Investigador algarvio ajuda a perceber efeito da temperatura da água nos recifes de coral

O investigador algarvio Pedro Frade foi o autor principal do estudo, que já foi publicado na revista Nature Communications

O investigador algarvio Pedro Frade é o principal autor de um estudo que veio ajudar a perceber melhor o efeito de temperaturas anormalmente elevadas da água nos recifes da Grande Barreira de Coral, na Austrália. O cientista do Centro de Ciências do Mar (CCMar) do Algarve esteve do outro lado do planeta a ajudar a estudar o branqueamento de corais e a mortandade que este fenómeno causa, concluindo que este foi muito mais abrangente do que inicialmente se pensava.

Segundo o CCMar, que esta terça-feira lançou uma nota de imprensa conjunta com o Global Change Institute da University of Queensland (Austrália) e a California Academy of Sciences (Estados Unidos da América), «o último evento de branqueamento massivo, que causou a morte de 30% dos corais de águas rasas na Grande Barreira de Coral, na Austrália, não se restringiu afinal às partes rasas, mas afetou também os recifes profundos».

«Um novo estudo demonstrou que o branqueamento despoletado por temperaturas anormalmente elevadas não só ameaça os recifes profundos como limita o seu papel de “refúgio” contra anomalias térmicas derivadas do aquecimento global», acrescentou o centro de investigação associado à Universidade do Algarve.

O estudo, que foi publicado na revista Nature Communications, tem como autor principal Pedro Frade e «quantifica a redução do impacto do branqueamento com a profundidade», mostrando «que esse branqueamento foi substancial mesmo no recife profundo».

Pedro Frade ficou surpreendido por encontrar colónias de coral branqueadas até profundidades de 40 metros.

«Foi um choque ver que o branqueamento se estendeu a esses recifes menos iluminados porque esperávamos que essas profundidades tivessem proporcionado proteção contra este acontecimento devastador», afirmou o investigador algarvio.

A Grande Barreira de Coral é conhecida por ter extensas áreas de recifes de coral profundos. No entanto, «dada a sua profundidade, estes recifes são notoriamente difíceis de estudar», salientou o CCMar.

Assim, a equipa de investigadores internacional utilizou veículos de operação remota para fixar sensores até 100 metros de profundidade «para caracterizar como a temperatura em profundidade difere das condições no recife raso».

«Durante o evento de branqueamento, o afloramento de água fria do fundo do mar inicialmente gerou condições mais frias no recife profundo. No entanto, quando este afloramento parou, no final do Verão, as temperaturas subiram para níveis recorde, mesmo em profundidade», explicou o coautor do estudo Pim Bongaerts, da Academia de Ciências da Califórnia.

A equipa de mergulhadores realizou pesquisas durante o auge do branqueamento em vários locais no Norte da Grande Barreira de Coral e observou que, em geral, o branqueamento severo e consequente mortalidade «afetaram quase um quarto dos corais a 40 metros de profundidade, embora confirmando relatos anteriores que referiam que cerca de metade dos corais teriam sido fortemente afetados nos recifes rasos».

«Infelizmente, esta pesquisa destaca ainda mais a vulnerabilidade da Grande Barreira de Coral», considera Ove Hoegh-Guldberg da Universidade de Queensland, onde o estudo foi realizado.

«Nós já sabíamos que o papel de refúgio dos recifes profundos é geralmente diminuto devido à partilha limitada de espécies com o recife raso. No entanto, agora descobrimos uma limitação adicional, já que os recifes profundos podem ser eles mesmos também afetados por temperaturas altas da água do mar», reforçou.

Os investigadores irão agora estudar o processo de recuperação dos corais branqueados e como este varia entre os recifes rasos e profundos.

Fotos: Pim Bongaerts | Academia de Ciências da Califórnia

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