Olhão quer fazer muito na área da Cultura com pouco dinheiro

Aumentar o número de espetadores, promover o mesmo número de eventos, apostar nos artistas locais, regionais e nacionais, manter a […]

Aumentar o número de espetadores, promover o mesmo número de eventos, apostar nos artistas locais, regionais e nacionais, manter a qualidade, tudo isto com menos dinheiro: estas são, em traços largos, as principais linhas da programação do Auditório Municipal de Olhão para o corrente ano de 2012.

«A nossa política cultural tem como princípio pôr as pessoas a fazer cultura, a participar na cultura. Ou seja, não podemos investir os milhões que não há, mas investimos na produção local», explicou António Pina, vice-presidente da Câmara de Olhão, na sexta-feira à noite, durante a apresentação da programação, no resort Vila Monte, nos arredores de Moncarapacho.

Este ano, a autarquia olhanense vai investir 50 mil euros nos eventos a promover no Auditório Municipal – três por mês. Um montante que é, recordou António Pina, «um terço do que investimos no primeiro ano de funcionamento do Auditório, em 2010. Mas já em 2011 tínhamos feito uma redução de 40% em relação ao ano anterior e, mesmo assim, conseguimos aumentar os espetadores para 13 mil», um número que o autarca diz que poucos espaços na região se podem orgulhar de atingir.

«No ano passado, arriscámos e promovemos uma programação baseada em três princípios: eclética, ou seja, para todos os gostos e em todas as áreas, de baixo custo e virada para os valores locais e regionais. Foi uma aposta ganha, como o provam os 13 mil espetadores alcançados». Por isso, em 2012, com menos dinheiro, a aposta continua a ser semelhante.

Mas os objetivos até são mais ambiciosos. «Lançámos um desafio a quem programa: conseguir chegar aos 15 mil espetadores, manter o mesmo número de eventos (33), manter a mesma qualidade e reduzir um terço do investimento», esclareceu António Pina, para admitir que se trata de «um desafio difícil, mas com objetivos claros».

Este ano há ainda uma novidade: a procura de patrocínios de mecenas que permitam não só organizar os espetáculos, como promover a sua divulgação de forma mais eficiente. Isso vê-se desde logo na brochura que contém a programação anual do Auditório Municipal de Olhão, e que foi distribuída na conferência de imprensa de sexta-feira passada: a sua produção contou com os patrocínios do Vila Monte (onde teve lugar a apresentação e o jantar que se seguiu), da Conserveira do Sul, através da sua marca Manná Gourmet, Hospital Particular do Algarve, Margarido Joalheiros e BMW/Caetano Baviera.

Além disso, como fez questão de salientar o vice-presidente da Câmara, uma outra marca automóvel associou-se a um festival que vai ser organizado pela primeira vez, o Audi Jazz and Soul Olhão, que decorre em março e termina no dia 24 com um concerto de Aurea, a fechar a iniciativa, mas também a assinalar o 3º aniversário do Auditório Municipal.

«O festival é promovido por uma produtora local, que é a Grace, e conta com o apoio, enquanto mecenas, da Audi, o que permite trazer a Olhão nomes sonantes na área do jazz e da soul», explicou António Pina.

Com todos estes ingredientes e objetivos, o programa do Auditório Municipal de Olhão é, então, ecléctico, de baixo custo e apostando nos valores locais e regionais. Teatro, para adultos e crianças, dança, música clássica, jazz e soul, fado, flamenco, tango, cinema, exposições de fotografia e escultura compõem a programação.

Pelo palco de Olhão irão passar nomes tão diversos como Rão Kyao, o pianista António Rosado, José Cid, Teatro O Bando, ACTA, Miguel Guilherme e Bruno Nogueira, Aurea, José Cid, Orquestra do Algarve, Miguel Gameiro, entre muitos outros. Todos os meses haverá um espetáculo infantil, já que, também no que diz respeito à criação de públicos, é de pequenino que se torce o pepino.

E todos os eventos serão pagos – à exceção das exposições de fotografia e escultura, que estão patentes no átrio do Auditório: os espetáculos para crianças custam 2,5 euros e os para adultos entre 5 e 10 euros.

«Tudo isto também só foi possível porque, cada vez mais, os artistas aceitam partilhar o risco e, em vez de lhes pagarmos um cachê, eles vêm à bilheteira», sujeitos aos humores do público. Mas, como se trata de nomes bem conhecidos, também esse é um risco calculado.

Este ano, com o fim anunciado do Programa «Allgarve», deverá haver bem menos dinheiro para a animação da região algarvia, uma situação que o vice-presidente da Câmara de Olhão considera ser «um erro». «Erradamente deixa de apostar-se no binómio turismo/cultura quando mais precisávamos desse investimento. O facto é que as empresas ligadas aos setor consideram ser importante a cultura para atrair os turistas. Por isso mesmo, por exemplo, o Vila Monte associou-se a nós, nesta programação de cultura e espetáculos».

 

Valores locais mostram o que valem

Depois do sucesso das suas peças anteriores, o grupo de teatro «A Gorda», de Olhão, volta ao palco em abril, com duas representações de «Hoje não há teatro» marcadas para os dias 27 e 28, às 21h30. Em ambos os casos, serão espetáculos «à bilheteira», com o grupo de teatro olhanense a assumir os riscos. Mas, a avaliar pelas casas cheias que as suas anteriores peças têm tido sempre, não correm perigo de perder dinheiro.

João Evaristo, autor da peça «Hoje não há Teatro», presente na conferência de imprensa, explicou que se trata de um trabalho que conclui a sua trilogia «Bailarinas» e «Pezinhos de Xumbo». «É uma peça completamente diferente do que fizemos antes, mas sempre com muita preocupação com o público a que nos dirigimos». É que, explicou o dramaturgo e também ator, «queremos produzir peças que falem na mesma linguagem do público, mas sempre introduzindo elementos de qualidade, na perspetiva da formação desse público». Na foto de apresentação, João Evaristo surge vestido de noiva. Aguçando a curiosidade, apenas disse que essa será «a vez em que apareço mais vestido nesta peça».

Outro valor local que vai subir ao palco é a jovem fadista Sara Gonçalves, nascida na Fuseta, mas já com uma carreira sólida. A 2 de junho, o Auditório Municipal de Olhão receberá então «Sara Gonçalves conta Frederico Valério». «Ele foi o primeiro erudito a escrever para o fado. Esse meu espectáculo terá hora e meia, com acordeão e contrabaixo, além da guitarra e viola habituais. Será uma oportunidade para mostrar uma vertente mais emotiva minha», explicou Sara Gonçalves.

A programação inclui ainda cinco exposições – duas de fotografia, de Vasco Célio e Telma Veríssimo, e três de escultura, de Jorge Pé-Curto, Pedro Figueiredo e Jorge Mealha.

Também presente na conferência de imprensa, Telma Veríssimo explicou que vai voltar a apresentar a sua mostra «Seareiros da Ria Formosa», que fala sobre a labuta árdua dos viveiristas de amêijoas, esses lavradores do mar. «É uma exposição que tem tudo a ver com Olhão».

 

Muito mais cultura em Olhão

Mas a programação cultural de Olhão não se resume – e já não seria pouco – aos eventos marcados para o Auditório Municipal.

António Pina, vice-presidente da Câmara, anunciou que, no âmbito do projeto Algarve Central, haverá outros espetáculos e eventos para além do que está programado para o auditório. Será o caso da recriação dos bailes tradicionais no dia 16 de junho.

Estará também de volta a Semana Cultural de Olhão, este ano na sua segunda edição. Mais uma vez, «iremos trazer gente para ver e conhecer o nosso património edificado», nomeadamente com passeios pedestres pelos bairros antigos da cidade, à descoberta do «Percurso das Lendas».

Na Casa da Juventude, continua o trabalho de formação de públicos e de práticas artísticas, através de grupos de hip-hop, danças de salão, teatro e até uma trupe de artes circenses.

E está também em preparação, no Museu Municipal, uma exposição sobre a indústria conserveira de Olhão. «Faz agora 130 anos que se instalou aqui a primeira fábrica de conservas», recordou António Pina. E por isso a Divisão de Cultura está a fazer um «grande trabalho» na «recolha do património imaterial ligado às conservas», nomeadamente fazendo entrevistas com antigas operárias, de modo a «recolher toda essa experiência vivida antes que desapareça». «O Museu vai sofrer uma grande transformação para acolher esta exposição», garantiu o autarca.

 

Saiba mais sobre a programação cultural de Olhão no site da Câmara

 

 

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