Morreu Miguel Portas

O eurodeputado Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, do qual foi fundador, morreu hoje, na véspera do 38º aniversário da […]

O eurodeputado Miguel Portas, do Bloco de Esquerda, do qual foi fundador, morreu hoje, na véspera do 38º aniversário da Revolução do 25 de Abril.

Miguel Portas faleceu esta quarta-feira, por volta das 18h00, vítima de cancro no pulmão, no Hospital ZNA Middelheim, em Antuérpia (Bélgica), onde estava internado desde há duas semanas. Tinha 53 anos.

Miguel Portas começou a sua atividade em organizações associativas nos tempos finais da ditadura, ainda adolescente, tendo mesmo sido preso aos 15 anos, quando era ativista do MAEESL (Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa).

Sob o ponto de vista político, Miguel Portar esteve primeiro ligado à União dos Estudantes Comunistas (UEC), de que foi dirigente, tendo depois militado no PCP, até 1989, data em que saiu do partido.

Nos anos seguintes, foi assessor para as questões culturais e urbanísticas do então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Jorge Sampaio.

Enquanto jornalista, foi diretor da revista Contraste (1986) e, mais tarde, dos semanários Já (1995), do qual foi fundador, e da Vida Mundial (1998-1999). Foi também jornalista do Expresso e editor internacional da sua revista até 1994. Fez ainda alguns programas para a RTP, de que se destacam as séries documentais “Mar das Índias” (2000) e “Périplo” (2004).

Era colaborador da Antena1 desde 2010, onde, às sextas-feiras de manhã, era responsável por uma das crónicas da rubrica «Conselho Superior». A sua última participação deu-se no dia 30 de março.

Depois de sair do PCP, Miguel Portas animou a Plataforma de Esquerda e, a partir de 1994, o grupo Política XXI. Este coligou-se ainda com o PSR numa campanha para as eleições municipais em Lisboa.

Foi desta coligação, com o contributo da UDP, que acabou por nascer, em 1999, o Bloco de Esquerda.

Miguel Portas encabeçou por três vezes a lista do BE para o Parlamento Europeu, sendo eleito eurodeputado em 2004 e reeleito em 2009.

Em 2001, encabeçou ainda a lista do Bloco concorrente à Câmara de Lisboa.

No Parlamento Europeu, Miguel Portas participava na Comissão de Orçamento e era vice-presidente da Comissão Especial do Parlamento Europeu para a Crise Financeira, Económica e Social. Várias vezes participou em missões do PE a zonas de conflito, em especial no Médio Oriente.

Ativista até ao fim, um dos seus últimos posts no Facebook, na quinta-feira, 19 de abril, é sobre o cerco policial à antiga escola básica da Pontinha, no Porto: “A Es.col.A da Fontinha, que tem um trabalho mais do que meritório com a população do bairro, está a ser despejada à bruta por uma cruzada de políticos idiotas. Que todas as boas vontades se juntem contra a estupidez. Já”.

O Expresso recorda, na sua edição online, que Miguel Portas desde o verão de 2010 que sabia ter um cancro no pulmão. O que, assegurava, não lhe trouxe grandes mudanças, apenas uma consciência mais aguda da “precaridade da vida”. O seu objetivo de vida, “modestíssimo”, continuava a ser o mesmo de antes da doença:  “Quero poder olhar para trás e dizer: terei feito algumas asneiras, mas no conjunto posso partir, lá para onde for, com tranquilidade”.

Miguel Portas era irmão de Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente do CDS-PP, e da empresária Catarina Portas, e filho do arquiteto Nuno Portas e da escritora e economista Helena Sacadura Cabral.

Reacções:

Francisco Louçã: «Viveu a vida intensamente e com gosto. Foi dirigente do Bloco e eurodeputado até ao último momento. Incentivou-nos da cama do hospital. Combinou a sua viagem que faltava, à Birmânia, e que nunca fará. Despediu-se dos filhos».

Vital Moreira: «Quaisquer que sejam as diferenças de opinião, Miguel Portas era um empenhado e dedicado eurodeputado, eu penso que o Parlamento Europeu perde com o seu desaparecimento» (em nome da delegação socialista portuguesa no PE)

Grupo Parlamentar do PS: “O Grupo Parlamentar do PS, ao tomar conhecimento do falecimento do eurodeputado Miguel Portas, manifesta as suas sentidas condolências à família, bem como ao Bloco de Esquerda, força política que representou nos últimos anos da sua vida”.

Bloco de Esquerda: Miguel Portas “encarou a sua própria doença como fazia sempre tudo, da política ao jornalismo: de frente e sem rodeios”. “Teve uma vida intensa e viveu-a intensamente. Durante toda a sua doença continuou sempre a cumprir as suas responsabilidades e estava, neste preciso momento, a preparar o relatório do Parlamento Europeu sobre as contas do BCE”.

Francisco José Viegas (SEC): Manifestou-se «chocado e muito triste, o Miguel era uma figura fundamental para o debate de ideias em Portugal. Era uma pessoa que sabia debater e sabia ver onde estavam as diferenças e as pontes».

Mário Soares: «Estou estupefacto e muito comovido. Tenho uma grande simpatia e apreço por ele. Isto comove-me imenso». «Era um eurodeputado muito capaz e um homem muito inteligente. Evidentemente algumas vezes estive em discordância com ele».

Jorge Sampaio: «Conheço-o desde que era um jovem de muitos poucos anos. Apreciei-lhe a tenacidade, a coerência, a busca sempre de melhor para os princípios que sempre foram abertos e de grande dignidade cívica e política. Foi muito importante na minha candidatura à Câmara de Lisboa em 1989. (…) Ninguém se lembrará disto, mas foi ele o grande propulsor da vinda dos Rolling Stones pela primeira vez a Portugal, e o que isso significou do começo de um conjunto de atividades culturais. (…) Criador de jornais, um dos criadores dos movimentos que desembocaram no Bloco de Esquerda, a tenacidade com que escrevia, e a tenacidade com que, como deputado europeu, defendeu os seus pontos de vista, de uma forma sempre culta, sempre trabalhosa. Era um homem de grande dignidade pessoal».

 

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