Corte nas «gorduras» e renegociação com a banca são a fórmula de Conceição Cabrita para sanar contas de VRSA

Cortar «algumas gorduras», renegociar a dívida à banca e alienar património, caso haja investimento privado envolvido. Estes são os pilares […]

Cortar «algumas gorduras», renegociar a dívida à banca e alienar património, caso haja investimento privado envolvido. Estes são os pilares da política financeira que está a ser posta em prática por Conceição Cabrita, eleita em Outubro para o seu primeiro mandato enquanto presidente da Câmara de Vila Real de Santo António.

O Sul Informação falou com Conceição Cabrita, naquela que foi a primeira entrevista de fundo concedida pela edil vila-realense a um órgão de comunicação social desde que foi eleita. E a questão financeira foi um dos pontos focados, tendo em conta que há poucas semanas, um relatório do Conselho de Finanças Públicas colocava este município do Sotavento Algarvio como estando em rutura financeira.

Uma realidade que Conceição Cabrita nega, tendo em conta que «esta questão da dívida de que tanto falam, é de 2014 a 2016». Há dois anos, segundo o Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses, o Passivo Exigível (Dívida) de VRSA estava nos 76,2 milhões de euros. Desde então, assegurou a autarca, o passivo da autarquia tem vindo «a diminuir», embora seja, ainda, «alto».

«O que aqui está a pesar nesta dívida? Essencialmente, são os juros que estamos a pagar à banca, que é isso que nós queremos descer. Estamos neste momento a tentar renegociá-los. Por outro lado, estamos a tentar limpar alguma gordura. Porque, apesar de eu já ter pertencido ao anterior executivo, o Luís Gomes é uma pessoa e eu sou outra, logo, a forma de gerir a Câmara é diferente».

«Já baixámos algumas despesas e vamos aplicar um novo conjunto de medidas nesse sentido. Temos tido muitas reuniões com os chefes de divisão e iremos apresentar em breve estas medidas de contenção financeira», anunciou.

Os últimos meses, revelou Conceição Cabrita ao Sul Informação, foram de «introspeção». «Estivemos a arrumar a casa, com os vereadores a conhecer as suas pastas, como é que vão ser as novas regras. Estamos a preparar, estamos a fazer novos regulamentos para a área social e em relação às associações. Porque, no passado, demos muito. Eu não me arrependo do que fiz, esta era a minha área. Mas agora há que repensar, de acordo com o investimento que fizemos, como é que temos que o pagar e, portanto, como é que a Câmara se torna autossustentável» disse.

Outra forma de equilibrar as contas é a alienação de «património para investidores». Conceição Cabrita assegura que a ideia «não é alienar por alienar», mas sim fazer negócios que permitam dinamizar a economia local, como os que foram feitos, no passado, com o Hotel Guadiana e com o Grupo Pestana, que irá instalar uma Pousada de Portugal no centro histórico de VRSA.

As medidas a anunciar visam dar resposta aos problemas financeiros do município de VRSA, que levaram a Câmara a pedir 24,3 milhões de euros ao Programa de Apoio à Economia Local (PAEL), em 2014, e a recorrer a novo instrumento de financiamento, desta feita o Fundo de Apoio Municipal (FAM), em 2016, recebendo uma verba de 19,6 milhões de euros.

Os empréstimos são, de resto, a rubrica que mais pesa na dívida de VRSA. Mas a sua contração foi necessária, defende Conceição Cabrita, porque, dessa forma, foi possível avançar com investimentos importantes para o concelho. Quando a atual presidente chegou à Câmara, enquanto vereadora de Luís Gomes – «nunca me posso desvincular dos 12 anos que estive aqui com o engenheiro Luís Gomes, estive oito anos como vereadora e quatro como vice-presidente» – «esta nossa terra, esta minha terra, estava votada ao abandono», alega.

«Já tínhamos cá uma dívida de 30 milhões de euros. Isto é importante que se diga! E, à medida que fomos caminhando, havia que fazer e que implementar projetos», disse. O mais pesado foi o investimento em Saneamento Básico, que ascendeu aos 65 milhões de euros. Mas não foi o único, garantiu a edil vila-realense.

«Logo quando chegámos, tivemos que pagar os 150 fogos de habitação social. Depois, tivemos que começar as piscinas e a biblioteca. A obra das piscinas estava já praticamente a começar, mas tivemos que a pagar. A biblioteca só tinha a pedra que tinha sido lançada e, neste momento, temos ali um equipamento que funciona muito bem e que está todo muito apetrechado», acrescentou.

No caso do Saneamento Básico, recordou a edil vila-realense, o investimento feito «poupou-nos muita desgraça». Desde logo, multas da União Europeia, já que Portugal estava na iminência de ser «multado pelo tribunal a nível europeu, por ter os esgotos a sair para o rio Guadiana», algo que «neste momento já não acontece».

«Mais importante ainda que isso tudo, foi acabar com todos os estragos que presenciávamos cada vez que caía uma quantidade de chuva abundante. As pessoas não podem ter a memória curta e têm que perceber que nunca mais houve cheias. No ano passado, foi uma situação anormal, porque caiu aquela quantidade enorme de granizo, aliada à subida da maré. Mas isso acontece – os sumidouros entupiram», ilustrou Conceição Cabrita ao Sul Informação.

Também houve um «grande investimento na componente social». «Substituímo-nos ao Estado numa data de situações, matámos a fome a muita gente», garantiu.

Outra área privilegiada foi a da educação, que a professora Conceição Cabrita assume como sendo a sua de eleição. «Requalificámos todas as escolas. Quando eu cheguei cá, praticamente ninguém ia para o pré-escolar público por falta de condições. Hoje, temos o gosto de ter três salas de pré escolar abertas, onde os miúdos comem nas cantinas e têm uma alimentação equilibrada, à base de produtos locais».

Conceição Cabrita lembrou, ainda, que VRSA foi «das primeiras autarquias a oferecer os manuais escolares» aos alunos do 1º ao 4º ano. «Demos apoios no que toca a transportes, ajudámos as associações. Tudo isto é investimento na componente social – que eu vejo como um investimento, não um gasto».

Com isto, considera a presidente da Câmara de VRSA, a cidade, «que antes, praticamente ninguém conhecia», está agora «no mapa». «Neste momento, temos uma cidade moderna, requalificada, um concelho que está a avançar», rematou Conceição Cabrita.

O Sul Informação vai lançar, nos próximos dias, mais artigos resultantes da entrevista de fundo feita a Conceição Cabrita.

 

Fotos: Fabiana Saboya|Sul Informação

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