Loulé abre oficina de olaria no Centro Histórico para que tradição não se perca

O mestre Ortélio da Silva ainda se lembra de como Loulé era terra de oleiros e recorda-o com entusiasmo. Hoje […]

O mestre Xavier a trabalhar o barro

O mestre Ortélio da Silva ainda se lembra de como Loulé era terra de oleiros e recorda-o com entusiasmo. Hoje já não é assim, mas Ortélio parecia mais feliz do que nunca. É que a Oficina de Olaria e Cerâmica, inaugurada na passada quinta-feira, 10 de Maio, no Centro Histórico de Loulé, quer formar novos oleiros para que esta profissão não desapareça. 

Esta é mais uma aposta do projeto “Loulé Criativo”, que já abriu, naquela cidade, a Oficina de Caldeireiros e a Casa da Empreita, outros dois ofícios com história no concelho.

Primeiro, a Câmara Municipal comprou o edifício, onde funcionou a Olaria Xavier, para depois serem feitas obras que remodelaram por completo o espaço.

Aí «apareceu a ideia do turismo criativo e, imediatamente, se pensou que este poderia ser um espaço a inserir nesse conceito que tem sido tão bem sucedido em Loulé», explicou Vítor Aleixo, presidente da autarquia.

Ao leme da oficina de olaria vai ficar o mestre Domingos Gonçalves, conhecido por Xavier, que já leva «mais de 40 anos» de ofício. Ao Sul Informação, o mestre não escondeu o desejo de que surjam interessados naquela «arte», como a apelida. «Deus queira que isto traga mais gente para a olaria. Eu tenho uma neta que quer pegar nisto, mas vamos ver».

O oleiro já trabalhou, no passado, naquele espaço que foi agora reformulado e terá duas zonas distintas. Numa delas, Domingos Gonçalves “Xavier”, que ali manteve atividade até o edifício entrar em ruína, voltará a ser oleiro, a tempo inteiro, como ambiciona, moldando e demonstrando como se trabalha o barro.

Vítor Aleixo, Dália Paulo e Ortélio da Silva

Na outra, integrada no projeto “Loulé Criativo”, serão acolhidos oleiros e ceramistas em períodos de incubação, permitindo a experimentação e o seu lançamento e consolidação na atividade.

O espaço será ainda um centro de recursos para uma dezena de profissionais que desenvolve atividade no concelho, ou seja uma montra que permitirá divulgar a oferta de produtos e serviços existentes e um local onde ocorrerão ações de formação para futuros oleiros.  

Toda a oficina tem um ar moderno, o que não passou despercebido a Vítor Aleixo. «As olarias, como as conheci, eram totalmente diferentes, mas o Xavier guarda com ele a cultura, a técnica, e é um artista capaz de ensinar os próximos oleiros que venham cá aprender», disse.

Quem também não escondia a felicidade pela abertura desta olaria era o mestre Ortélio Silva. O antigo oleiro recordou ao Sul Informação que, na década de 60 do século XX, havia em Loulé 18 olarias, algo bem diferente da realidade de hoje, em que apenas existem duas. Por isso, Ortélio não hesitou em afirmar o «grande gosto» pela abertura desta oficina.

Também os turistas vão ter ali mais um ponto de interesse numa visita a Loulé. Esta é, pelo menos, a convicção de Vítor Aleixo.

«Hoje os turistas procuram experiências, conhecer identidade dos locais e dos povos que visitam e nada melhor do que estes espaços para conhecerem o que nos diferencia dos outros», disse o edil. Até porque aquele é um «produto tanto cultural, como de memória».

Apesar de ser «difícil viver só da olaria», o mestre Xavier vai continuar a fazer desta arte a sua profissão. E, quem sabe, daqui a uns anos terá a companhia dos aprendizes a quem vai ensinar o que é ser oleiro.

«Isto está na moda. Vamos a ver», concluiu, ao nosso jornal.

 

Fotos: Fabiana Saboya | Sul Informação

 

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