Arqueologia: Prospetores do Projeto IPSIIS fazem trabalho único a nível nacional

José de Sousa e Paulo Viegas, dois dos fundadores do Projeto IPSIIS, foram os convidados de mais uma tertúlia promovida […]

José de Sousa e Paulo Viegas, dois dos fundadores do Projeto IPSIIS, foram os convidados de mais uma tertúlia promovida pelo Grupo dos Amigos do Museu de Portimão, tendo como tema as descobertas feitas, na sua atividade de prospeção nos locais de descarga das areias provenientes das antigas dragagens no estuário do Arade e na Ria de Alvor.

O IPSIIS, criado em 2001, na dependência do já extinto CNANS (Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática), e que em 2014 se constituiu como associação, passando a ficar sob a tutela direta do Museu de Portimão, é «uma exceção a nível nacional». É que os seus 18 membros têm autorização para, munidos de detetores de metais, «prospetar apenas nas zonas de depósitos de dragados, nomeadamente as praias», situadas à volta do estuário do Arade e na Ria de Alvor (ver imagem na fotogaleria).

Ao contrário de outros prospetores ilegais, os membros deste grupo têm uma autorização especial para fazer o seu trabalho, mas também têm obrigações – como a de, no prazo máximo de 48 horas, declarar as peças encontradas e entregá-las ao Museu de Portimão. O património que é encontrado nas areias dragadas e depositadas nas praias dos concelhos de Portimão e Lagoa é do Estado, ou seja, é de todos nós, e nenhum prospetor pode fazer negócio com o que encontra.

José de Sousa, presidente da Associação Projeto IPSIIS, salienta que, ao longo dos anos, já foram encontradas largas centenas de objetos, «desde o Calcolítico aos nossos tempos». «O período romano é, de todos, o mais bem representado», acrescentou.

 

Alguns dos objetos encontrados pelo IPSIIS e hoje expostos no Museu de Portimão

Moedas, objetos do quotidiano como fivelas, fíbulas e argolas, pedaços de candelabros, gomis (uma espécie de jarro para líquidos em metal), compassos de cartear, um lingote em bronze e outro em prata, sondas romanas e raras etiquetas em chumbo colocadas nas asas das ânforas, ou mesmo objetos com função religiosa, como o «Taurus» (touro), um ex-voto da Cultura Ibérica, em bronze, da II Idade do Ferro (Séculos VI – IV a.C,), tudo isso tem sido encontrado, classificado e entregue por este grupo de prospetores.

Além das muitas peças que estão em exposição no Museu de Portimão, há centenas de outras que estão nas reservas, à espera de ver a luz do dia. O trabalho, enquadrado por um protocolo com aquele Museu, é realizado em estreita articulação com a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) e a Direção Regional de Cultura do Algarve.

José de Sousa, que foi o descobridor do Touro com mais de 2500 anos que hoje é uma das peças estrela do Museu de Portimão, tem, no entanto, uma mágoa: que os investigadores portugueses, das universidades, não se interessem pelas peças que este grupo de prospetores tem resgatado das areias das praias…e das garras de gente bem menos preocupada com o património.

E contou mesmo um caso passado com o próprio Estado português: «há uns anos, o Estado anunciou a compra, num leilão internacional, de um compasso de cartear do tempo dos Descobrimentos, para ser mostrado na Expo98. Mas só nós recuperámos cinco compassos desses, cuja descoberta foi devidamente comunicada ao CNANS. No entanto, ninguém se lembrou de falar connosco e de vir cá buscá-los».

E hoje, ainda se encontram peças nas praias? Paulo Veigas responde que sim, sobretudo após as tempestades. «As tempestades ajudam, já que as probabilidades de encontrarmos peças aumentam», pela agitação que é feita nas areias e na costa. Uma das últimas, a famosa tempestade Hércules que, há quase três anos, tantos prejuízos semeou pela costa portuguesa fora, deu uma boa ajuda aos membros do IPSIIS.

Agora, com o seu trabalho a ser supervisionado pelos arqueólogos do Museu de Portimão, após um protocolo estabelecido em 2011, o IPSIIS vai em breve «colaborar com as dragagens que serão feitas na Ria de Alvor», revelou, na tertúlia, a arqueóloga Isabel Soares, chefe de divisão e diretora do Museu.

A terminar esta tertúlia “Conversas com Portimão ao fundo”, que teve casa cheia, com muita gente a ter de ficar de pé, houve uma prova dos sabores do Outono e de um São Martinho já tão próximo, com as propostas gastronómicas do Chef Emídio Freire, do restaurante «Faina», do Museu de Portimão. Foi uma forma saborosa de terminar uma tertúlia que entrou já pela noite dentro.

 

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