D. Manuel Quintas: Ser humano tem de voltar a ser «o elemento central» das opções políticas e económicas

A crise está a deixar marcas profundas no Algarve, a nível social e deve servir para que as pessoas «repensem […]

A crise está a deixar marcas profundas no Algarve, a nível social e deve servir para que as pessoas «repensem as bases em que assentam as suas vidas», nomeadamente ao que a valores diz respeito.

O Bispo do Algarve Dom Manuel Quintas admite que a Igreja, bem como outras instituições, poderão ter de aprofundar o seu trabalho social, mas deixa também uma mensagem de esperança para o futuro.

Dom Manuel Neto Quintas foi o convidado desta semana que precede o Natal do programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM, que pode ser ouvido na íntegra este sábado, às 12 horas, em 102,7 FM ou em www.rua.pt.

«Penso que esta situação foi quase um despertar de um sonho. Andávamos todos a pensar que isto não poderia acontecer. Acordámos todos como que de um sonho. Isso faz-nos repensar o nosso estilo de vida, as nossas opções e até os valores. Porque são muitos a dizer que chegámos a este ponto por falta de valores, sobretudo por falta de ética na política, nas finanças e em todo esse mundo», considerou Dom Manuel Quintas.

Considerando que vivemos num mundo em que «é preciso voltar a colocar o ser humano como o elemento central das opções políticas e económicas», o Bispo do Algarve mostra-se preocupado com a situação.

«Partilho das preocupações, que são comuns. Penso que não há nenhum português que não viva com alguma apreensão a situação em que vivemos. São cada vez mais as famílias a pedir ajuda nas nossas paróquias, nos nossos grupos e instituições ligados à dimensão social», revelou.

«Esta situação não é fácil, porque muitas vezes nos sentimos incapazes. Mas, por exemplo, no que toca à alimentação temos encontrado muita generosidade das pessoas. Têm surgido refeitórios sociais, ligados à Igreja e não só. Também há gestos entre vizinhos, que nem sempre temos conhecimento», acrescentou.

Fazer frente ao problema da alimentação, nomeadamente junto dos que não teriam possibilidade de contar com mais nenhuma refeição, «tem sido possível porque as instituições tem trabalhado mais em rede».

Dom Manuel Quintas dá o exemplo dos diferentes refeitórios sociais que existem em Faro, nomeadamente o da Cáritas, o da Santa Casa da misericórdia e o da associação CASA, que se concertam entre si para oferecer refeições em diferentes dias da semana, para chegar a mais pessoas, sem que haja sobreposição.

«A minha presença e da Igreja procura sempre transmitir um sinal de esperança. Ou seja, não nos desmoralizarmos nem desanimarmos perante as dificuldades. É evidente que a nossa grande preocupação é que as pessoas não passem necessidades e dentro das nossas possibilidades procuramos ir ao encontro delas», assegurou.

«Felizmente estou a notar um crescimento na sensibilidade de todos, não só dos que frequentam as paróquias, perante as dificuldades dos outros, ao nível do voluntariado e da partilha dos próprios bens. E isso é positivo. Confrontados com esta situação difícil, sentimo-nos todos mais próximos dos outros, a dar as mãos e a olhar para a frente com esperança», disse Dom Manuel Quintas.

 

Já começam a faltar meios à Cáritas Diocesana do Algarve  

A falta de recursos da Caritas Diocesana do Algarve é um sinal de que cada vez há mais solicitações e pessoas a precisar de ajuda. «Se há mais saída e a mesma entrada que havia antes, é claro que os meios faltam», disse Dom Manuel Quintas.

«A nível nacional, nos primeiros dez meses do ano, as 20 Cáritas Diocesanas atenderam, no seu conjunto, cerca de 28 mil famílias, um número muito superior ao que era habitual», revelou o Bispo do Algarve.

«Mas eu penso que chegar a uma situação de ruptura total ao nível da alimentação é algo que não acontecerá. Agora, o que nós chamamos de Fundo Solidário Social é que se esgotou», explicou Dom Manuel Quintas.

Sem este dinheiro, a Cáritas não poderá atender a solicitações de ajuda vindas de famílias de todo o Algarve para fazer frente a encargos prementes, «ligados a rendas de casas, faturas de água e luz e até a propinas da universidade». «Conseguimos angariar, ao longo do ano, mais de 50 mil euros, mas o dinheiro também se esgota», ilustrou.

Entretanto, os padres algarvios já contribuíram com o salário de um mês para o fundo e há agora esperança que a campanha «10 Milhões de Estrelas» permita que o fundo tenha um reforço à altura das dificuldades que se esperam para 2012. «Se não forem também aqueles que estão muito para além da Igreja a contribuir, seria muito difícil», considerou.

Talvez por isso, participar na campanha «10 Milhões de Estrelas» é agora bem mais fácil. As velas da Cáritas estão à venda, em 2012, não apenas nas paróquias, mas nas principais grandes superfícies comerciais.

«Esta é uma iniciativa muito simples. Resume-se a adquirir uma vela por um euro, valor que este ano reverte para o Fundo Solidário Social da Diocese do Algarve e também para ajuda humanitária na Somália, já que há sempre uma vertente internacional», disse Dom Manuel Quintas.

«Podem acender a vela na noite de 24 de Dezembro. Para os que acreditam, esta vela simboliza a luz de Cristo, que é fonte de esperança e onde encontramos a força para superar as dificuldades e para nos unirmos para ir ao encontro dos que necessitam. Para os que não acreditam, penso que também há sempre lugar para os outros e para a partilha dentro do seu coração. E um euro não é assim tanto», considerou o Bispo do Algarve.

 

Foto: Folha de Domingo

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