O CHUA e o trogloditismo – exagero?

A propósito da constituição e agravamento da tragédia, que foi, primeiro a fusão dos hospitais públicos do Algarve e criação […]

A propósito da constituição e agravamento da tragédia, que foi, primeiro a fusão dos hospitais públicos do Algarve e criação do mal sucedido CHA, a seguir a transformação do Centro Hospitalar do Algarve (fusão dos hospitais) em Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e a sua gestão, surgiu-me, com alguma insistência, o termo trogloditismo, vida de trogloditas em cavernas, ou seja, regressámos ao tempo das cavernas.

Esta é uma situação que se arrasta desde há seis anos, como uma tentativa de destruição do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que, no Algarve, foi de certo modo conseguido, especialmente nos hospitais públicos, com forte incidência no Centro Hospitalar do Barlavento/Portimão e Lagos.

Tanto assim foi que a proliferação de hospitais e clínicas privadas no Algarve nos últimos seis anos foi desenfreada. Foram só seis (6) hospitais e 10 clínicas e por alguma razão foi!

Aliás, em 2016, o Estado pagou às instituições privadas, a nível nacional, 5 mil milhões de euros por serviços prestados, como consultas, exames complementares e SIGIC (cinco mil milhões!). Investiu nos privados e desinvestiu nos serviços públicos!

Este foi o caminho inicial, consciente e destruidor do SNS, trilhado no tempo da troika (ministro da Saúde ao tempo e o seu capataz/médico para o Algarve), perfilhado, no imediato, por um Conselho de Administração inepto e incompetente, e continuado pelo atual ministro da Saúde, com a criação de uma estrutura complexa e difícil de gerir por pessoas capazes, dinâmicas, sem preconceitos e com seriedade.

Quem não conseguiu gerir um hospital, não conseguiu gerir o CHA, e agora ninguém consegue gerir o CHUA, constituído pelo Hospital de Faro, Centro Hospitalar do Barlavento (Portimão/Lagos), Centro de Medicina Física e Reabilitação de S. Brás de Alportel, com internamento e afetação à Universidade do Algarve.

Parece-me lógico! Foi de monta este tsunami que se abateu sobre o Algarve e sobretudo sobre o Barlavento:
1- Aniquilamento da organização
2- Desmotivação e descrédito dos profissionais
3- Saída de profissionais para outras instituições públicas e privadas
4- “Desvio” para Faro de equipamentos clínicos, equipamentos de secretariado e de cozinha
5- Perda da capacidade de atrair profissionais
6- Fim de algumas valências (por exemplo: Dermatologia) ou diminuição de atividade de outras (por exemplo: cardiologia, etc.)
7- Redução do acesso aos cuidados de saúde
8- Diminuição da qualidade dos cuidados de saúde prestados (vide Serviço de Urgência)
9- Ausência da apresentação de indicadores de avaliação do desempenho hospitalar, como taxa de mortalidade total, infantil e neonatal, taxa de reinternamento precoce, taxa de infeções nosocomiais, etc…
10- Aumento de custos, com a fusão dos hospitais (estudo recente da Universidade do Algarve)
11- Limpeza hospitalar e condições de assepsia deficientes
12- Descredibilização dos hospitais públicos

São doze itens, como poderiam ser 24. No fundo, foi tentar eliminar ou mesmo eliminar o que havia de bom no Barlavento e introduzir o que de deficiente ou mau existe em Faro.

Esta opinião mantém-se desde há muito tempo, desde outros tempos, desde o tempo das cavernas. É o trogloditismo na sua plenitude, que ainda não conseguiram ultrapassar!

E aí, desculpem-me a frontalidade, mas são muito pouco inteligentes. Quanto melhor for o Centro Hospitalar do Barlavento, melhor para o Hospital Central de Faro e, neste caso, melhor para o CHUA, melhor para a organização e especialização em determinadas áreas do Hospital Central de Faro e melhor para a comunidade, quer a residente, quer a que está em trânsito.

Ou não será? Mas a inveja e a arrogância prevalecem e perduram em detrimento do bom senso. É mesmo tempo das cavernas! Pretendem, com certeza, apenas um Hospital de Cuidados Continuados em Portimão? Ou um Hospital de Retaguarda?

Fiquei um pouco menos apreensivo, ao ler, no jornal «Expresso» de 23 de Setembro, a entrevista nas páginas centrais com o Dr. António Arnaut e o Dr. João Semedo, com relevo para “Arnaut e Semedo propõem regresso aos SNS original”, ou ainda, “privados e Misericórdias não poderão concorrer, nem conflituar com serviço público”.

Parabéns amigos. Leiam este jornal e o livro a editar e terão a prova do que tem sido o fartar vilanagem nestes últimos seis anos!

Ainda a procissão vai no adro, mas, na minha modesta opinião, um rolo compressor está a iniciar o esmagamento do Diretor Clínico do CHUA, imposto neste novo Conselho de Administração, maioritariamente farense (4-1).

Excelente profissional e gestor, que já demonstrou as suas qualidades como Diretor do Serviço de Cirurgia do Hospital de Portimão, provavelmente não vai conseguir impor as suas ideias no CHUA. Não vão deixar e provavelmente até já tem substituto na calha, proveniente do Hospital Central de Faro, e ficará então 5 – 0. É apenas uma intuição e uma impressãozita!…

E por hoje vou terminar esta minha opinião sobre a Saúde no Algarve, dar conhecimento destes dados e manifestar, como fiz desde o início, que sou um opositor do CHA e agora do CHUA, em documentos que em tempos enviei para as Autarquias do Algarve, para o Grupo Parlamentar de Saúde, para o Sr. Primeiro Ministro, para o Sr. Ministro da Saúde, para o Sr. Bastonário da Ordem dos Médicos e até para o Sr. Presidente da República.

Fui sempre pessimista em relação à fusão dos hospitais e tinha razão! Agora continuo pessimista em relação ao CHUA. Não prevejo nada de bom, especialmente para o Barlavento Algarvio, e agora ainda menos, após as nomeações dos Diretores de Departamento.

Oxalá me engane! Os portugueses do Barlavento não são portugueses de segunda! Atenção ao trogloditismo!

Autor: Luís Manuel de Andrade Rodrigues Batalau
Médico, com a cédula profissional 13895 da Ordem dos Médicos

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