Torre albarrã do Castelo de Paderne restaurada com o «processo construtivo histórico» dos almóadas

O ministro da Cultura visitou hoje a obra de conservação e restauro da torre albarrã do Castelo de Paderne

«Esta senhora tem oito séculos de existência, por isso, ao fim de todo este tempo, tem direito a ter uma mazelas. E a nossa intervenção foi no sentido de as começar a corrigir», explicou Natércia Magalhães, técnica superior da Direção Regional de Cultura do Algarve, ao ministro da Cultura, que hoje visitou as obras de restauro já concluídas da torre albarrã do Castelo de Paderne (Albufeira).

A intervenção, que contou com o apoio «fundamental» da Fundação Millenium BCP, até custou menos que os 132 mil euros orçamentados, já que, em obra, como também explicou Natércia Magalhães, foi decidido manter o atual coroamento da torre, o que evitou fazer o último taipal.

A intervenção acabou, ainda assim, por demorar mais tempo que o previsto, porque foi feita «recorrendo ao processo construtivo histórico que os almóadas usaram», há oito séculos, na construção deste castelo de sólida taipa militar.

Esta é apenas a primeira e menos dispendiosa fase das obras de Conservação e Restauro dos Módulos de Taipa Almóada do Castelo de Paderne, programadas pela Direção Regional de Cultura para este monumento classificado como Imóvel de Interesse Público.

A segunda fase da intervenção, que custará cerca de 460 mil euros, refere-se à conservação e restauro da muralha nascente, junto à torre albarrã.

A diretora regional de Cultura revelou, em declarações ao Sul Informação, que essa segunda fase da obra, apoiada pelos fundos comunitários, através do FEDER, e pela própria Câmara de Albufeira, deverá começar «em princípios do próximo ano de 2019». Garantida a aprovação da candidatura, vai avançar agora o processo de concurso público para «escolher a empresa que poderá fazer o trabalho, muito especializado».

A diretora regional aproveitou a visita do ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes ao monumento para salientar a «emoção» de «sentir que a tutela está próxima e quis vir ao terreno conhecer o nosso trabalho».

Elogiou também o trabalho da Câmara de Albufeira, que tem sido «incansável», bem como o apoio da Fundação Millenium BCP, cujo financiamento a estas obras acabou por ser «o primeiro caso de mecenato que tivemos na Direção Regional de Cultura do Algarve».

O ministro Castro Mendes, por seu lado, disse que a sua visita pretendia precisamente «mostrar o apoio e vincar o interesse cultural que este projeto tem, na valorização do nosso património histórico».

«Praias há muitas, o que não há nos outros lugares é o nosso património, a nossa cultura!», acrescentou o governante, salientando que «o turismo de sol e praia, em Portugal, não vai crescer muito mais, até porque, a esse nível, a concorrência vai ser cada vez mais dura. Há que virar também para o património, já que o turismo cultural está a crescer».

O embaixador António Monteiro, presidente da Fundação Millenium BCP, frisou que, para esta entidade, «é um prazer colaborar no restauro deste importante monumento». Ao nível do património construído, esta é a única iniciativa da fundação no Algarve, mas o seu presidente manifestou-se «aberto a outras iniciativas que possa haver. Estamos sempre a receber propostas, mas há que avaliá-las».

O ministro da Cultura haveria ainda de sublinhar que «a Fundação tem sido decisiva neste trabalho no Castelo de Paderne».

José Carlos Rolo, presidente da Câmara de Albufeira, que, com a Fundação Millenium BCP, garantiu uma parte da necessária contrapartida nacional para a obra da torre albarrã, salientou o empenho da sua autarquia em «acarinhar tudo o que for feito em prol do desenvolvimento de todos os polos de interesse turístico do concelho, nomeadamente no interior, como é o caso do Castelo de Paderne».

A obra de conservação e restauro da torre albarrã (torre exterior ao castelo, a ele ligada por um passadiço) foi feita por uma empresa especializada, contando com o acompanhamento permanente de Natércia Magalhães, pelo lado da Direção Regional de Cultura, bem como com a coordenação do arquiteto Manuel López Vicente, um dos maiores especialistas mundiais em conservação de taipa militar.

De forma entusiástica, aquela técnica explicou ao ministro e à restante comitiva o que tinha sido feito: «primeiro, houve que limpar toda a terra, retirar tudo o que se estava a esboroar, por isso houve que sacrificar alguns pedaços da taipa original».

Mas aqueles pedaços que, «situados à pele do monumento», estavam «em condições», foram deixados. E é por isso que, numa das fachadas da torre, se vê uma espécie de janela entre a taipa recente, onde espreita um desses pedaços da parede da muralha bem mais antiga.

Quanto à drenagem, o projeto inicial previa que fosse feita pelo interior da torre maciça, mas verificou-se, em obra, que esse interior «é rocha». «Decidiu-se que não iríamos estar a abrir a rocha, seria muito intrusivo. Fomos procurar as gárgulas originais e foi essa drenagem que foi recuperada», acrescentou.

Para chegar à mistura ideal das terras com cal a usar no restauro da torre, houve a necessidade de «fazer muitos testes». Parte desses testes é agora visível aos pés da torre, nuns blocos que estão no chão.

«A taipa militar almóada tem uma receita química que tem de ser testada, para que se aguente ainda mais uns séculos», acrescentou, por seu lado, Alexandra Gonçalves. E esses testes, bem como a chuva que caiu durante grande parte do tempo da obra – e a chuva é natural inimiga destas construções em terra – acabaram por atrasar a intervenção em alguns meses.

Para já, os novos pedaços de taipa têm uma cor muito ligeiramente diferente da restante, com mais de oito séculos. No entanto, garantiu Natércia Magalhães, «haverá agora o secar e carbonatar da cal que está dentro desta terra compactada», pelo que, em breve, «a cor ficará igual».

Durante os trabalhos, foi também podada uma oliveira que tinha crescido encostada à torre. «Quando foi construído, o castelo não tinha árvores à sua volta, não estava camuflado, para dele se ver bem à sua volta e para ele ser visto. A torre estava a descoberto, para que nenhum inimigo se atrevesse a vir aqui».

«Há da nossa parte uma grande preocupação em manter a colina histórica», enquadrou Natércia Magalhães, sobre os trabalhos que têm vindo a ser feitos ao longo das últimas duas décadas no Castelo de Paderne.

No futuro, depois de concluída a segunda fase da obra, que passa pelo restauro da muralha contígua, poderá vir a ser garantido o acesso dos visitantes ao alto da torre, criando talvez um passadiço. Mas isso, para já, é apenas uma intenção, como salientou a técnica da Direção Regional de Cultura.

O que deverá avançar em breve, segundo anunciou o presidente da Câmara José Carlos Rolo, é o arranjo do caminho que sobe a colina onde o monumento se ergue e que, atualmente, é em terra batida, com terra, pó e lama. «Mas não pode ser alcatroado!», alertou Alexandra Gonçalves, diretora regional de Cultura. «Descanse que teremos esse cuidado», garantiu o autarca.

Assim como se espera que, depois de concluídas todas estas intervenções, o Castelo de Paderne passe a estar aberto todos os dias, como é normal nos monumentos, em vez da abertura de um único dia por semana, à quarta-feira, garantida por um funcionário da Câmara de Albufeira.

O monumento, salientou José Carlos Rolo, «não é ainda responsabilidade da Câmara Municipal», mas é para aí que a autarquia quer avançar, talvez reproduzindo o protocolo que existe, por exemplo, entre a Direção Regional de Cultura e a Câmara de Portimão para a gestão dos Monumentos Megalíticos de Alcalar. Mas isso são contas de outro rosário.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

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