Uma Semana Cultural de nove dias para celebrar os Lugares da Globalização

Nove dias a celebrar a história, a cultura e o património, com música, dança, teatro, artes performativas, videomapping, land art, […]

Nove dias a celebrar a história, a cultura e o património, com música, dança, teatro, artes performativas, videomapping, land art, arte urbana, visitas interpretativas, um seminário e jornadas técnicas, nos cinco concelhos do Algarve que integram a candidatura «Lugares da Globalização» a património da UNESCO.

É este, em resumo, o programa da primeira edição da Semana Cultural Lugares da Globalização, a ter lugar em Lagos, Vila do Bispo, Aljezur, Silves e Monchique, de 16 a 24 de Março.

Esta será a primeira de três edições da Semana Cultural, uma iniciativa financiada pelo CRESC Algarve 2020, promovida pela Associação Vicentina, em parceria com os municípios de Aljezur, Lagos, Monchique, Vila do Bispo e Silves, e ainda com a Direção Regional de Cultura do Algarve e a Região de Turismo do Algarve, bem como com o LAC -Laboratório de Atividades Criativas.

Alexandra Gonçalves, diretora regional de Cultura, sublinhou, na apresentação preliminar do programa que teve lugar esta quarta-feira, na Fortaleza de Sagres, que se trata de «um passo firme» para a candidatura a Património da Humanidade do território destes Lugares da Globalização, no fundo os que estão ligados aos Descobrimentos.

Desidério Silva, presidente da Região de Turismo do Algarve, entidade que lidera a candidatura entregue à UNESCO, salientou que «o turismo só por si, já não chega, se não tiver atividades, atrativos e experiências, se não se juntar à componente do território, se não juntar a cultura, o património e a gastronomia. O Inverno do Algarve é dos melhores do mundo. Mas, para termos mais turismo nos meses em que a ocupação hoteleira costuma ser mais baixa, há que valorizar o histórico, o património, para criar uma oferta cada vez mais integrada e diversificada».

Por seu lado, Adelino Soares, presidente da Câmara de Vila do Bispo, perante uma sala onde estavam vereadoras (e um vereador) de todos os concelhos envolvidos nesta parceria, outro presidente de autarquia (Rui André, de Monchique) e ainda técnicos municipais e de entidades públicas e privadas envolvidas, bem como a pró-reitora da Universidade do Algarve, recordou que «é importante divulgar o nosso património lá para fora», para atrair turistas.

«Mas cá dentro, se calhar, muitos de nós não conhecemos os nossos valores». Por essa razão, apesar de ter uma componente virada para atrair visitantes, no concelho de Vila do Bispo o programa também envolve as escolas.

O pontapé de saída para esta Semana, que afinal terá nove dias, será dado em Lagos, o cais das primeiras viagens de descoberta do Mar Oceano.

Assim, a 16 de Março, o Centro Cultural de Lagos irá receber o seminário intitulado “Lugares de Globalização”, que contará, segundo a organização, com historiadores e investigadores de renome e com gestores culturais e especialistas em património e turismo e na criação de conteúdos turísticos em torno do património, «oferecendo a oportunidade de reflexão em torno destas temáticas e reunindo no mesmo lugar atores locais, regionais, nacionais e também internacionais».

No mesmo dia, a cidade será palco da estreia do espetáculo “O Cais Primeiro”, programação que parte do nome dado a Lagos pelo filósofo Agostinho de Silva.

À noite, as muralhas da cidade e o cais da ribeira serão o local para uma exibição de videomapping. Aliás, esta nova arte vai ainda percorrer, em datas a revelar, outros monumentos de dois dos municípios integrados nesta programação, no caso o Castelo de Aljezur e a Fortaleza de Sagres (Vila do Bispo).

Em Lagos, e graças à parceria com o LAC, irá ainda ter lugar a exposição «Roots», que aborda os temas da escravatura, bem como uma residência artística, em Vila do Bispo, «com um artista convidado». Esta exposição inclui artistas internacionais, nomeadamente de Cabo Verde.

Em Vila do Bispo, no dia 17 de Março, às 15h00, haverá uma visita guiada à Igreja Matriz, «à volta de quatro objetos» aí guardados e que têm a ver com os Descobrimentos, nos séculos XV e XVI, como explicou o historiador municipal Artur de Jesus.

Uma semana depois, a 24 de Março (16h00), o Centro de Interpretação de Vila do Bispo receberá a palestra «Portugal, África e o Mundo – reflexões em torno da História e das heranças culturais», onde se espera que uma das oradoras seja a Secretária Executiva da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), Maria do Carmo Silveira.

Além disso, porque em Vila do Bispo se entendeu que esta Semana deve também envolver o público mais jovem, entre 19 e 23 de Março, as escolas do 1º ciclo (no âmbito das Atividades Extracurriculares) e a EB 2,3 de São Vicente vão receber palestras temáticas «explorando a riqueza iconográfica do “Códice Casanatense 1889”, de uma biblioteca de Roma».

Com o tema genérico «Os Descobrimentos Portugueses e a visão dos povos e culturas do Oriente», trata-se, segundo explicou Artur de Jesus, de explorar um álbum de pinturas, da primeira metade do século XVI, da autoria de um artista indo-português cuja identidade é desconhecida, mas que retrata o mundo onde os portugueses de moviam, no Oriente que tinham acabado de descobrir.

A Semana Cultural Lugares da Globalização inclui ainda quatro jornadas técnicas, voltadas para quem trabalha diretamente com os temas do património e da história no turismo.

As jornadas têm como temas «Da visitação à promoção de experiências: construção de conteúdos», «Novas tecnologias – o turismo cultural e a sua relação com as manifestações artísticas e culturais», «O serviço educativo aliado aos equipamentos culturais e património» e ainda «Modelos de gestão do património e turismo». Realizam-se nos concelhos de Silves e Monchique, entre os dias 19 e 22 de Março, das 14h30 às 17h30.

Além destas iniciativas, segundo foi revelado por Sónia Felicidade, da Associação Vicentina, o «programa intermunicipal em rede» que será implementado nos cinco concelhos algarvios prevê ainda o «alargamento dos horários de abertura de equipamentos culturais, museus e monumentos», bem como «sessões de interpretação do património e de animação turística, com cinco visitas nos cinco concelhos».

As inscrições para o seminário «Lugares de Globalização» e para as Jornadas Técnicas, bem como o acesso a toda a programação, serão disponibilizadas no site do evento (www semanacultural-lugaresdeglobalização.com), que só ficará online no final deste mês de Janeiro.

Aura Fraga, presidente da Associação Vicentina, explicou, na sessão na Fortaleza de Sagres, que o projeto da Semana Cultural se inspira na candidatura à UNESCO. No entanto, o trabalho «não se esgota nesta semana», antes «apela à investigação e à transferência de conhecimento».

Por isso, aquela responsável falou sobre o «desafio» que daqui para a frente se coloca: «o projeto precisa de envolver investigadores, universidades, empresas de animação turística, alojamento e restauração, a imprensa».

A diretora regional de Cultura, por seu lado, sublinhou que, além de pretender atrair mais visitantes ao território dos cinco concelhos parceiros, esta Semana Cultural é também «uma aproximação às pessoas e às comunidades», bem como «um processo de construção de conhecimento conjunto».

O projeto candidatado pela Vicentina e seus parceiros ao CRESC Algarve 2020 contempla a realização desta Semana Cultural Lugares da Globalização durante três anos, ou seja, precisamente até 2020.

A Semana Cultural é ainda apresentada como uma forma de afirmação da candidatura «Lugares de Globalização», que tem a ver com a importância dos chamados Descobrimentos, entregue à Comissão Nacional da UNESCO e submetida pela Região de Turismo do Algarve, em parceria com a Direção Regional de Cultura e municípios do território alvo.  Isso permite a inscrição desses territórios na Lista Indicativa de Portugal a Património Mundial.

Estes lugares espalham-se por cinco países: Portugal (Lagos, Vila do Bispo, Aljezur, Monchique e Silves, no Algarve, Angra do Heroísmo e Vila do Porto, nos Açores, e ainda Funchal, na Madeira), Espanha (Ceuta), Cabo Verde, Marrocos e Mauritânia.

Trata-se, segundo os promotores da candidatura, de lugares que «fazem parte da memória universal associada ao imaginário de importantes mudanças históricas».

A Semana Cultural «Lugares de Globalização» pretende, em torno deste tema, «contribuir para afirmar o Algarve enquanto destino cultural, apostando na sua história comum, e desenvolver uma cultura de empreendedorismo pela afirmação dos seus valores culturais e patrimoniais».

Pretende ainda «promover a reflexão entre património e turismo, assim como fomentar a diversificação das funções tradicionais do património e cultura, de forma a promover a criação e o fortalecimento de atividades económicas inovadoras, criativas e complementares».

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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