Portinado volta a ter de discutir título nacional a 450 quilómetros do Algarve

«Este deve ser o preço que a equipa campeã nacional de polo aquático tem que pagar pela sua “teimosia” em […]

«Este deve ser o preço que a equipa campeã nacional de polo aquático tem que pagar pela sua “teimosia” em persistir em ser líder da modalidade em Portugal, sem que disponha das condições  similares aos dos seus adversários de competição». O desabafo é da direção da Portinado, a equipa com sede em Portimão, que está a um jogo de voltar a sagrar-se, pela terceira vez consecutiva, campeã nacional da 1ª Divisão Nacional de Polo Aquático.

Só que o jogo final, decisivo, frente ao Salgueiros, em vez de ser disputado no Algarve, terá de o ser em Rio Maior, a cerca de 450 quilómetros de Portimão.

Ou seja, como já acontecera na época passada, a Portinado volta este ano a não dispor no Algarve das condições necessárias para realizar os dois jogos do Play-Off final do Campeonato Nacional.

A equipa até já tinha anunciado que esses dois jogos seriam disputados em Loulé, mas, como esta piscina não dispõe de aquecimento da água, teve de ser encontrada outra solução.

«Apesar da pronta disponibilidade das autarquias de Loulé e Faro em cederem as suas instalações desportivas para a realização dos dois jogos do próximo fim de semana, as atuais condições climatéricas não permitem garantir que a temperatura da água das duas piscinas possa estar a 24º (temperatura exigida pelo regulamento), para que seja possível realizar os referidos encontros», explica a Portinado.

E assim, para que o título nacional não tenha que ser discutido na secretaria, caso não estivessem reunidas as condições para a realização dos jogos no Algarve, a Portinado vê-se obrigada a ter que recorrer ao aluguer da piscina olímpica de Rio Maior.

Ora isso, como salientou em declarações ao Sul Informação o presidente do clube José Marques, «custa 500 euros por jogo, mais as deslocações e o alojamento, o que é muito difícil de suportar no período de grandes dificuldades financeiras que o clube atravessa».

Mas, mais importante, sublinhou José Marques, é que «a esta distância do Algarve, muito dificilmente vamos ter uma boa moldura humana de adeptos a apoiar-nos. Por muito boa vontade que os nossos adeptos tenham, jogarmos a mais de 400 quilómetros de casa torna muito difícil a deslocação do nosso público».

«Lá vamos mais uma vez jogar em casa, mas a 400 quilómetros…», lamentou o presidente da Portinado.

 

Dificuldades e mais dificuldades

 

José Marques salientou ainda que «apesar de todo o trabalho que a Portinado tem vindo a desenvolver em prol da modalidade, não se tem traduzido em qualquer modificação para melhor das condições de treino e de apoio aos jogadores. Continuamos a ter apenas ao nosso dispor a velha piscina municipal de Portimão».

Mas não é só no Polo Aquático – onde dispõe de equipas em todos os escalões, a começar nos de formação – que há dificuldades, apesar dos sucessivos títulos nacionais ganhos.

«Na natação, além do Alexandre Agostinho, que está prestes a qualificar-se para os Jogos Olímpicos de Londres, temos também o Miguel Nascimento, que já ganhou várias provas nacionais e ainda recentemente alcançou uma medalha de bronze num Meeting internacional no Chipre. Mas somos os únicos do país – se não mesmo da Europa – em que temos atletas a competir a este nível que se vêem obrigados a nadar numa piscina de 25 metros», acrescentou.

«De vez em quando, fazemos treinos na piscina de Quarteira, que tem pistas de 50 metros, mas isso significa custos acrescidos, na utilização da piscina e nas deslocações», explicou ainda José Marques.

Ao todo, entre polo aquático e natação, a Portinado movimenta mais de 250 atletas, de várias idades e escalões. É um trabalho de formação que o presidente do clube considera ser «muito importante». «Ao longo dos anos de existência da Portinado, já passaram pelo clube centenas e centenas de jovens, que se formaram aqui fisicamente e não só. Aliás, temos muito orgulho em dizer que a maior parte dos nossos atletas são também bons alunos».

 

Única equipa masculina campeã nacional no Algarve

 

No polo aquático, a Portinado está a um jogo de se sagrar, pelo terceiro ano consecutivo, campeã nacional da modalidade, na sua 1ª Divisão sénior.

Mas chegar aqui é sempre um «esforço enorme, dos atletas e dos técnicos». É que os atletas, seniores, muitos deles já a trabalhar e com família, têm que treinar todos os dias à noite, das 21h00 às 23h00. Aos fins de semana, espera-os quase sempre longas viagens, já que, além da Portinado, no Algarve, e do Sporting e Amadora, na zona de Lisboa, todas as restantes equipas a disputar o nacional de Polo Aquático são do Norte.

A Portinado, a par do andebol feminino do Gil Eanes, é o único clube que conseguiu até hoje trazer para o Algarve títulos nacionais da 1ª divisão. Mas nem isso muda a atitude dos poderes públicos e dos privados em relação ao clube.

«Infelizmente, as atenções estão sempre viradas para o futebol». E ainda na época passada a Câmara de Portimão gastou milhões na reconstrução do Estádio do Portimonense, quando o clube subiu à Primeira Liga. E que logo depois desceu de novo à II Liga, onde agora luta para se manter.

«Nós estamos prestes a sagrar-nos campeões nacionais pela terceira vez consecutiva, mas nem uma piscina em condições temos, apesar dos projetos e das intenções anunciadas nos últimos anos. Além do nosso palmarés, garanto que fazemos muito mais formação da juventude que o Portimonense. Mas as atenções estão sempre viradas para o futebol…», lamenta José Marques.

Com todas as dificuldades, e já depois de a Portinado ter cortado ao máximo as suas despesas, nomeadamente «baixando os salários de técnicos e colaboradores, que já de si eram baixos», a direção do clube de Portimão não sabe se poderá continuar.

«Teremos de fazer, no final desta época, uma reflexão muito séria sobre a situação, no sentido de decidir se valerá a pena todo o esforço realizado e se existem condições para manter em atividade uma equipa que tem garantido tanto prestígio à cidade e à região».

Entretanto, no próximo fim de semana, os jogos do play-off final estão marcados para as 18h30 de sábado e, se necessário, para as 15h30 de domingo, na Piscina Olímpica de Rio Maior, no centro do país.

A Portinado apela aos seus adeptos para «juntarem esforços, no sentido de termos em Rio Maior uma boa moldura humana de apoio aos nossos jogadores».

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