Ora bem, deixem-me fazer contas: tirei um curso numa universidade séria e reconhecida (a Universidade Nova de Lisboa), o curso tinha 5 anos no total, 4 anos letivos e 1 de estágio. Com estes cinco anos, “apenas” consegui uma licenciatura.
Hoje em dia qualquer jovem tira uma licenciatura em 3 anos e com mais um anito já é mestre…mas isso ainda é o menos…
É que depois há aquele senhor ministro Miguel Relvas (como antes houve o curso de José Sócrates, com exames “feitos” ao domingo) que em menos de nada – num ano – conseguiu concluir uma licenciatura!
Assim, sendo, deixa cá fazer as contas…acho que os meus 5 anos de curso já davam direito a um doutoramento.
E se contarem a experiência e as equivalências – como Miguel Relvas diz que contaram no caso dele – já terei direito a várias licenciaturas, diversos mestrados e uns quantos doutoramentos!!!
E como eu, que me lembre, não tive nenhuma nota tão baixa como um 10, será que isso me dá direito a mais alguma coisa? Com tudo isto, já teria uns doutoramentos para a troca.
Para lá do aspeto anedótico deste caso do curso de Miguel Relvas, o que ressalta aqui são as questões éticas e até morais.
Primeiro, porque, quando foi o caso do curso de José Sócrates, o PSD do qual Relvas era destacado dirigente e hoje é “brilhante” ministro, foi dos mais acérrimos críticos. E agora? Ficam calados?
Depois porque estes casos só dão munições a quem acha que os políticos são todos corruptos, que a política é apenas um jogo onde ganham os chicos-espertos que se encostaram ao partido certo na hora certa.
Esta opinião, que tem cada vez mais adeptos, é perigosa, porque, daqui à defesa de “um ditador que ponha ordem nisto”, é um pequeno passo!
Com estes casos que vão minando a nossa frágil Democracia, é todo um regime que é posto em causa.
Se vivêssemos num país decente – francamente, nos tempos que correm, não sei se tal país algo mítico existirá, mas há alguns que se aproximam – o senhor Relvas (como antes o senhor Sócrates) já se teriam demitido, sob pressão dos seus pares.
E os seus casos seriam efetivamente investigados até ao fim e dariam azo a punições a todos os envolvidos, nomeadamente às universidades que dão estes títulos académicos…
Em Portugal, infelizmente, e por nossa culpa – nossa, enquanto cidadãos que não exigem! – vai ficar tudo em águas de bacalhau!
Daqui a uns dias, já ninguém vai falar do curso instantâneo de Relvas!
Nota: Este é o texto da minha crónica de quinta-feira na rádio RUA FM, no âmbito da rubrica «Tenho Dito», que pode ser ouvida de viva voz aqui
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