Rx e TAC revelaram os segredos do «Vaso de Tavira»

No Núcleo Islâmico do Museu Municipal tavirense, os visitantes podem percorrer as “entranhas” do «Vaso de Tavira» e descobrir todos […]

No Núcleo Islâmico do Museu Municipal tavirense, os visitantes podem percorrer as “entranhas” do «Vaso de Tavira» e descobrir todos os seus segredos. É que, por volta de 2007, e culminando outros trabalhos que já vinha fazendo com o casal Maia, o médico radiologista Jorge Justo Pereira analisou a delicada peça recorrendo à Tomografia Axial Computadorizada (TAC), uma técnica não invasiva que permitiu descobrir alguns segredos e pormenores curiosos desta magnífica peça.

O TAC confirmou, por exemplo, que todas as peças são ocas e têm no seu interior minúsculos canais que deixam passar a água, uma brincadeira que ainda hoje pode ser encontrada em cantis da olaria tradicional portuguesa. No vaso, a água deitada na torre saía depois pela boca dos animais.

«Há mil anos que todas estas figuras têm um buraquinho para comunicar através da água», recordou o radiologista Jorge Justo Pereira na inauguração. Mas o TAC também permitiu ver as diversas fases de manufactura das peças e descobrir que uma das figuras, o camelo, «tem um erro que o artesão tapou. Mil anos depois, com estas técnicas não invasivas, pôde descobrir-se isso», acrescentou.

Em entrevista ao Sul Informação, o médico radiologista de Tavira salientou que «este é um estudo dos vários que temos feito aqui, usando técnicas radiológicas e de tomografia computadorizada», analisando peças de cerâmica, madeira, marfim.

Esta colaboração com os arqueólogos Manuel e Maria Maia, revelou, «surgiu de um gosto pessoal meu pela arqueologia e pela radiologia. Inicialmente, não sabíamos qual seria o aspeto de uma peça cerâmica numa radiografia ou num TAC. Começámos com peças mais pequenas e depois chegámos a esta».

Segundo Jorge Justo Pereira, «estas técnicas permitem estudar um pouco mais, ganhar um pouco mais de informação». Mas o objetivo era também, de alguma forma «pedagógico e de captação das gerações mais jovens para a arqueologia», através da colocação de um «suporte informático», «um vídeo» feito a partir do TAC, ao lado do «Vaso de Tavira», no novo Núcleo Museológico.

Além da análise desta peça, o médico radiologista já fez, em Tavira, o estudo de outras peças cerâmicas, mas também de artefactos de metal, estatuária, tudo «com resultados muito engraçados».

Tendo em conta que em Portugal não há, nem sequer nos grandes centros, «muitos radiologistas que tenham este gosto pela arqueologia» e que façam estes estudos pro bono, ou seja, sem cobrar nada, até de Lisboa, do Museu Nacional de Arqueologia, Jorge Justo Pereira já recebeu peças para analisar.

E o médico radiologista sublinha o aspeto inédto destes estudos: «não foi preciso ir aos grandes centros, nem ao estrangeiro para fazer um trabalho que, não sendo inédito, é de grande validade». É que, salientou na sua entrevista ao Sul Informação, estas técnicas «são já muito usadas em múmias, por exemplo, mas pouco nos artefactos, em cerâmica e estatuária», por exemplo.

Justo Pereira recorda também o trabalho que fez de análise de uma imagem medieval de Santa Ana, «a peça de estatuária mais antiga existente em Tavira», em madeira. «Foi publicado um trabalho sobre este estudo, em colaboração com os serviços da Câmara, com o Dr. Daniel Santana, na revista de história de arte “Artis”, num trabalho que se revelou de muito interesse».

Este tipo de trabalhos representa «a junção de dois saberes que estão geralmente muito desligados, mas que assim podem ser conjugados num trabalho excecional».

E o médico radiologista Jorge Justo Pereira tem um sonho: «fazer de Tavira um centro de estudo e análise sobre o património local e algarvio, através da criação de um gabinete técnico de apoio ao restauro e à arqueologia». Com a sua colaboração entusiasta esse centro que ainda é apenas sonhado já conta!

 

 

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