Lagos: “Roots” aborda escravatura nas vertentes histórica e contemporânea

A programação “Conexões ROOTS”, pensada para refletir as várias visões que se tem da escravatura, quer na sua vertente histórica, […]

A programação “Conexões ROOTS”, pensada para refletir as várias visões que se tem da escravatura, quer na sua vertente histórica, quer na parte mais contemporânea, nomeadamente através da arte, arranca esta sexta-feira, 10 de Novembro, em Lagos. 

O pontapé de saída é dado às 18h00 com um debate, na Galeria Lar, no LAC, em Lagos, sobre o tema “Das Caravelas às Estufas: percursos da condição de escravo no Algarve entre os séculos XV e XXI”.

As apresentações estão a cargo do professor Arlindo Caldeira, acerca de “Ser escravo no Algarve nos séculos XV a XIX”, de Edileny Tomé da Mata (“Da escravidão à cidadania negroafricana: o caso da Andaluzia”) e de Sofia Justino, da Associação para o Planeamento da Família (APF), que fará uma intervenção junto da população imigrante sobre a “sexualidade reprodutiva e tráfico de seres humanos”.

Já no sábado, 11 de Novembro, há, a partir das 10h30, uma visita comentada ao Núcleo Museológico Rota da Escravatura e ao núcleo urbano medieval-moderno, com os arqueólogos Elena Morán e Rui Parreira.

Para as 18h30, está marcada, por sua vez, a atuação do músico “M-PeX” e do bailarino “El Conguito”, na Galeria Lar.

No dia 18 de Novembro, às 18h00, há a inauguração de uma exposição de artes plásticas no Armazém Regimental de Lagos, seguindo depois a visita para a exposição na Galeria Lar. Os artistas convidados são El Conguito (França), Kwame Sousa (S. Tomé e Príncipe), Mikko Angesleva (Finlândia), Valdemar Doria (S. Tomé e Príncipe) e M-PeX (Portugal).

No mesmo dia, haverá apresentações “Roots”, com M-PeX e “El Conguito”, em hora e local ainda a definir. Esta mostra ficará patente até 27 de Janeiro, podendo ser visitada de quinta-feira a sábado, das 15h00 às 20h00.

De modo a enriquecer a residência artística “Roots”, que decorre até 20 e Novembro, no Laboratório de Atividades Criativas, o LAC, não só dando material de pesquisa aos artistas convidados, mas também de modo a partilhar experiências, estudos, conceitos e ideias, «tornou-se pertinente criar um programa transversal durante a residência e continuando durante a exposição», explica a organização.

Este “Conexões Roots” «é assim um programa informal que pretende estimular a reflexão sobre os princípios que suportam a criação desta residência, pensado para refletir as várias visões que se tem da escravatura, quer na sua matriz histórica onde se articula no conhecimento levantado pelos estudos arqueológicos mais recentes, quer nas conexões estabelecidas por alguns intervenientes na contemporaneidade», acrescenta.

O próprio “Roots” «é uma residência artística que aborda o tema da escravatura através de uma visão contemporânea, criando novas rotas e fluxos transculturais, através da reflexão da diversidade cultural dos países outrora colonizadores, e colonizados, e as suas influências na criação de uma miscigenação global e plural, questionando e identificando as raízes desse processo».

Partindo da descoberta de um cemitério de antigos escravos – tratando-se na realidade de uma lixeira com 155 esqueletos amontoados uns sobre os outros no Vale da Gafaria – «o LAC decidiu levar a cabo o projeto, convidando artistas das artes plásticas, música, dança e performance para, em residência artística, desenvolverem um trabalho que tenha como ponto de partida a realidade esclavagista, sendo estes livres para desenvolverem o seu trabalho, individual ou coletivamente».

“Roots” remete «para o significado original da palavra, quer no sentido de ter sido o escravo arrancado das suas raízes ancestrais, quer para as raízes que, com o passar do tempo e de sucessivas gerações, foram criadas nos países de destino, moldando a sua identidade cultural contemporânea como, por exemplo, se torna evidente nos casos do Brasil e Cabo Verde».

A juntar a isto remete «ainda para a ideia de rota, percurso e viagem, porta de partida e de chegada, de que Lagos é exemplo e participante ativo».

“Roots” conta já com três apresentações: 2011, em Lagos, 2013 Maputo (Moçambique) e 2014, em São Tomé e Príncipe.

Em 2017, o “Roots” regressa a Lagos para, a partir do lugar inicial do projeto, «reforçar o seu pendor internacional e preparar-se para atingir outros continentes e outras realidades culturais, equacionando, a partir de novas e diferentes perspetivas, as dimensões, quer históricas, quer contemporâneas, do fenómeno da escravatura» e as «suas causas e consequências políticas, sociais, económicas e culturais».

O LAC – Laboratório de Actividades Criativas é uma associação cultural sem fins lucrativos formada em 1995 e com sede na Antiga Cadeia de Lagos.

A associação é um espaço de residências artísticas que tem como prioridade desenvolver e alargar o PRALAC – Programa de Residências Artísticas no LAC, com o objetivo principal de dinamizar e promover a criação artística na região e especialmente na zona do Sudoeste Algarvio.

Ali são desenvolve diversos projetos internacionais, como o ARTURb – Artistas Unidos em Residência, “Roots” e “Kick in the eye”. O LAC é uma estrutura financiada pelo Ministério da Cultura/Direcção Geral das Artes.

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