BBags, ou como criar design a partir de velas antigas e outro material reciclado

Tudo começou com um veleiro com muito carisma e uma queda para a vitória. Na embarcação «Blaus», criou-se a semente […]

Tudo começou com um veleiro com muito carisma e uma queda para a vitória. Na embarcação «Blaus», criou-se a semente do que viria a ser a empresa com o mesmo nome, anos mais tarde, que se dedica à criação de velas e outro material náutico. E da vontade de aproveitar ao máximo os recursos, nasceu a marca de sacos e outros produtos bem originais «BBags», criados a partir de materiais improváveis e que até já está ao serviço do turismo algarvio.

Reutilizar e reciclar são os dois princípios base deste nova marca algarvia, que lançou recentemente uma coleção encomendada pela Entidade Regional de Turismo do Algarve, já disponível em cinco Postos de Turismo algarvios, nomeadamente em Faro, Tavira, Albufeira, Silves e Lagos.

Nesta empresa familiar algarvia, a guerra ao desperdício é levada bem a sério e a mão-de-obra não é exceção. O negócio que a BBags trouxe permitiu completar o horário da costureira que já trabalhava na empresa Blaus (que dá o B a BBags) e até já leva os empresários algarvios a ponderar seriamente contratar mais uma profissional desta área.

Numa região e num negócio que são afetados pela sazonalidade, a introdução de novos produtos foi a forma encontrada para rentabilizar ao máximo a empresa. A história é contada por Tânia Alcaravela, criadora da BBags, que explicou ao Sul Informação o que levou uma empresa de material náutico a enveredar pelo mundo da moda, em versão Ecodesign, ou seja, amigo do ambiente.

«Este é um produto que surge integrado na empresa Blaus, que é uma velaria. Ou seja, faz tudo o que tem a ver com a parte têxtil dos barcos, como as velas, capas e estofos. E começaram a surgir excedentes e sobras», explicou Tânia Alcaravela.

Em vez de os deitar fora, os responsáveis pela Blaus – a empresária tem como sócios o seu marido Luís Raposo Veríssimo e o irmão Carlos Alcaravela – decidiram dar-lhes uso. «Começámos por fazer coisas como o saco para a capa e fomos evoluindo, até que nos fizeram chegar às mãos uma lona publicitária, para fazermos sacos. E nós olhámos à volta e pensámos que não era nada má ideia avançarmos por aqui», contou.

Para uma velaria, «o Inverno é longo» e «havia a necessidade de completar o horário da costureira que tínhamos contratado». «A bola de neve começou a rolar muito rapidamente e, de repente, recebemos uma encomenda de mil e quinhentas peças para o Turismo do Algarve», recordou a empresária.

Hoje, a dor de cabeça não é arranjar trabalho para a costureira que trabalha na empresa, mas sim pensar numa forma de lhe dar uma ajuda, pois já não tem mãos a medir, confessou, a rir, Tânia Alcaravela. «Não podemos parar a velaria, isso é impensável. Mas temos, neste momento, um volume de trabalho tal com a BBags, que está a começar a estrangular um pouco a Blaus», disse.

 

BBags trabalha para si e para os outros

 

Apesar de ser relativamente recente, a BBags já conta com uma linha própria, já desenvolveu uma linha para o Turismo do Algarve e está agora a desenvolver uma coleção para uma cadeia de lojas algarvia. Tudo isto com materiais reaproveitáveis, como faixas e lonas publicitárias, brochuras e todo o tipo de papel, que também é usado nas malas e sacos.

«Nós, além da lona, também trabalhamos com papel. Utilizamos uma mica para o proteger. A nossa ideia é utilizar o mínimo de material que não seja reaproveitado», explicou. Tânia Alcaravela faz questão de frisar que «todas as peças são únicas» e feitas artesanalmente.

«Nós temos duas vertentes. Temos a linha BBags, que vendemos diretamente ao público em três lojas no Algarve. Também estamos a desenvolver o nosso site. Além disso, fazemos encomendas para clientes, que nos cedem o seu próprio material», disse.

Tânia Alcaravela tem sido, até agora, responsável por imaginar e fazer os cortes de material, para fazer os produtos que a BBags cria. «Eu venho da área de marketing e publicidade e sempre trabalhei em agências como “accounting”. Já na altura gostava de acompanhar de perto o trabalho dos meus colegas criativos», confessou.

A nova coleção da BBags já está em desenvolvimento, em parceria com uma designer e contará com novos produtos, alguns deles bem inesperados, mas que a empresária prefere não revelar, para já.

Esta não é uma ideia inédita, mas é «inovadora no Algarve, onde somos os únicos a fazê-lo». Em Lisboa, há uma empresa que se dedica a reciclar lonas e faixas publicitárias, que até já fez uma coleção para o Teatro das Figuras. No caso da BBags, não há grandes limitações ao nível do material utilizado, desde que seja reutilizado ou, caso isso não seja possível, natural.

 

«Blaus» era nome de embarcação, antes de ser empresa

 

De velejadores nasceram veleiros, não os barcos, mas os que se dedicam a fazer velas. Carlos, Luís e Tânia começaram ligados ao mundo da náutica, na vertente desportiva, mas hoje estão do lado dos que possibilitam, do ponto de vista logístico, a prática da vela.

«Há alguns anos, adquirimos um veleiro, que era um protótipo que ganhava regatas. Ganhou o campeonato nacional e regional. Nós trabalhámos a equipa Blaus de forma muita ativa e intensa, até bastante profissional. Foi um projeto a sério, que criou vida própria: era o espírito Blaus, a equipa Blaus. E quando surgiu a hipótese de criar a velaria, era o único nome possível», contou Tânia Alcaravela.

Hoje, «Blaus», no Algarve, só existe mesmo a velaria, com sede em Benfarras, concelho de Loulé, já que o veleiro chegou ao fim do seu ciclo de «regateiro puro e duro», onde não faltaram vários momentos de glória. «Tivemos de o vender, não se justificava a manutenção necessária. O Blaus já tinha mais de 30 anos! Voltou para o ponto de origem, Barcelona».

 

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