Parecer ou Ser: A escolha do caminho sustentável

Nos anos 90 e no auge dos cursos de Ciências da Comunicação, estudámos que a era do “ter” dava então […]

Nos anos 90 e no auge dos cursos de Ciências da Comunicação, estudámos que a era do “ter” dava então lugar à era do “parecer”.

Aprendíamos que (a)parecer era então mais importante que o próprio ter e desenvolviam-se estudos e estratégias com base nesta viragem.

Acompanhava-se uma sociedade que entrava numa inversão de valores que culmina na forma como vivemos nos dias de hoje. Criando imagens, trabalhando para (a)parecer e atribuindo-se títulos que ninguém questiona.

As novas gerações passaram a sair das universidades com maiores títulos mas menor vocação, porque passou a imperar um objetivo: obtenção de grau académico não importa em quê!

Os bacharelatos desprestigiaram-se e banalizaram-se os graus de mestrado e doutoramento. E ganhámos doutores e engenheiros que pelo grau “parecem” mas pela vocação “não são”.

E se a vertente do Turismo de Natureza começou a ser trabalhada em Portugal por pioneiros capazes de apostar, lutar e evoluir contra as dificuldades de um sistema que pouco investia nesta área do turismo, hoje temos de garantir que este nicho de turismo continue a ser trabalhado por profissionais realmente vocacionados para tal.

Facilitou-se a legalização mas está a falhar-se no que é fundamental: verificação de competências, exigência de requisitos mínimos para garante de qualidade no exercício das atividades (como seja curso básico de socorrismo), elaboração de planos de formação adequados, seja formação superior ou profissionalizante, estratégias de apoio e promoção por parte das entidades de turismo, elaboradas com base num conhecimento da realidade deste tipo de empresas.

As entidades competentes deverão, na altura de licenciar e/ou certificar, garantir que há: práticas da gestão de risco, criação de planos de qualidade interna e formação contínua; conhecimentos específicos acerca de cada Parque Natural onde se queira trabalhar, sobretudo as suas características, fragilidades e riscos, e verdadeiras práticas de sustentabilidade.

Atribuem-se certificações “green” e selos de qualidade (vendidos por entidades privadas que disto fazem um negócio), mas não se verificam práticas. Na importância repentina que se está a dar a este nicho de mercado, não podemos cair no erro de arranjar respostas rápidas em detrimento daquilo que é importante e que é a organização desta área a nível de formação, qualidade de oferta e atitudes sustentáveis.

A falharmos isto, cairemos na ilusão das aparências e estaremos a trabalhar em terreno instável e autodestrutivo.

Urge pensar-se numa política séria para o desenvolvimento deste turismo de nicho, garantindo que todas as partes intervenientes sabem acerca do que dizem querer fazer. Porque do dizer ao fazer corremos o risco de nos ficarmos pelo parecer.

 

Autora: Ana Carla Cabrita é licenciada em Comunicação Empresarial, com especialização em Comunicação Interna pela Escola Superior de Comunicação Social. Está neste momento a fazer uma pós-graduação em “Turismo Ativo no Meio Natural” na Universidade Pablo de Olavide, em Sevilha. Proprietária e guia na empresa Walkin’Sagres.

Ana Carla Cabrita inicia hoje a sua colaboração regular no Sul Informação, enquanto colunista na área do Turismo Sustentável.

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