Rui Vieira Nery dá voz ao Festival Terras Sem Sombra

O Festival Terras sem Sombra vai aliar, em Beja, a voz e o canto a um novo elemento: o verbo. […]

O Festival Terras sem Sombra vai aliar, em Beja, a voz e o canto a um novo elemento: o verbo. Os três serão apresentados por Rui Vieira Nery, da Universidade de Évora, numa conferência que terá lugar no sábado, dia 21 de abril, às 17h00, na igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja.

Tomando por mote o título desta 8.ª edição do festival, uma célebre frase de Santo Agostinho (nas “Confissões”), “Cum liquida voce et convenientissima modulatione” – “Com Voz Suave e Bem Modulada”, as palavras do responsável pela vitoriosa candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade servem como cartão-de-visita para a temática da voz na história da música, fio condutor do Terras Sem Sombra 2012.

Desde a sua origem, em 2003, que o Festival Terras sem Sombra, promovido pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, oferece a quem o acompanha uma espécie de “pequena História da Música”, em que cada edição constitui um capítulo coerente.

O ano de 2012 é consagrado a um tema de referência, ao nível internacional: a projeção da voz humana na música.

Para o explanar de maneira sugestiva e envolvente, o diretor artístico da iniciativa, Paolo Pinamonti, desenhou, em 2012, uma trajetória que se estende da polifonia do Renascimento até a obras-primas da vanguarda contemporânea, mas sempre numa linha nítida, capaz de entusiasmar um público alargado.

 

Rui Vieira Nery está associado ao Terras sem Sombra desde a sua génese, que apoia com entusiasmo, pertencendo ao Conselho de Curadores e participando assiduamente nas conferências temáticas. A sensibilidade do festival para a preservação do património cultural e natural encontrou uma energia redobrada neste investigador, igualmente muito conhecido pelos excelentes dotes de comunicador e divulgador.

Figura de relevo da musicologia portuguesa, colaborador, desde há longos anos, da Fundação Calouste Gulbenkian, onde foi diretor-adjunto do Serviço de Música, esteve ligado, numa fase inicial, ao processo de candidatura do Cante Alentejano à UNESCO, mas acabou por sair.

Exercendo atividade intensa como conferencista, quer no plano nacional, quer em vários países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil, Rui Vieira Nery ensinou de 1985 a 2000 no Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa. Atualmente é professor associado do Departamento de Artes da Universidade de Évora.

Autor de obras de referência sobre a História da Música Portuguesa, bem como de um largo número de artigos científicos publicados em revistas e obras coletivas especializadas, tanto portuguesas como internacionais, recebeu em duas ocasiões o Prémio de Ensaísmo Musical do Conselho Português da Música.

Entre Outubro de 1995 e Outubro de 1997 desempenhou as funções de Secretário de Estado da Cultura no XIII Governo Constitucional. Em 2002 foi condecorado pelo Presidente da República Jorge Sampaio, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados ao estudo e divulgação da cultura portuguesa.

Um dos setores mais relevantes do património vocal português, o Cante, de nítidas ressonâncias litúrgicas e devocionais, nasceu à sombra da tradição religiosa, mas ganhou uma autonomia muito grande, sem nunca perder as suas profundas componentes espirituais, ocupando lugar de destaque no panorama das músicas do mundo.

Este será, de resto, um dos aspetos que Rui Vieira Nery, profundo conhecedor da dinâmica das candidaturas ao título de Património da Humanidade, irá focar na sua conferência.

Os responsáveis pelo Terras sem Sombra, festival que retira o nome, precisamente, de uma célebre “moda” (canção popular) alentejana, têm sido ouvidos pelos peritos da UNESCO, tal como o Departamento do Património da Diocese de Beja, no contexto do atual esforço de valorização do Cante.

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