Figurões de Portimão

A história de qualquer lugar, povoação ou cidade, em sentido lato, retrata sempre aquelas figuras que se notabilizaram política, intelectual […]

A história de qualquer lugar, povoação ou cidade, em sentido lato, retrata sempre aquelas figuras que se notabilizaram política, intelectual ou artisticamente, ou seja, homens e mulheres que praticaram ações superiores em prol da sua terra ou do seu país.

Não obstante o mérito e a coragem desses heróis serem esculpidos em livros de pedra e a sua essência ficar “ad eternum”, convém também recordar as particularidades daqueles que, no seio das massas anónimas, foram olvidados, sem direito à lembrança e, sobretudo, isentos de comemorações ou outras manifestações laudatórias.

À laia de introdução, pretendo, a partir desta reflexão, fazer a apologia dos homens proscritos da sociedade portimonense, gente singular que, por motivos de vária índole, bem poderia ser personagem de almanaque, herói de uma tragicomédia ou protagonista dos filmes de Ettore Scola.

A geração portimonense dos anos 70, recorda-se, sem dúvida, do “Zé das Cabras “, criatura de estatura baixa e manco de natureza. Trajava sempre as mesmas camisa e calças remendadas de pura lã virgem, aliás, roupa que exalava um cheiro pútrido e imundo que afastava compulsivamente os transeuntes.

Tinha uma obsessão: ouvir o tilintar das moedas; era quem podia ver o pobre do homem calcorrear léguas no largo da Casa Inglesa para apanhar uns míseros tostões que os mais atrevidos jogavam para a calçada, persistentemente, como manobra de divertimento.

Outra imagem surrealista, no âmbito político, estende-se à pessoa do Hélder “Bolinhas”, arguto representante da jovem direita democrática, em tempos do PREC, que conseguiu a proeza de, no auge da sua carreira política, angariar um número significativo de assinaturas para constituir um partido político.

É óbvio que os senhores do poder instalado não gostaram da ideia e, claro, a cabala política foi de tal maneira engendrada que o  Bolinhas viu-se atrás das grades por ter “desonrado” uma estrangeira, uma delicada dama inglesa que fazia uns biscates num desses bares da noite e por quem o dito líder, segundo as más-línguas, nutria um excessivo amor platónico (?).

No âmbito artístico, destaco a personagem conhecida pelo nome artístico de “Lola”, uma dupla notável da Amália Rodrigues, emigrante português e cabeça de cartaz nos grandes palcos parisienses, que veio a terminar ingloriamente a sua carreira no “bas fonds” da nossa cidade, ostracizado pelos  seus conterrâneos.

Presentemente, nesta galeria de heróis, quem ainda não viu o Luís “Marreco”, homem dos sete ofícios e de grande valência pública, a interpretar o papel de homem-estátua, um verdadeiro artista da Praia da Rocha que, naturalmente e sem recorrer a grandes disfarces, lá ia ensaiando algumas posições libidinosas ao som das moedas que caiem para dentro do boné; este sim, é o verdadeiro homem das ruas de Portimão.

Homens comuns, com histórias e sonhos, com alegrias e lágrimas, desconhecidos na sua generalidade, mas que deixaram parte da sua existência nas nossas memórias e, por isso, aqui presto o meu contributo à sua lembrança. A enumeração das entidades escolhidas foi aleatória e a sua apresentação jamais corresponderá a uma lista pelo seu grau de importância ou outra qualquer prioridade.

 

Luísa Penisga Gonzalez é membro pelo BE na Assembleia Municipal de Portimão

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