Cine-Teatro Louletano tem «nova e arrojada» programação

Um concerto de Sérgio Godinho com a Orquestra Clássica do Sul, a peça de teatro “Erêndira! Sim, avó…”, que tem […]

Um concerto de Sérgio Godinho com a Orquestra Clássica do Sul, a peça de teatro “Erêndira! Sim, avó…”, que tem como pano de fundo um texto do Nobel Gabriel García Márquez, e o espetáculo “Moda Vestra”, que explora o universo da música tradicional portuguesa, são algumas das propostas do Cine-Teatro Louletano para a programação artística de Setembro a Dezembro. 

A aposta na música continua, em que se destacam as estreias nacionais, em Loulé, dos novos discos de Samuel Úria e de Luís Galrito.

A variedade de estilos e estéticas patenteia-se ainda na apresentação de concertos que vão dos Blind Zero (acústico) à Banda Sinfónica Portuguesa e à Orquestra Clássica do Sul, esta última integrada no novo ciclo “Clássicos na Avenida” (uma coprodução entre a Orquestra Clássica do Sul, o Cine-Teatro e o Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa).

O Fado, Património Imaterial da Humanidade, voltará a marcar presença nesta grelha programática com mais uma Gala dos Fadistas Louletanos, valorizando e promovendo assim os talentos do concelho ligados a esse universo musical.

Uma das principais linhas que tem norteado a estratégia de programação do Cine-Teatro tem «sido precisamente a de, através de encomendas artísticas, proporcionar encontros inéditos entre talentos locais louletanos e reconhecidas figuras do panorama musical nacional», diz a Câmara Municipal.

No âmbito do ciclo “O Longe é Aqui” já foram realizados, desde 2016, 12 concertos e nesta temporada estão previstos mais dois espetáculos cujo mote é, mais uma vez, o diálogo e reinvenção de repertórios musicais de parte a parte: o singular projeto “Fad’Nu” (de José Alegre, docente no Conservatório de Música de Loulé, e Cátia Alhandra) com o intérprete e compositor Berg, vencedor da primeira edição do programa “Factor X”, em 2014, e o inspirador músico Tatanka (da banda The Black Mamba) com a talentosa cantora Ana Newton.

A autarquia destaca ainda dois concertos muito especiais: o de Avishai Cohen Trio e o de Sérgio Godinho com a Orquestra Clássica do Sul (OCS).

Sérgio Godinho

«Cohen é uma referência mundial no contrabaixo de jazz/fusão e a sua vinda a Loulé demonstra assim a vontade do Cine-Teatro de ter uma dimensão também crescentemente internacional na sua programação regular», considera a Câmara.

Aliás, a presença de Avishai Cohen em Portugal para uma digressão com apenas quatro datas (sendo Loulé a única cidade no Sul do país contemplada) partiu precisamente de um desafio lançado pelo Cine-Teatro Louletano à produtora UGURU no âmbito do Misty Fest 2018.

O aguardado espetáculo do prestigiado Sérgio Godinho com um ensemble da OCS – que vai centrar-se, em grande medida, no seu último e aclamado disco Nação Valente (o 18º álbum de estúdio) – resulta, mais uma vez, de uma encomenda artística feita pelo Cine-Teatro no sentido de apresentar ao seu público uma abordagem musicalmente diferenciadora e reinventada, «de inequívoco valor acrescentado».

Quanto à rubrica “Dos Sabores da Cultura”, em que os prazeres do corpo (neste caso a gastronomia local) se juntam aos prazeres do espírito (música) para uma tertúlia informal e intimista, com convidado e público juntos em palco, nesta temporada tem como figura central o professor e músico José Maria Vaz de Almeida (mais conhecido por “Zé Maria”), há muito radicado no concelho de Loulé e um dos fundadores, em 1975, da Brigada Victor Jara. Será certamente uma envolvente noite de histórias e acordes, entre familiares, amigos e admiradores.

Na outra rubrica que é dedicada à reflexão e debate sobre temas ligados à atualidade, “Conversas à Quinta”, o Cine-Teatro acolhe Manuel Rocha, músico, docente e investigador, para falar dos desafios em torno do ensino da Música em Portugal, de políticas culturais e dos velhos e novos caminhos da música tradicional – também ele integrante da Brigada Victor Jara e atualmente desempenhando a função de diretor pedagógico do novo Conservatório de Música de Loulé “Francisco Rosado”, a ser instalado no restaurado edifício do Solar da Música Nova, que abrirá ainda este ano.

Na área do teatro há «duas propostas inquietantes e questionadoras inseridas no ciclo “Estórias silenciosas” (dedicado à apresentação de propostas performativas ligadas a temas atuais nas áreas social, política e cultural) e em absoluta estreia no Sul do país».

«A primeira é o espetáculo “Amazónia”, da prestigiada companhia Mala Voadora, que se centra numa novela ecológica e que aborda a preocupante realidade da sustentabilidade planetária ao nível ambiental, a qual nos toca a todos – estando esta apresentação alinhada com as preocupações do executivo louletano patentes na Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas (EMAAC) iniciada em 2015».

A segunda é a criação “Erêndira! Sim, avó…”, pelo Teatro A Barraca, que tem como pano de fundo a realidade da exploração sexual de menores na Colômbia profunda a partir de um texto do Prémio Nobel da Literatura Gabriel García Márquez.

Somam-se a estas duas propostas uma terceira, de cariz multidisciplinar, igualmente englobada no ciclo “Estórias silenciosas”, intitulada “Canas 44”, da autoria da dinâmica associação Amarelo Silvestre, que coloca a questão do que está a desaparecer em Portugal na perspetiva das vivências de duas cidadãs, artistas, mães e mulheres a viver em Canas de Senhorim (distrito de Viseu).

A prestigiada coreógrafa alemã Pina Bausch costumava afirmar que sem dança a Humanidade estaria perdida. O Cine-Teatro continua a privilegiar a estreia no Algarve de espetáculos de dança contemporânea de reconhecidas companhias e criadores nacionais e nesta temporada apresenta uma criação de Victor Hugo Pontes, um dos mais apreciados coreógrafos da nova geração, a partir d’A Gaivota, de Anton Tchékov: “Se alguma vez precisares da minha vida, vem e toma-a”.

Já o Quorum Ballet regressa ao Cine-Teatro para estrear, em terras algarvias, o seu espetáculo “Saudade – back to Fado”, uma abordagem interdisciplinar, entre dança, música e performance, que representa, no fundo, um regresso à origem, banhado por uma portugalidade bebida em grande medida (mas não só) na obra literária de Luís de Camões.

O envolvimento da comunidade escolar não é obviamente esquecido, quer com uma criação que vai diretamente ao encontro dos conteúdos programáticos oficiais, “Para lá do mar de Sophia”, propondo assim o Quorum Ballet uma releitura da obra de uma escritora maior, Sophia de Mello Breyner, quer com um espetáculo que mais uma vez apela à sensibilização ecológica através da arte: “Marinho”, da performer Margarida Mestre.

Esta última criação, em torno da temática e imaginário marítimos, «revela mais uma vez a aposta do Cine-Teatro em usar as artes performativas e a educação informal como instrumentos para a defesa de causas ambientais», considera a autarquia.

Além disso, este projeto, que se desdobra em vários formatos (espetáculo para vários públicos, oficinas prévias nas escolas e conferências informais), resulta de uma iniciativa e coprodução inéditas entre sete programadores a nível nacional (Cine-Teatro Louletano, Fábrica das Artes/CCB, Centro de Arte de Ovar, Culturgest, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Municipal do Porto e Teatro Viriato), que se juntaram assim para esta encomenda artística à reconhecida Margarida Mestre e sua equipa de colaboradores.

A parceria com criadores e estruturas artísticas sediados na região algarvia é igualmente uma linha de força da programação do Cine-Teatro, estando previstas, nesta linha, duas residências artísticas e um laboratório no âmbito da colaboração com o festival transdisciplinar Verão Azul, organizado pela inquietante associação CasaBranca (Lagos).

A residência de Raquel André (que regressa ao Cine-Teatro depois de ter apresentado aqui o projeto “Coleção de Amantes”) consiste no envolvimento de artistas locais e ativistas-artistas que tenham nos seus processos criativos preocupações políticas e estéticas sobre a atual situação do mundo.

O reconhecido Gustavo Círiaco (Brasil), por seu lado, propõe uma residência artística que, trabalhando com crianças e idosos, enfoca na questão da memória e das paisagens que já não existem. Em ambos os casos haverá apresentações públicas no final das residências. Já o laboratório, que se irá dividir entre Loulé e Faro, incidirá numa temática de grande pertinência para a região algarvia: as práticas criativas em contextos periféricos.

O Cine-Teatro integra, como um dos coordenadores (juntamente com o Teatro das Figuras, em Faro), a Rede Azul – Rede de Teatros do Algarve e a sua programação também pretende refletir essa concertação programática que tem vindo a ser construída gradualmente ao longo dos últimos dois anos entre as várias salas da região.

Neste âmbito, dez dos seus membros, em colaboração também com a Direção Regional de Cultura do Algarve, juntaram-se para realizar uma encomenda artística inédita a reconhecidos artistas naturais da mesma (João Frade, Rafael Correia e a louletana Ana Perfeito): a apresentação de uma criação original, “Moda Vestra”, que consiste numa releitura contemporânea, de cariz interdisciplinar, do universo da música tradicional algarvia, a qual irá itinerar pelos vários teatros algarvios em 2018/2019.

João Frade

«Por último, é de salientar, em termos de estratégia programática, a continuação da aposta, iniciada em 2017, na área da arte para a primeira infância (bebés, pais e profissionais que trabalham com esta faixa etária), através da parceria com as mais prestigiadas estruturas artísticas a nível nacional que trabalham neste campo – a Companhia Musicalmente e a Companhia de Música Teatral –, a qual se concretizará, nesta temporada, mais uma vez na apresentação regular de espetáculos diferenciadores e inovadores, de cariz multidisciplinar e acentuada contemporaneidade; e na continuação da aposta na dimensão formativa – lacuna grande existente na região – dirigida a profissionais do meio e outros interessados».

A Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve e as creches e jardins de infância do Concelho de Loulé serão, mais uma vez, parceiros privilegiados deste objetivo.

Devido à adesão ao projeto “Cultura para Todos”, todos o jovens que completem 18 anos em 2018 vão ter acesso gratuito aos espetáculos a realizar no Cine-Teatro (mediante a disponibilidade da sala) até Dezembro de 2019.

Para mais informações e reservas os interessados podem contactar o Cine-Teatro Louletano pelo telefone 289 414 604 (terça-feira a sexta-feira, das 13h00 às 18h00) ou pelo email [email protected].

Além disso, podem consultar a sua página de Facebook aqui ou o seu website aqui.

Comentários

pub