«Professor José Gameiro, nunca deixe de sonhar!»

«Capacidade de inspiração». Esta é, segundo os funcionários do Museu de Portimão, uma das principais qualidades de José Gameiro, fundador […]

«Capacidade de inspiração». Esta é, segundo os funcionários do Museu de Portimão, uma das principais qualidades de José Gameiro, fundador e atual diretor científico daquela premiada estrutura museológica algarvia.

José Gameiro foi na terça-feira à noite homenageado num jantar do Rotary Clube da Praia da Rocha, que o considerou o «Profissional do Ano». Na sala, completamente cheia, estavam atuais e antigos autarcas de Portimão, muitos membros do Grupo dos Amigos do Museu de Portimão (GAMP), outros amigos e familiares do homenageado, mas também um grupo numeroso de funcionários das mais diversas secções do museu, que fez questão de estar presente e de prestar o seu «tributo».

«Professor José Gameiro, nunca deixe de sonhar!», instou Ana Margarida, a funcionária que leu, em nome pessoal e dos colegas, um pequeno texto de homenagem.

Também Margarida Tengarrinha, dirigente e fundadora do GAMP, mas sobretudo amiga do homenageado, salientou que, nos seus contactos com antigas operárias conserveiras, estas «nunca dizem o Museu, dizem “o nosso Museu”». Um museu verdadeiramente ligado à comunidade onde surgiu e da qual nasceu, característica que lhe garantiu já prémios internacionais, mas também o carinho dos portimonenses.

Porque, como salientou João Alves, presidente do Rotary da Praia da Rocha, o Museu de Portimão é um verdadeiro «projeto de vida» de José Gameiro, que, depois de se reformar das funções de seu primeiro diretor, manteve a ligação umbilical ao seu museu enquanto diretor científico.

Graças ao prestígio alcançado pela estrutura museológica portimonense, José Gameiro acabou por ser convidado para presidente do júri internacional Museu Europeu do Ano, sendo mesmo o primeiro português a assumir tal cargo.

Aliás, mostrando a boa imagem de que o Museu de Portimão goza, o EMF-European Museum Forum escolheu este local para a sua primeira reunião de trabalho em 2018, no próximo sábado, 23 de Fevereiro.

José Gameiro, com algumas das funcionárias do Museu presentes no jantar de homenagem

José Gameiro, no seu breve discurso, recordou que tudo isto resultou, no fundo, de duas decisões que tomou na vida: a primeira foi a sua formação na Escola de Belas Artes de Lisboa, que haveria de lhe dar a possibilidade de ser professor de Artes Visuais, voltando a Portimão para aí dar aulas, mas também o dotou «de uma visão mais estética e simultaneamente mais crítica, fortaleceu a minha perceção pelas áreas do património cultural» e motivou-o «para a importância dos gestos e das atitudes criativas socialmente úteis e transformadoras».

A segunda decisão foi a de, no início dos anos 80, tornar-se sócio de uma associação local, chamada Grupo de Amigos de Portimão, onde conheceu «gente inspiradora», como «o arquiteto Vicente Castro e a qualidade modernista do seu pensamento arquitetónico e urbanístico», o seu colega professor Jaime Palhinha, «entusiasta do nosso património histórico e arqueológico», João Tavares, «grande bibliófilo de Portimão e detentor de uma enorme coleção de postais de todo o Algarve», e ainda Júlio Bernardo, o qual, «através do seu olhar fotográfico», lhe «permitiu o reencontro com a identidade das gentes deste mar e desta terra».

É que, no final dos anos 70 e na década de 80, recordou, «algo de muito inquietante, do ponto de vista da nossa história coletiva, se passava em Portimão, com o encerramento das últimas fábricas de conserva, aliado ao risco iminente do desaparecimento de todo um património e documentação industrial, social e cultural», a que se juntava «o impressionante espólio subaquático que, desde o fundo do Rio Arade, em resultado das dragagens em curso, «enchia as nossas praias, com séculos de história associados aos milhares de peças e moedas lançadas pelas tubagens das dragas».

E foi assim que, há 35 anos, em 1983, Gameiro abordou o então presidente de Câmara Martim Gracias, que, confrontado com as suas preocupações, se virou para o então professor e lhe disse: «Eh pá, então ficas encarregado de arranjar uma Comissão Instaladora do Museu». E assim surgiu um sonho, que só há 10 anos, em 2008, se concretizou no atual Museu, mas que levou a décadas de muito trabalho anterior, museológico, de recolha e de conservação.

O que começou como projeto pessoal passou «a ser fruto de um trabalho de toda uma equipa», criando uma ideia de museu que não é «mero conjunto de objetos em exposição, mas antes um dinâmico ponto de encontro com a nossa identidade e cultura, um observatório atento da nossa sociedade e um laboratório de ideias e projetos».

«Este Museu foi formado a partir do espírito voluntário e desinteressado de cidadãos realmente “Amigos de Portimão” e, hoje como há 35 anos, é na continuidade e na manutenção desse envolvimento da comunidade, com os amigos do museu e todos os cidadãos, que reside a sua maior capacidade de afirmação como museu e como a nossa grande fábrica de histórias», concluiu José Gameiro.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

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