Grupo Sonae prevê investir «vários milhões» no turismo e imobiliário de Lagos

O Grupo Sonae vai investir «vários milhões» de euros em Lagos nos próximos cinco anos, sobretudo no setor imobiliário, segundo […]

O Grupo Sonae vai investir «vários milhões» de euros em Lagos nos próximos cinco anos, sobretudo no setor imobiliário, segundo o protocolo que esta quinta-feira foi assinado pelos presidentes da Câmara, Júlio Barroso, e do grupo, Belmiro de Azevedo.

Parte destes investimentos, que fontes ligadas ao processo dizem poder atingir os 150 a 200 milhões de euros, vai avançar já, mas a parte de leão – a conclusão das chamadas Torres Crotália, há 30 anos dois esqueletos de betão a desfear a zona da Ponta da Piedade – só avançará quando houver garantias de mercado, como revelou Belmiro de Azevedo.

As duas torres inacabadas, uma herança que o Grupo Sonae recebeu quando comprou a Torralta e que o autarca Júlio Barroso classificou como «um cancro», deverão dar lugar a um hotel de luxo de 150 quartos, como se pode ver na imagem principal que ilustra este artigo. Belmiro de Azevedo que o projeto da Troiaresort Investimentos Imobiliários SA para as torres passa por «baixar a altura [dos 20 pisos que se previam originalmente deverá ficar nos 10] e dar casaca nova ao exterior». Os edifícios serão unidos num só e terão «fachas a todos os níveis, inchando em largura e reduzindo a altura».

Mas o que vai a Troiaresort, empresa do Grupo Sonae, fazer das duas torres depende de «quem vão ser os nossos vizinhos», avisou Belmiro. «Vamos aguardar que tipo de projetos é que vão melhorar ou contaminar negativamente, ninguém sabe o que vai acontecer à volta».

O presidente da Câmara de Lagos viria depois a sossegar os receios de Belmiro de Azevedo, dizendo que a vizinhança das atuais Torres Crotália é constituída pelo Cascade, um dos «melhores resorts do mundo».

Quanto ao prazo daquele que será o maior investimento da Sonae em Lagos, e apesar de o protocolo ontem mesmo assinado entre a Câmara Municipal e o grupo empresarial estipular um prazo máximo de cinco anos para ele avançar, Belmiro foi avisando: «será cinco anos se houver condições de mercado. Se a evidência for: não há clientes, terá de se renegociar».

Como admitiria o presidente da Câmara Júlio Barroso, «o protocolo não é investimento imediato, é fixação dos parâmetros de desenvolvimento dos vários ativos do Grupo Sonae em Lagos». «Não estamos à espera que comecem já», admitiu o autarca.

Mas, de qualquer modo, parte dos investimentos avançará de imediato. O protocolo ontem assinado prevê a permuta do chamado «Terreno da Raquete», integrado no quarteirão ocupado pelo Hotel Aqualuz, que pertence ao Grupo Sonae. O terreno será usado para fechar o edifício deste hotel, protegendo a zona interior ao ar livre, onde se situa a piscina e jardins, do vento norte, e criar ainda estacionamento público, que será depois explorado pela autarquia.

Outro investimento que também avança já é a ampliação do atual hipermercado Continente no Cerro das Mós, uma ampliação que também ficou definida no protocolo e que passa sobretudo pela criação de mais estacionamento subterrâneo, passando alguns serviços atualmente situados em cave para a superfície.

A decisão de ampliar o hipermercado resulta também da desistência, por parte da Sonae, do projeto de criar uma outra loja, num edifício de quatro pisos também com habitação, no Terreno do Baluarte, junto às muralhas de Lagos, numa zona de grande congestionamento e difícil acesso.

O projeto da Sonae para esse edifício com loja e habitação, num total de quatro pisos numa zona sensível da cidade, foi chumbado pela Câmara de Lagos, até na sequência da contestação pública que se gerou, que envolveu um abaixo-assinado.

A Sonae, através da sua participada Imobiliária da Cacela SA, proprietária do terreno do Baluarte, recorreu desta decisão municipal para o Tribunal Administrativo e Fiscal de Loulé, mas o protocolo prevê agora que a empresa desista do processo judicial.

O terreno, situado numa zona central de Lagos, junto às muralhas e a um dos antigos baluartes, passará agora para o domínio municipal e nele será agora criado um parque de estacionamento ajardinado, para cujas obras a Sonae irá ainda contribuir com 120 mil euros.

Júlio Barroso adiantou que, embora ainda sem as obras estarem prontas, o terreno do Baluarte já irá funcionar como estacionamento no próximo verão. Será a «primeira demonstração do bom entendimento entre as partes», entre Câmara de Lagos e Grupo Sonae, uma vez que a escritura que formaliza a transferência de propriedade do terreno só será feita «dentro de alguns meses», acrescentou o autarca.

Barroso sublinhou que o protocolo assinado esta quinta-feira é «um acordo de entendimento entre duas entidades que, para terem sucesso, estão condenadas a dar-se bem».

O autarca considerou o protocolo e os investimentos que ele prevê «muito bom para Lagos». «Foi demorado, houve avanços e recuos, coisas a que dissemos que não, o Grupo Sonae recorreu aos tribunais, mas essa acção vai acabar», resumiu.

E o que espera Júlio Barroso deste documento que resume as intenções daquele que é um dos maiores grupos empresariais do país para o concelho de Lagos? «Desejamos que gere contaminação em todo o tecido económico. Sendo o grupo que é, certamente que chamará a atenção. Desejamos que sirva de exemplo, que os outros procurem saber se vale a pena ou não investir em Lagos». Numa conjuntura de profunda crise, em que o investimento, em especial no turismo e no imobiliário estão quase reduzidos a zero, o protocolo de intenções assinado com a Sonae pode ser um sinal de esperança.

Mas, tal como avisou Belmiro de Azevedo por várias vezes, a parte de leão do investimento só avançará «se houver condições de mercado» para tal. Júlio Barroso, que há anos anda nestas negociações com a Sonae, teme «que possa não haver investimento, mas já é muito bom que haja condições para o investimento».

De qualquer modo, sublinhou o autarca, ontem mesmo o Grupo Sonae entregou os projetos. «Sem projetos aprovados não há licenciamento e sem licenciamento não há investimento», disse.

«Ficaria mais feliz se me dissessem que vão começar amanhã, mas temos que ser realistas», admitiu Barroso.

Apesar das cautelas, Belmiro de Azevedo manifestou a sua confiança no futuro de Lagos, que diz conhecer desde 1962 ou 1963, e onde tem casa de férias.

De tal forma que o empresário se manifestou disposto a «ajudar Lagos a ser capital de qualquer coisa», talvez «implementar aqui uma escola de negócios» ou um «centro de empreendedorismo». Quem sabe se não mesmo uma sucursal da Porto Business School, como sugeriu de imediato Júlio Barroso.

Quanto à economia nacional e perante a pergunta dos jornalistas sobre se acredita na sua recuperação, Belmiro de Azevedo disse que não se trata de «atos de fé. Eu faço tudo o que posso para ajudar [o país] a sair da crise».

 

À margem

Torres Crotália – O projeto da Sonae para as antigas Torres Crotália, que Belmiro de Azevedo classificou como um «farol negativo» numa das zonas nobres do concelho de Lagos, passa pela construção de um restaurante no último piso do futuro edifício. Será um restaurante panorâmico, com vista desafogadíssima para a Baía de Lagos e que será aberto a todo o público e não apenas aos hóspedes do futuro hotel.

Emigrantes e viajantes – Belmiro de Azevedo, patrão máximo do Grupo Sonae, sublinhou que «as pessoas só podem trabalhar onde houver emprego». Por isso, se for preciso emigrar, então que se emigre. Mas o empresário sugeriu que, em vez da palavra «emigrante», a que se atribuiu um sentido «negativo», se utilize então a palavra «viajante».  «A palavra emigrante não tem nada de pejorativo, mas foi-lhe dado esse sentido», disse.

Fabricar para o mundo – Falando com os jornalistas sobre a situação do país, Belmiro de Azevedo afirmou: «se queremos ser país, temos que fabricar para o mundo». «Aí está uma excelente frase para rematar», concluiu.

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