ria de Aveiro; Convento de Mafra; aldeia de Monsanto; Chelas; entre muitas outras, é só procurar na internet.

“Ah, mas isso não fica no Algarve!” Eu sei.

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