Associação dos Músicos esteve no Parlamento à procura de soluções para a nova sede

Ainda não se pode dizer que o futuro se adivinha risonho, mas a Associação Recreativa e Cultural dos Músicos (ARCM) […]

Ainda não se pode dizer que o futuro se adivinha risonho, mas a Associação Recreativa e Cultural dos Músicos (ARCM) tem hoje mais razões para acreditar que a construção de uma nova sede pode mesmo ser um sonho tornado realidade.

Confrontada com uma ação de despejo na sua atual sede em Faro desde há dois anos, a associação não baixa os braços e já tem a cedência de um terreno camarário garantida e um projeto de construção.

Também a AR já se pronunciou sobre a petição apresentada pela associação, algo que permitiu dar maior visibilidade ao problema da coletividade, ainda que os partidos do Governo não se tenham mostrado favoráveis a financiar a nova sede.

Os dirigentes da ARCM Armindo Silva e Filipe Parra foram os convidados desta semana do programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. Esta entrevista poderá ser ouvida na íntegra no sábado às 12 horas, em 102.7 FM ou em www.rua.pt.

A atribuição de um terreno camarário na zona da Horta da Areia, junto à Zona Industrial do Bom João, em Faro, é, para já o que existe de mais concreto. A formalização da cedência «está apenas dependente de alguns pormenores» e até já foi aprovada «a desafetação do terreno do domínio público para o privado», numa reunião da Assembleia Municipal de Faro, segundo Armindo Silva.

Agora, falta o dinheiro para avançar, o que se prevê ser a parte mais difícil. Neste campo, a associação algarvia tem muitas ideias, mas espera algum contributo do Governo, até porque a ARCM «presta um serviço público», ao ceder a sua sala «gratuitamente» a instituições e associações do concelho, entre outros serviços.

E o caso até já foi discutido na Assembleia da República (AR). «Nas últimas semanas, fomos à AR duas vezes, para concluir um processo desencadeado há ano e meio, talvez, que foi a recolha de assinaturas numa petição em defesa da associação de músicos, por causa da ação de despejo», explicou Filipe Parra.

O documento já havia sido entregue ao Parlamento «no início de 2011» e a associação algarvia foi recentemente chamada para expor os seus problemas. «Primeiro tivemos uma audição com a Comissão de Ética e Cultura, onde fomos ouvidos. Agora, fomos assistir à discussão em plenário da petição», acrescentou o dirigente da ARCM.

Apesar de uma petição não ter efeito vinculativo, «tem um efeito muito importante». Logo à partida «dá a conhecer aos deputados o nosso problema e, em segundo, exige que a discutam e tomem uma posição».

«Do que assistimos, todas as bancadas reconheceram o papel, a importância e o valor da associação de músicos, o papel que tem no algarve e em Faro no apoio aos jovens, à cultura e desenvolvimento, mas as opiniões foram diferentes no que se refere à solução para a nova sede», revelou Filipe Parra.

«Os partidos do Governo afirmaram, de uma forma ou de outra, que não havia dinheiro, apontando a solução para a articulação com as entidades locais, algo que só por si não resolve o problema», explicou.

Para os dirigentes da ARCM, o financiamento do projeto é também uma responsabilidade do Governo, até porque «em 21 anos de existência apenas recebemos 10 mil euros de dinheiros públicos que nem sequer pedimos», segundo Armindo Silva, «o que é muito pouco para uma associação, para aquilo que pagamos de renda e fazemos».

A ARCM sempre se baseou em trabalho voluntário e na auto-sustentabilidade. De há alguns anos a esta parte, apesar de pagar uma renda pelo Armazém que lhe serve de sede junto à estação da CP de Faro, consegue pagar todas as suas contas, com o dinheiro angariado em eventos que organiza e com o aluguer de salas de ensaio, ainda que por um preço «simbólico».

 

Nova sede já tem projeto e espera apenas financiamento para avançar

 

O projeto que a ARCM tem em cima da mesa prevê a criação e um complexo com 46 salas de ensaio, duas salas de espetáculo e um espaço exterior que possa acolher eventos. Os músicos só admitem sair do espaço que agora alugam «quando houver condições para acolher os moços que ensaiam» nas suas instalações.

«Já tivemos esta experiência antes e, caso tivermos de sair da nossa sede antes de ter outras instalações, as bandas que lá ensaiam hoje vão, na sua maioria, acabar», avisou Armindo Silva. Hoje são 31 bandas de vários municípios algarvios que usufruem das 18 salas de ensaios ARCM, havendo 16 grupos musicais em lista de espera.

«Vamos ter de construir a sede por fases. A primeira será a construção de 23 salas de ensaio, deixando preparado o segundo piso do edifício para a construção de outros tantos espaços de ensaio», revelou Armindo Silva. «Há quem diga que é um projeto ambicioso, mas nós sabemos que é feito à medida das nossas necessidades», defendeu Filipe Parra.

Com estas infraestruturas, a ARCM já poderia começar a ter algum rendimento, o que lhes permitiria avançar por si só para as restantes fases do projeto. «Esta primeira fase custa cerca de um milhão de euros, pois também será necessário deixar prontas todas as infraestruturas básicas, como as de águas e esgotos», revelou Armindo Silva.

E a ARCM até já tem algum material e muita experiência em tornar espaços degradados em sedes com boas condições. «Mas construir um edifício de raiz é brincadeira mais séria. Temos condições para avançar, quer dizer, condições de vontade e algumas condições técnicas, mas o financiamento é fundamental», ilustrou Armindo Silva.

Os músicos contam «com alguns amigos», que permitem poupar dinheiro, como por exemplo o arquiteto João Coelho, que pegou no projeto e está a trabalhar sem cobrar. Também já foi levada a cabo uma «Campanha do Tijolo». Os dirigentes da ARCM vão igualmente tentar encetar parcerias com empresas que os possam ajudar, como por exemplo «a Cecil, que pode ajudar com o betão para as fundações».

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