Ignorância

Em Lagos, numa das rotundas da cidade, conhecida por «Rotunda das Cadeiras», a Câmara resolveu desligar a luz da escultura/intervenção […]

Em Lagos, numa das rotundas da cidade, conhecida por «Rotunda das Cadeiras», a Câmara resolveu desligar a luz da escultura/intervenção de arte pública da artista plástica Vera Gonçalves. Ao apagar a luz, a escultura fica sem qualquer leitura, porque foi concebida precisamente para ter luz interior. Ou seja, a luz faz parte da peça escultórica, não é um adorno nem um acessório.

Não contente com isso, a Câmara resolveu colar, nas esculturas, autocolantes, daqueles que as autarquias agora usam para explicar que o apagar das luzes se deve a poupança de dinheiro e não a falta de manutenção. Só que uma peça de arte pública não é um poste de eletricidade. É algo um bocadinho diferente… Será que ninguém na Câmara de Lagos pensou nisso?

Em Silves, o painel de azulejos da artista plástica Maria Keil, recentemente falecida, esteve meses conspurcado por um grafitti com frases insultuosas contra a polícia. E esteve assim até que, há coisa de um mês, alunos de uma escola de Silves resolveram limpar o painel, que a artista, silvense de nascimento, tinha oferecido à cidade. Os miúdos limparam o painel de azulejos de Maria Keil em menos de 20 minutos, munidos apenas de baldes de água, detergente e esfregões. E nem foi preciso esfregar muito, porque a tinta saiu facilmente.

Mas a Câmara de Silves não foi capaz, ao longo de meses, de pedir a algum dos seus funcionários que lá fosse limpar o painel…E nem sequer pode alegar falta de verba, porque os miúdos provaram que a limpeza não precisava de dinheiro, apenas de vontade.

Estes dois casos ilustram bem o desprezo a que são votadas as obras de arte pública nas nossas cidades. Dei estes exemplos até por se tratar de Câmaras de partidos diferentes – em Lagos a Câmara é do PS, em Silves é do PSD.

Esta atitude de desprezo nada tem a ver com partidos, com falta de verbas, com cortes orçamentais. Tem apenas a ver com ignorância e falta de preparação!

 

Nota: Este é o texto da minha crónica de quinta-feira na rádio RUA FM, no âmbito da rubrica «Tenho Dito», que pode ser ouvida de viva voz aqui

 

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