Miguel Portas: Governo quer «criar um cemitério de empresas falidas» em Portugal

O Governo quer «resolver a crise através da recessão e transformando a recessão na política». Esta é a convicção do […]

O Governo quer «resolver a crise através da recessão e transformando a recessão na política». Esta é a convicção do dirigente do Bloco de Esquerda e eurodeputado Miguel Portas, que acusa o executivo liderado por Passos Coelho estar a trabalhar para criar «um cemitério de empresas falidas». «Quando se desce o suficiente, em alguma altura temos de começar a subir», ilustrou.

Miguel Portas justificou a sua afirmação com aquela que considera ser a intenção do Governo, a de «afundar isto o suficiente e deitar fora o que não presta no mundo empresarial e económico».

O eurodeputado do BE Miguel Portas foi o convidado da edição desta semana do programa radiofónico Impressões, dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. A entrevista foi originalmente para o ar na quarta-feira e pode ser ouvida na íntegra este sábado, dia 14, às 12 horas, em 102,7 FM ou em www.rua.pt.

Para o dirigente bloquista, a linha de ação seguida pelo Governo traduz-se num aumento do desemprego, problema que se faz notar particularmente na região algarvia. «A chave deste desenho económico imposto pela Troika e prosseguido em versão “hardcore” pelo atual Governo é o aumento do desemprego. Não há volta a dar», acusou.

Mas até teria sido relativamente simples minorar esse problema no Algarve. «A primeira solução que tinha havido [para o aumento da taxa de desemprego no Algarve] era não ter aumentado o IVA na restauração, na hotelaria e até no golfe», acredita.

«Isto dito no Algarve percebe-se melhor do que se for dito em Lisboa ou no Porto. O golfe não é a graça de andar com um taco a meter uma bola num buraco, que a mim até nem me entusiasma particularmente. O problema é que está ligado a circuitos de hotelaria que fazem sentido em rede», considerou Miguel Portas.

Para o dirigente do Bloco de Esquerda, «desde que se resolvam os problemas de reciclagem da água e não se faça de tudo um campo de golfe – senão corremos o risco da oferta matar a procura – desde que se tenha estes cuidados, é evidente que o golfe faz todo o sentido no Algarve e no Alentejo».

Miguel Portas recordou que «na Irlanda se fez precisamente o contrário, com o mesmíssimo resgate financeiro». «A Irlanda negociou o resgate garantindo à cabeça que poderia ter alguma margem na intervenção fiscal, no domínio do IVA, que era também para baixo», disse.

Uma opção que, acredita, Portugal também tinha. «Em rigor, nada obrigava este Governo a aumentar generalizadamente o IVA e nomeadamente num setor exportador decisivo, nomeadamente no Algarve», como o Turismo, afirmou.

O eurodeputado do BE defendeu que o principal problema com que as empresas do turismo «muito em particular» se debatem, ainda que transversal a toda a economia, «é de crédito», que hoje em dia «extraordinariamente caro e muito restringido».

«Pudéssemos nós usar a política da Caixa Geral de Depósitos, que é um banco nacionalizado, em favor de objetivos de crescimento económico e de investimento privado e estaríamos muito melhor. Agora, estaríamos a obrigar a banca privada a vir a reboque. Mas é assim que nós podemos relançar a economia», considerou.

 

Passos Coelho devia «ser o primeiro» a seguir sugestão para que portugueses emigrem

Miguel Portas também não poupou críticas a Passos Coelho devido às declarações que o Primeiro-Ministro e vários membros do executivo fizeram de incentivo à emigração. «Eu, por mim, até achava bem que o Primeiro-Ministro fosse o primeiro a seguir o que sugere. Essa era a melhor solução», confessou, a rir, Miguel Portas.

«Qualquer Governo está moral e eticamente obrigado a procurar criar condições para que os seus cidadãos vivam no país, se assim o possam fazer. Ou seja, que não sejam condenados a partir. Que partir seja uma escolha e não uma obrigação. Um Primeiro-Ministro que diz “emigrem”, é um Primeiro-Ministro que desistiu do próprio país», acusou o eurodeputado do BE.

De qualquer forma, Miguel Portas admitiu que a saída de portugueses para outros países, em busca de melhores condições, é uma tendência que se nota há alguns anos, que deverá acentuar-se com as políticas de austeridade.

«Nos últimos três anos, só para o Brasil, estaremos a falar na casa dos cem mil emigrantes. Estamos a falar num movimento sem paralelo, a não ser nos anos 60 do século passado, altura em que se fugia não só da miséria, mas também da guerra», disse.

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