Há uma “cratera” na Praia do Peneco, em Albufeira, a atrair todas as atenções. O buraco foi aberto para as obras de reconstrução de um apoio de praia e os trabalhos que estão a decorrer suscitaram reações negativas nas redes sociais e dúvidas da Associação Almargem, quanto à sua legalidade.
No entanto, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), o a obra de construção do novo apoio de praia, que vai substituir um outro, destruído por uma tempestade em 2002, está licenciada e a ser acompanhada.
Em comunicado enviado às redações, a Associação Almargem «exige» a «paragem e reversão imediata das obras em causa», uma vez que considera que este apoio de praia «está a ser construído sem estar previsto como apoio de praia no POOC Burgau-Vilamoura (ainda em vigor), embora esteja previsto no mais recente POC Odeceixe-Vilamoura (por razões desconhecidas ainda não aprovado formalmente pelo governo)».
Para a associação ambientalista, «fala-se muito de riscos na zona costeira, em grande parte derivados das alterações climáticas, mas, ao mesmo tempo, vai sendo assegurada a permanência de habitações e equipamentos em áreas susceptíveis de virem a ser atingidas pelo avanço do oceano. Aliás, justamente perto do local onde este restaurante está a ser agora edificado, foi há anos destruído pelo mar um pequeno apoio de praia».
Contactado pelo Sul Informação, Sebastião Teixeira, delegado regional da APA, esclareceu que a obra em curso é justamente para substituir esse pequeno apoio de praia, de alvenaria, chamado Esplanada Raposo, que foi destruído por um temporal, «em 2002 ou 2003». Ou seja, a obra acaba por respeitar o POOC, porque já existia.
O responsável pela APA no Algarve explicou que esta é uma requalificação «como centenas que temos vindo a fazer no Algarve». Esta obra, em particular, teve de esperar, uma vez que, «depois da alimentação do areal, feita em 2011, tivemos de aguardar para confirmar que a areia se aguentava e 90% da areia que foi posta inicialmente permanece, o que é bom».
Depois de avaliada a estabilidade do areal, «foram definidos locais para a implantação dos apoios de praia», que devem ficar «suficientemente afastados das arribas, fora das faixas de risco, por isso o local é aquele», acrescenta.
Em relação à “cratera” aberta no areal, Sebastião Teixeira explicou que «os apoios de praia têm de ser fundados. Não podem ser só assentes em estacaria na areia, têm de estar fundados sobre rocha. Debaixo da praia, à semelhança de todas as praias com arriba, existe uma plataforma de abrasão, que tem um fundo de rocha. O que acontece neste caso é que, como se fez a alimentação da praia, estão quatro metros de areia sobre ela e tem de se fazer um grande buraco, porque a areia só aguenta taludes com pouca inclinação».
O delegado da APA esclarece que as estacas que estão colocadas nesse «grande buraco» constituem a fundação do apoio de praia. No local da escavação, é ainda visível água, como o Sul Informação constatou. Segundo Sebastião Teixeira, a água aparece porque «se atingiu o nível freático, que é o nível da água do mar».
São ainda visíveis no areal cilindros de betão, que serão usados como «sapatos» para as estacas, dando mais resistência. «Quando se acabar a estacaria, a areia será toda reposta e os cilindros de betão ficam com dois metros de areia em cima. Isso serve para salvaguardar a segurança do apoio, no caso de vir um [furacão] Hércules, ou um “primo” dele. Serve para ter a certeza de que o apoio de praia se mantém, mesmo que a praia não tenha areia, porque a areia é sempre transitória», explica o responsável.
Sebastião Teixeira admite que a obra, «vista de cima, é impressionante, porque é uma grande cratera, mas a explicação é simples. Não há nada de estranho, que nós não saibamos, nem que a Câmara não saiba. Estava perfeitamente previsto», conclui.
Veja as imagens dos trabalhos:
Fotos: Nuno Costa|Sul Informação
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