Igualdade de género motivou aceso debate na Secundária Manuel Teixeira Gomes em Portimão

«A igualdade de género tem a ver com aquilo com que a pessoa se identifica, já não há só feminino […]

«A igualdade de género tem a ver com aquilo com que a pessoa se identifica, já não há só feminino e masculino. Se eu me identificar como x, eu serei x». As palavras são da Rita, uma das centenas de estudantes da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, de Portimão, que segunda-feira de manhã encheram por completo o salão polivalente, para falar sobre «Igualdade de Género», tema deste ano letivo do programa Parlamento dos Jovens.

O convidado principal era o deputado algarvio Paulo Sá, mas os protagonistas acabaram mesmo por ser os jovens adolescentes, que, durante duas horas, debateram com garra o tema proposto. E, como confessou uma professora ao Sul Informação, «há aqui tanto raparigas, como rapazes, o que é muito positivo, porque se pensa que este tema interessa sobretudo às raparigas».

Com o deputado Paulo Sá a moderar o debate, por vezes acalorado, começou por falar-se dos direitos da parentalidade, que a Rita considerou que devem ser iguais entre pai e mãe, mas que outras colegas consideraram dever privilegiar as mães. «Nos primeiros tempos de vida de uma criança, a mãe é mais importante, até por causa da amamentação», defendeu a Catarina. «Mas não tem de ser a mãe a alimentar a criança», ripostou a Inês.

«E se for um pai solteiro?», interrogou o Tiago, «não tem os mesmos direitos?». O Tiago, aliás, iria ser protagonista de uma das maiores vaias gerais da manhã, à qual respondeu com um enorme sorriso: «se for um amigo meu a ficar em casa para tomar conta do filho, é óbvio que eu vou gozar com ele». «Porquê?», perguntou de imediato o deputado Paulo Sá. «Porque há anos que é assim», respondeu o Tiago. «Mas tem que ser assim ou podemos ter outra postura?», insistiu o parlamentar.

«Se toda a gente tiver a mesma mentalidade do nosso amigo Tiago, o mundo nunca irá para a frente», contrapôs a Beatriz, numa afirmação saudada por um forte aplauso geral. «Retrógrado!!», gritou um grupo de raparigas do meio da sala.

E o Tiago, descontraído, voltou para explicar melhor a sua ideia: «eu iria brincar com o meu amigo, mas para ele sentir que eu o apoio», não para o discriminar.

E foi então que o João se chegou à frente e disse: «eu sou um rapaz que partilha a opinião destas raparigas. Eu vou ser pai e quero ter o direito de cuidar do meu filho».

Outra Beatriz falou ainda da questão da desigualdade no trabalho, entre homens e mulheres: «porque é que eu me candidato a um posto de trabalho, tenho a mesma formação, as mesmas notas, mas não tenho o mesmo ordenado de um homem?».

O deputado Paulo Sá respondeu: «a lei diz – trabalho igual, salário igual. Mas a realidade é outra!».

Falou-se também da violência doméstica. Vários estudantes, rapazes e raparigas, começaram por levar o assunto sobretudo para o facto de haver poucos homens a queixar-se, «por vergonha». «Os homens também sofrem violência, só que não admitem», disse a Andreia.

Mas Paulo Sá, ainda que admitindo que há violência doméstica contra homens, sublinhou, para que não restassem dúvidas quanto à gravidade da situação em Portugal: «as estatísticas são claríssimas: as principais vítimas são de longe as mulheres. É a realidade objetiva. Em Portugal, em 2017, foram assassinadas 19 mulheres vítimas de violência doméstica e nenhum homem!»

A Cristina partilhou com a assistência, mais de 250 pessoas, na sua maioria estudantes, mas também alguns professores, um caso de violência doméstica contra uma mulher, que conhece bem. Acusou: «a polícia não fez nada, apesar das queixas!»

E a Sónia respondeu-lhe: «a Polícia não fez nada? Mas nós somos o futuro, temos aqui futuros polícias, que podem ajudar nisso», se a mentalidade mudar.

O parlamentar convidado para esta primeira sessão do ano da iniciativa Parlamento dos Jovens ainda tentou, por várias vezes, levar a conversa para a questão, séria e muito presente no dia a dia dos estudantes, da violência no namoro. Mas as centenas de jovens presentes não agarraram a deixa, nem chegaram a falar sobre isso…ficará para depois.

A rematar uma manhã de debate intenso, uma das alunas virou-se para Paulo Sá e perguntou-lhe: «se isto é um debate sobre igualdade de género, porque é que não veio aqui um deputado e uma deputada?».

O parlamentar algarvio sorriu e explicou: «há dezenas de sessões do Parlamento Jovem, a decorrer ao mesmo tempo em todo o país e os deputados vão a essas sessões, independentemente de serem homens ou mulheres. Se tivéssemos de vir dois a cada sessão, só haveria metade das sessões».

Antes, Custódio Moreno, diretor regional do IPDJ, já tinha adiantado «só uns números», para ajudar à discussão: «no IPDJ, em termos de desporto federado na nossa região, temos cerca de 30 mil praticantes…mas 21 mil são homens. A política é muito “macha” também: no Algarve, há 16 presidentes de Câmara, mas só quatro são mulheres. Na Assembleia da República, há 230 deputados, mas só 75, menos de um terço, são mulheres».

A sessão do Parlamento dos Jovens na Secundária Manuel Teixeira Gomes, organizada pela Biblioteca Escolar, atraiu o interesse de mais de 250 alunos – de tal forma que o local teve de ser mudado, à última hora, do auditório para o polivalente – tendo também sido marcada pelo debate vivo sobre o tema do ano, a Igualdade de Géneros. Aliás, educar para a cidadania, estimulando o gosto pela participação cívica e política, promover o debate democrático, o respeito pela diversidade de opiniões e incentivar a reflexão e o debate sobre um tema são os objetivos genéricos desta iniciativa.

No fundo, a intervenção do Gabriel resumiu o muito que se discutiu ao longo de mais de duas horas na Secundária portimonense: «Será que não chegou a altura de nós mudarmos, de repensarmos o papel da mulher e do homem na sociedade?»

O Parlamento dos Jovens é uma iniciativa institucional da Assembleia da República, organizada em colaboração com o Ministério da Educação, o Instituto Português da Juventude e outras entidades, com o objetivo de promover a educação para a cidadania e o interesse dos jovens pela participação cívica e pelo debate de temas da atualidade.

Trata-se de um projeto que é desenvolvido ao longo do ano letivo com as Escolas de todo o país que desejarem participar, culminando com duas Sessões Nacionais que se realizam anualmente na Assembleia da República. No Algarve, haverá ainda uma sessão regional, a 6 de Março.

O tema em debate para o ano letivo de 2017/2018 comum às duas edições (ensinos básico e secundário) é Igualdade de Género.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues|Sul Informação

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