Conferência de homenagem a Mário Ruivo arranca com reflexão sobre “sociedade azul”

Passar do conceito de uma «economia azul» para outro, mais abrangente, de «sociedade azul». Esta foi a ideia defendida por […]

João Guerreiro, Maria Eduarda Gonçalves, Ana Paula Vitorino, António Branco, Rogério Bacalhau, Ned Dwyer e Patricio Bernal

Passar do conceito de uma «economia azul» para outro, mais abrangente, de «sociedade azul». Esta foi a ideia defendida por Ned Dwyerdiretor executivo do Centro Europeu de Informação em Ciência e Tecnologia do Mar “Eurocean”, esta segunda-feira, 13 de Novembro, na conferência internacional “Desenvolvimento Sustentável dos Oceanos: uma utopia útil”, de homenagem ao professor Mário Ruivo, que decorre no Campus de Gambelas da Universidade do Algarve (UAlg), em Faro. 

Esta é uma iniciativa que pretende celebrar o legado do professor Mário Ruivo, falecido em Janeiro deste ano, para o conhecimento do Oceano, reunindo, para tal, especialistas internacionais.

De acordo com Ned Dwyer, «ao falar mais de sociedade azul do que economia azul, percebemos que o oceano tem um papel importante a desempenhar nas nossas vidas, é fundamental para a nossa existência e não é apenas um recurso económico».

Até porque «o oceano dá-nos oxigénio, peixe» ou «energia». Neste processo de mudança, é necessário promover uma «literacia dos oceanos» que encoraje a «tomar decisões informadas, e responsáveis, sobre o oceano e os seus recursos».

Este responsável considerou que as «pessoas agora já pensam um pouco mais» em assuntos como a poluição marinha associada ao plástico. Isto apesar de haver quem ainda tem o entendimento do oceano como sendo apenas «um espaço para relaxar».

Ned Dwyer

O professor Mário Ruivo foi mesmo um dos grandes impulsionadores da necessidade de conhecer melhor o oceano. «O Mário viu a importância de o conhecimento do oceano não ser só para os cientistas, mas para todas as pessoas», considerou Ned Dwyer.

Nesta sessão de abertura, houve discursos de António Branco, reitor da Universidade do Algarve, Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro, Patricio Bernal, antigo secretário geral da Commission Océanographique Intergouvernemental (COI) da UNESCO, Jean-Pierre Levy, ex-diretor de Divisão das Nações Unidas para Assuntos do Oceano e do Direito do Mar, Vladimir Ryabinin, secretário geral da COI, Ned Dwyer, João Guerreiro, representante do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ricardo Serrão Santos, eurodeputado, Maria Eduarda Gonçalves, professora do ISCTE e viúva de Mário Ruivo, e Ana Paula Vitorino, ministra do Mar.

Todos foram unânimes no contributo que Mário Ruivo deu para conhecer melhor os oceanos. Quem não esteve presente, mas não deixou de enviar uma pequena nota, que foi lida no início, foi Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.

«Mário Ruivo foi um cidadão política e civicamente empenhado na condução dos destinos do Portugal que tanto amou», disse. A somar a isto, «aliava um espírito científico admirável a um compromisso firme e inequívoco com as causas comunitárias. Pelo muito que nos deu, a memória de Mário Ruivo deve ser evocada nos tempos que vivemos», realçou.

António Branco, reitor da UAlg, disse, neste sentido, que Mário Ruivo, Doutor Honoris Causa da Universidade do Algarve, «foi um exemplo de um cientista humanista» que «juntava uma visão integrada dos problemas».

Já Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, fez uma revelação durante o seu discurso: «foi o Mário Ruivo que me convenceu de que era necessário haver um ministro do Mar e de que eu poderia aceitar esse desafio».

Além disto, a governante também salientou a «persistência» que marcou a sua vida e o facto de o biólogo marinho ter sido uma «pessoa excecional».

Na sessão de abertura, também esteve Maria Eduarda Gonçalves, viúva do biólogo marinho, que disse que o programa da conferência «espelha as ideias chaves que nortearam Mário Ruivo», com a questão do desenvolvimento sustentável dos oceanos à cabeça.

Até amanhã, 14 de Novembro, a Universidade do Algarve vai ser o espaço para especialistas discutirem questões como a “Exploração de Recursos e Biotecnologia Marinha”, as “Alterações Globais e Riscos”, “Observação e Tecnologia no Oceano”.

Para ver o programa completo clique aqui.

Mário Ruivo, que nasceu em 1927, é reconhecido como um dos pais do novo regime do Oceano e da integração deste nos objetivos do desenvolvimento sustentável. Dedicou-se à investigação, ensino, promoção da cooperação em assuntos do mar e sensibilização de governos e opinião pública a uma governação responsável do Oceano.

Biólogo de formação pela Universidade de Lisboa desde 1950, especializou-se em Oceanografia Biológica e Gestão dos Recursos Vivos Marinhos na Universidade de Paris – Sorbonne, Laboratoire Arago (1951-54). Era também Doutor Honoris Causa pela Universidade dos Açores.

Desempenhou cargos dirigentes no sistema das Nações Unidas, como na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, de 1961 a 1974, e na Comissão Oceanográfica Intergovernamental, da UNESCO, de que foi secretário de 1980 a 1989. Foi, ainda, Conselheiro Científico da EXPO’98 e membro/coordenador da Comissão Mundial Independente para os Oceanos.

Participou no processo respeitante ao estabelecimento, em Lisboa, da European Maritime Safety Agency (EMSA), em 2002, e foi promotor e presidente do European Centre for Information on Marine Science and Technology, de 2002 a 2008. Era representante da Fundação para a Ciência e Tecnologia no European Marine Board.

Foi agraciado com ordens honoríficas nacionais e estrangeiras e outras distinções e prémios, sendo, por fim, autor de várias publicações sobre Oceanografia e Governação e Cooperação em Assuntos do Oceano.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

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