«Vim à rua e havia labaredas de 30 metros de altura a enrolar, a engolir tudo. Só tive tempo de fugir a pé com o meu cão», relata, ainda nervoso, Miguel Nunes, habitante do Desbarato, a uma dezena de quilómetros de São Brás de Alportel.
A noite foi de pânico para os habitantes das localidades serranas de Desbarato e Bengado, com o fogo a entrar nas propriedades e a queimar algumas casas.
Miguel Nunes e a sua mão observavam hoje, ao início da tarde, o fogo, que agora ameaça a povoação vizinha de Bengado.
Os bombeiros já se encontram no local, mas os habitantes garantem que só chegaram por volta das 14h30.
«Ninguém veio cá avisar-nos do perigo. Teve de ser o meu vizinho, que é inglês, a telefonar e a dizer-me: Miguel, sai já de casa que o fogo vem aí», contou Miguel Nunes.
A sua mãe, Maria José, reforçou as palavras do filho e contou ao Sul Informação que tudo aconteceu perto das 4h00 da manhã. Quase à mesma hora a que Manuel Dias Martins abandonou a sua casa com o neto e se refugiou em São Brás de Alportel.
«Só tive tempo de guardar o carro e o trator. Vá lá que a casa é nova e não ardeu. Arderam paletes que tinha no terreno e o fogo ainda lambeu as paredes», descreveu o habitante do Desbarato.
Pior sorte teve um vizinho seu, cuja casa acabou mesmo consumida pelo fogo. Momentos como este viveram-se um pouco por todo o concelho de São Brás, durante a noite e já esta manhã.
Ao início da tarde, a situação de Bengado era a que inspirava maior preocupação e foi para lá que se dirigiu o presidente da Câmara de São Brás de Alportel.
Segundo o autarca, «já há meios aéreos pesados a ajudar no combate aos fogos». Na zona de Bengado, o Sul Informação viu um helicóptero bombardeiro a atuar.
Além destas duas localidades, continua a causar muita preocupação a situação junto ao Javali, localidade que foi evacuada, e onde o fogo está a cerca de três quilómetros.
Em Parises, Cabeço do Velho e Arimbo, o fogo obrigou a evacuar muitas casas, algumas das quais arderam.
No incêndio que dura há mais de 48 horas e afeta os concelhos de Tavira e São Brás estão a atuar nove meios aéreos – três aviões bombardeiros, um dos quais espanhol, e três helicópteros, bem como mais de 860 homens. Há ainda seis máquinas de rastos da Câmara de Tavira e outras seis do Exército.
Entretanto, em termos operacionais, passou a haver, a partir das 16h10, um Posto de Comando Operacional (PCO) instalado no Polidesportivo de São Brás de Alportel. Mantém-se o posto de comando em Cachopo.
Em Tavira, o fogo parece estar a evoluir favoravelmente. Segundo José Ribeiro, comandante operacional, as frentes sul e leste inspiram agora menos cuidados, estando uma delas a evoluir «favoravelmente ao combate» e a outra já dominada.
Fotos de: Carlos Filipe de Sousa
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