Festival Terras sem Sombra faz estreia mundial de peça de Fernando Lopes-Graça em Serpa

Serpa acolhe, a 3 de Março (21h30, no Musibéria – Centro Internacional de Músicas e Danças do Mundo Ibérico), a […]

Serpa acolhe, a 3 de Março (21h30, no Musibéria – Centro Internacional de Músicas e Danças do Mundo Ibérico), a estreia mundial das «Dez Canções Populares Húngaras», de Fernando Lopes-Graça, em mais um concerto do Festival Terras sem Sombra.

«64 anos depois de ter sido composto, este notável ciclo permanecia no papel», salienta a organização. O concerto, homenagem do festival alentejano ao grande compositor, «revela as suas peças inéditas, de uma beleza emocionante, e, a par delas, as animadas canções da tradição popular magiar em que o mestre se inspirou».

Para este «projeto de largo alcance», o Terras sem Sombra coloca lado a lado artistas lusos e húngaros: a soprano Cátia Moreso e os cantores e bailarinos tradicionais Hanga Kacksó e Áron Vára, acompanhados por Nuno Vieira de Almeida – um grande conhecedor da obra de Lopes-Graça, de quem foi amigo – ao piano, e por Béla Szerényi, na sanfona, na flauta e no “tárogató”.

O evento, organizado em parceria com o Município de Serpa, conta com a colaboração da Academia Liszt.

No Baixo Alentejo ,estará também uma autoridade em música popular europeia, o professor Pál Richter, docente na Academia Liszt e diretor do Instituto de Musicologia da Academia Húngara das Ciências, a mais destacada instituição científica deste país.

 

Hanga Kacksó

Relembrar Lopes-Graça, marco da música portuguesa com projeção internacional

«Afigura-se irónico o destino de Fernando Lopes-Graça em território nacional: um homem de esquerda, respeitado ou odiado pelas suas convicções políticas, quase nunca pela obra deixada como compositor», salienta Nuno Vieira de Almeida.

E acrescenta: «pouca gente conhece verdadeiramente a sua música, que nem sempre é fácil, mas é infinitamente variada e interessante».

Não obstante ter vivido em circunstâncias difíceis, por causa da perseguição política, Lopes-Graça deixou uma produção, talvez mais conhecida fora do que dentro das nossas fronteiras, que o coloca entre os mais importantes compositores do seu tempo. Deve-se-lhe, nomeadamente, a criação de muitas obras originais sobre textos de grandes poetas – Régio, Sophia, Camões, Pessoa, Botto, entre outros –, a par de uma verdadeira procura da música popular.

O seu interesse pela tradição não se limitou, no entanto, a Portugal; uma curiosidade genial levou-o a harmonizar canções tradicionais francesas, inglesas, checas, russas, gregas, americanas, etc.

Este imenso conhecimento de múltiplas linguagens deu origem a verdadeiros prodígios de imaginação e inventividade, iniciados em 1948, com «Six Vieilles Chansons Françaises», e prolongados, até 1969, com «Cantos Sefardins».

Infelizmente, grande parte destas obras permanece inédita, não tendo nunca sido tocada em concerto ou gravada. É o caso das «Dez Canções Populares Húngaras», de 1954.

Por isso, salienta a organização, «a sua apresentação neste festival, em estreia absoluta, reveste-se, portanto, de grande importância artística. Os temas tratados alternam entre o humor, o sarcasmo ou a nostalgia e Lopes-Graça desenvolveu-os com notável expressividade. Uma aproximação às lindíssimas canções originais, tal como eram cantadas na Hungria rural dos séculos XIX e XX, torna o concerto único».

 

Convento de Santo António em Serpa – Foto SIPA

Património e biodiversidade em Serpa: da arte tardo-gótica a oliveiras milenares

O Festival Terras sem Sombra constitui uma porta aberta sobre o que há de mais interessante no Alentejo, em termos culturais e ambientais.

Fiel ao rumo traçado, dedica a tarde do próximo sábado a um monumento nacional muito pouco conhecido, apesar da sua importância histórica e artística: o convento de Santo António, cuja origem está ligada a um dos mais antigos milagres de São Francisco em Portugal.

Fundado pelo infante D. Fernando, duque de Beja, e terminado pelo seu filho, D. Manuel I, constitui um dos tesouros bem guardados de Serpa.

A visita a este monumento nacional começa às 15h00 e é guiada pelos historiadores António Martins Quaresma e José António Falcão e pela arquiteta Maria Manuel Oliveira.

Domingo, 4 de Março, é consagrado, a partir das 10h00, às oliveiras multisseculares do Monte da Zanga. Hoje, os olivais antigos estão em vias de desaparecimento, substituídos por novas plantações cujo impacto não passa despercebido.

Naquela herdade dos arredores de Serpa, porém, subsistem árvores com mais de 1000 anos, um verdadeiro repositório da biodiversidade.

Este olival, alvo de meticulosos cuidados, produz variedades tradicionais de azeitona de onde se extraem azeites com paladares de outros tempos. Uma alternativa à massificação da agro-indústria muito a ter em conta. A atividade é orientada pelo engenheiro agrónomo José Pedro Fernandes de Oliveira.

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