Cerveja «Alcalar» já tem marca registada e integra novo ingrediente secreto

A cerveja pré-histórica «Alcalar», que já é marca registada, está prestes a ser lançada no mercado e é mais uma […]

O mestre cervejeiro André Gonçalves, com a cerveja «Alcalar» – Foto: Ricardo Soares

A cerveja pré-histórica «Alcalar», que já é marca registada, está prestes a ser lançada no mercado e é mais uma ideia desenvolvida pelos mestres cervejeiros da «Marafada», a mais ativa produtora de cerveja artesanal do Algarve.

Esta cerveja pré-histórica foi produzida pela primeira vez há dois anos, num trabalho conjunto entre a arqueóloga Elena Morán e os mestres cervejeiros André Gonçalves e Ruben Silva.

O resultado dessa experiência, que precisou de muita investigação e experimentação prévias, foi dado a provar nos Dias da Pré-História que, em meados de Abril de 2016, tiveram lugar nos monumentos megalíticos de Alcalar.

Depois disso, de cada vez que há atividades de animação patrimonial neste monumento nacional do interior do concelho de Portimão, lá está a dupla de cervejeiros.

E o que tem esta cerveja de especial? Se hoje é o vinho que é mais reconhecido como bebida do Sul, há 5000 anos, quando viviam em Alcalar os seus primitivos habitantes, seria a cerveja a bebida de eleição.

Por isso mesmo, Elena Morán, André Gonçalves e Ruben Silva, com o apoio de António Pereira, do Museu de Portimão, começaram a pesquisar e a fazer experiências para tentar recriar uma cerveja, com os métodos e os ingredientes que teriam sido usados pelos alcalarenses de há cinco milénios.

Elena Morán explicou ao Sul Informação, em 2016, que os ingredientes (cereal e frutos) usados na cerveja «correspondem aos que foram recolhidos por nós, por flutuação, e identificados em laboratório pelo nosso botânico, o Prof. Hans-Peter Stika, da Universidade de Estugarda».

Entre essas sementes com milhares de anos, o botânico identificou o mirto e o pilrito, ou seja, bagas da murta-comum (Myrtus communis) e do pilriteiro (Crataegus monogyna), que se sabe terem sido usados no fabrico de cerveja, muito antes de o lúpulo, vindo do Mar Negro, ter chegado à Europa Ocidental, na Idade Média.

Nas primeiras experiências de produção da cerveja pré-histórica foram então o mirto e o pilrito a ser usados, para dar sabor à cerveja.

Mas, como contou esta semana André Gonçalves ao Sul Informação, «soubemos de novos dados em relação a outros produtos, que não os cereais, e resolvemos substituir o pilrito pela camarinha».

A camarinha (Corema album) é uma baga branca, doce e semi translúcida, quando madura, que cresce em arbustos sobretudo à beira mar, no Algarve. Há muito tempo que é utilizada para fazer compotas, mas agora vai também integrar a cerveja «Alcalar», quem sabe se como terá acontecido nos tempos pré-históricos.

«Esta cerveja, com a camarinha, é algo que julgamos que será ainda mais aproximado do que se fazia naqueles tempos», acrescentou André Gonçalves.

Ruben Silva, outro do mestres cervejeiros, com a cerveja de Alcalar, no Dia da Pré-História

Um dos problemas desta cerveja artesanal feita à moda pré-histórica é que não usa lúpulo, uma planta que estabiliza a cerveja e lhe dá sabor, mas que só chegou à Europa Ocidental milénios depois, na Idade Média. Sem lúpulo, e apesar de todas as experiências que André Gonçalves tem feito na sua unidade de produção situada em Algoz, a nova marca «Alcalar» terá sempre «uma validade curta», não podendo por isso «ser conservada por grandes temporadas» e obrigando a mantê-la e transportá-la «sempre no frio».

A nova marca «Alcalar» deveria ser lançada ao público no próximo sábado, dia 14 de Abril, precisamente naqueles monumentos megalíticos, durante a inauguração da reabilitação feita ao túmulo 9, e no lançamento de mais uma edição do programa de Divulgação e Valorização dos Monumentos do Algarve (DiVaM), promovido pela Direção Regional de Cultura.

Mas André Gonçalves prefere ser cauteloso: «vamos ter algumas garrafas para mostrar e degustar», mas o lançamento só deverá ter lugar uma semana depois, no Dia da Pré-História, marcado para 21 de Abril, também em Alcalar.

«Já fizemos três lotes, pequenos, entre os 100 e os 250 litros, mas ainda estamos a afinar alguns pormenores. Estamos a determinar os tempos de fermentação necessários e a fazer algumas afinações», explicou o mestre cervejeiro.

«Queremos chegar a um resultado que permita lançar a cerveja no mercado, embora em pequenas quantidades, até pelas características únicas do produto», acrescentou.

Por isso, «só no fim da próxima semana, a cerveja estará pronta, em termos de limpeza e de decantação», frisou.

E será que esta cerveja «Alcalar», agora com marca registada para ser lançada no mercado, é igual à que muitos já provaram nas atividades do Museu de Portimão naqueles monumentos? André Gonçalves responde que não, primeiro porque terá um ingrediente novo, a camarinha. Depois, porque «só trabalhamos com leveduras naturais, que são organismos vivos, e de, um ano para o outro, essas leveduras vão sofrendo mutações e vão produzindo produtos diferentes».

Os apreciadores das boas cervejas artesanais agradecem mais esta inovação da algarvia «Marafada» e estão ansiosos por uma viagem no tempo…e no paladar.

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