Tudo isto são Outros Fados

Fados que não sabiam que o podiam ser, outros que sabem que o são, mas nos quais não se encontra […]

Fados que não sabiam que o podiam ser, outros que sabem que o são, mas nos quais não se encontra nem uma pequena ponta da esperada tristeza e até alguns que nem cantados são. A estes, basta juntar histórias bem antigas e, lá está, tristes. O novo espetáculo do Al-Masrah Teatro «Conta-me Outros Fados» vai estrear amanhã, quarta-feira, no Centro de Artes de Tavira, às 21h30.

Nesta produção da companhia de teatro tavirense, em parceria com a Tavira Ilimitada, o fado canta-se, dança-se, conta-se e até se declama, quase sem ideias pré-definidas, nem mesmo a exclusividade de utilização língua portuguesa. O silêncio da parte de quem assiste continua a ser imperativo para se dar asas tanto ao fado, como a todos os outros géneros que estarão em palco.

Mais do que um espetáculo sobre o fado, este pretende ser um exercício de inclusão e celebração da multiculturalidade. Além da cultura dos países lusófonos e das referências culturais comuns, também se fala da matriz árabe que deu origem a estas expressões artísticas e que é também encontrada na música espanhola e nas manifestações artísticas dos países hispânicos.

A produção parte de uma ideia original de Tela Leão, coordenadora da plataforma contra o racismo e xenofobia Tavira Ilimitada, desenvolvida em conjunto com o diretor do Al-Masrah Pedro Ramos. O ator algarvio é também o anfitrião, nesta peça intimista, e é acompanhado em palco pela bailarina Adriana Castro, pela fadista Catarina Viegas e pelo guitarrista Hélder Viegas.

«Estas pessoas que hoje aqui estão conheceram-se porque participaram em diferentes projetos do Tavira Ilimitada. Esta plataforma acabou por servir para que as pessoas daqui se começassem a conhecer, ouvir e ver umas às ouras», explicou Tela Leão.

«Acabámos por criar um projeto multicultural, não só pelas diferentes nacionalidades dos que nele participam, mas que também trabalha uma matéria multicultural. Tentámos, a partir do fado, perceber o que esta palavra significa na língua portuguesa e como ele está por baixo da expressão do sentimento de vários povos», acrescentou. «No fundo, nós somos muito parecidos», considerou.

«Nós juntámos um ator, uma bailarina, uma cantora e uma guitarrista e tentámos fazer um espetáculo que não falasse apenas do fado português, mas também jogando com as semelhanças que o fado tem com outros estilos musicais, como o flamenco, o tango, o samba e a morna. No fundo, é tudo muito parecido», disse Pedro Ramos.

Em palco, os quatro intérpretes jogam um jogo com o público, através da fusão de diferentes artes. E nem sempre é a bailarina que dança, nem a fadista que canta. A peça do Al-Masrah é marcada pelo dinamismo e pela mudança rápida entre estilos, sem perder a coerência.

«Embora as pessoas possam pensar que fado é sempre algo muito pesado, nós pensámos começar com uma parte mais séria e ir desanuviando a pouco e pouco, terminando no cómico e chegando à loucura, no número final. Tentámos mostrar a maior diversidade possível dentro do conceito», disse o co-diretor do espetáculo.

Além de apresentar em palco diferentes géneros musicais, é feita uma pequena introdução histórica para explicar cada um deles. «Foi muito interessante para mim conhecer muitas coisas que não sabia sobre estes géneros musicais», confessou Pedro Ramos.

Depois da estreia, amanhã, a peça poderá ser vista no Centro de Artes de Tavira até dia dia 20 de maio e de 23 a 27 de maio. Já agendada está a ida à Conceição de Tavira a 2 de junho e a Serpa, ao Festival Noites na Nora, a 18 de junho.

As apresentações no CAT serão para uma pequena plateia, daí que seja aconselhável fazer reserva através do número 96 777 91 22 ou do email [email protected]. Além dos interpretes, esta peça conta com Pedro Nascimento, na produção, com Valter Alves, na Luz e Som, com Bruno Guerra, como figurinista, e com Maria Luísa Fernandes, na confeção.

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