Já ardeu mais de 85% da área florestal do Algarve desde 2003

Com o incêndio que durante mais de quatro dias lavrou na Serra do Caldeirão, subiu «para cerca de 85% a […]

Com o incêndio que durante mais de quatro dias lavrou na Serra do Caldeirão, subiu «para cerca de 85% a percentagem da área florestal da região [algarvia] que ardeu completamente desde 2003», disse hoje a Almargem, Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve.

«Em 2003 e 2004 muitas promessas foram feitas, garantias foram dadas de que se iria enveredar por uma nova política florestal. Um dos resultados dessas “novas” políticas está à vista: o sobreiral, verdadeiro coração da Serra do Caldeirão, fonte de rendimento para inúmeras famílias e principal razão de ser da inclusão desta zona na Rede Natura 2000, já quase desapareceu», sublinha a associação ambientalista.

Segundo dados do EFFIS (European Forest Fire Information System/Sistema de Informação Europeu sobre Fogos Florestais), da Comissão Europeia, só nos dois primeiros dias do fogo, entre 18 e 20 de julho, tinham ardido 19720 hectares na zona do Cachopo, Tavira.

Entretanto, desde o início da madrugada desta segunda-feira que o incêndio está em fase de «consolidação da extinção», tendo os meios no terreno sido reduzidos para cerca de 400 homens.

A Almargem, em comunicado, começa por dizer que, «perante a extensão da calamidade que se estendeu aos Concelhos de Tavira e S. Brás de Alportel», expressa a sua «solidariedade aos habitantes dos referidos municípios, em especial a todos os que foram diretamente afetados por este incêndio».

A Associação Almargem saúda também «o esforço dos bombeiros e outros agentes da proteção civil que, apesar de tudo, impediram que as consequências se tornassem mais pesadas, sobretudo em termos de danos pessoais».

No entanto, a associação sublinha que «descuidos humanos estiveram na origem dos últimos dois grandes incêndios que se abateram sobre a Serra do Caldeirão em 2004 e 2012, mas não se pode deixar passar em claro a manifesta incompetência de algumas chefias para organizar o combate ao incêndio no terreno e a gritante falta de meios adequados de intervenção».

«Só assim se pode explicar que estes incêndios tenham podido alastrar até dezenas de quilómetros de distância do ponto inicial de ignição, ultrapassando vales, estradas e povoações, sem que tenham sido parados», acrescenta a Almargem.

Em ambos os casos, «o fogo alastrou impune por montes e vales durante dias a fio e, só após o escandaloso avolumar da área ardida e a centralização das atenções da comunicação social, é que foram tomadas as medidas adequadas para acabar de vez com o incêndio».

Para além de uma «nova política florestal, baseada na biodiversidade», a Almargem considera que «deve continuar a apostar-se na prevenção e na intervenção primária com base em equipas de sapadores florestais bem treinados e equipados, o que tem dado aparentemente bons resultados nalguns concelhos».

A esse propósito, a Associação Almargem salienta «a lamentável circunstância de o Concelho de S. Brás de Alportel se ter visto invadido por fogos já incontrolados provenientes de Loulé (em 2004) e Tavira (2012), com consequências devastadoras para o seu património natural e para a sua principal riqueza, a cortiça».

Por isso, solicita «uma atenção muito especial das entidades competentes para com este Município martirizado. As ajudas devem chegar bem e depressa e deve ser rapidamente discutido, elaborado e implementado, sem olhar a custos, um plano inovador e ecologicamente sustentável de intervenção florestal».

Foto de: Carlos Filipe de Sousa

 

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