Ceroulas e combinações voltaram à praia da Manta Rota para o Banho Santo

Antigamente, os animais também tomavam banho com as pessoas, mas agora apenas participam no cortejo

De ceroulas e camisolas, os homens, de combinação branca, as mulheres. Foi assim que esta quarta-feira, dia 29 de Agosto, cerca de 40 figurantes, vestidos a rigor, recriaram a tradição do Banho Santo de São João da Degola, na praia de Manta Rota, no concelho de Vila Real de Santo António.

Como nos tempos antigos, houve petiscos e vinho, acompanhados pela música do acordeão, numa estranha forma de ir à praia que despertou a curiosidade e animou os muitos turistas daquela zona balnear.

Noutros tempos, os habitantes da serra algarvia juntavam-se e vinham acampar para várias quintas na Manta Rota, onde dormiam em cima de palha. «Chegavam no dia 28 de Agosto, com burros, cavalos e carroças», contou ao Sul Informação Romano Justo, da Associação A Manta, organizadora desta iniciativa, em parceria com a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António.

No dia seguinte, «levantavam-se e tomavam o primeiro banho», logo de manhã, tal como aconteceu ontem na recriação histórica. Os figurantes vestiram trajes feitos pela esposa de Romano e levaram consigo as típicas cestas com pão, queijo, chouriço e vinho, para aconchegar a barriga depois de uns mergulhos, que, antigamente, pensava-se que davam imunidade contra certas doenças, como «constipações ou gripes».

Na recriação histórica, dois músicos garantiram a animação com temas populares como “A Mulher Gorda”, ao som de acordeão, enquanto ofereciam comida e bebida a quem estava a assistir.

Segundo Romano Justo, de 81 anos, nos tempos de outrora eram os algarvios do interior que cumpriam esta tradição, voltando ao mar mais duas vezes na jornada: ao meio-dia e à tarde. Eram banhos de mar que valiam pelo ano inteiro.

Mas depois, morreram algumas pessoas afogadas durante o banho que, afinal, não era assim tão santo. «Durante alguns anos houve mau tempo, o chamado levante», que, juntamente com «correntes de água», levaram à morte de algumas pessoas, apenas habituadas a «nadar em ribeiros». E a tradição foi-se perdendo, para mais porque a evolução tecnológica, com o aparecimento de novos meios de transporte, tornou as carroças obsoletas e facilitou as ligações rápidas entre a serra e o litoral.

Depois de décadas de esquecimento, «há mais de 20 anos» os festejos foram recuperados, agora como recriação histórica.

Antigamente, recorda ainda Romano Justo, os animais também iam para dentro de água com as pessoas, para que as benesses do banho santo também os atingissem, mas agora «aparecem apenas no cortejo, porque a Capitania já não autoriza».

Esta festa do banho no mar é também chamada de São João da Degola porque pretende assinalar a data em que São João Baptista foi degolado.

Apesar do Banho Santo ser o ponto alto, as festas em honra de São João da Degola tiveram início dia 17 de Agosto e terminaram ontem à noite, após um concerto, com fogo de artifício na praia da Manta Rota.

 

Fotos: Gonçalo Dourado | Sul Informação

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