Educação ambiental ganha nova força no Algarve com a REASE

Roteiros de descoberta da natureza, conferências, exposições e atividades de campo com crianças, são algumas das iniciativas que, até ao […]

Foto: Almargem

Roteiros de descoberta da natureza, conferências, exposições e atividades de campo com crianças, são algumas das iniciativas que, até ao final de Novembro, vão servir para promover a educação ambiental no Algarve.

Estas atividades estão a ser promovidas pela Rede de Educação Ambiental para os Serviços dos Ecossistemas (REASE).

O projeto, coordenado pela Associação Almargem, reúne também o Agrupamento de Escolas João de Deus (Faro), o Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, o Centro Ambiental da Pena-Loulé, os Centros Ciência Viva de Faro e Tavira, e os Centros de Formação de Professores do Litoral à Serra, da Ria Formosa e do Levante Algarvio, enquanto entidades executoras.

André Pinheiro, da Associação Almargem, explicou ao Sul Informação que «tem havido, ao longo dos anos, vários projetos, informais e formais, em conjunto. A REASE vem operacionalizar, reavivar e oficializar parcerias já existentes, permitindo, por exemplo, comprar material que possa ser partilhado pela rede, renovando o existente».

André Pinheiro

O coordenador técnico do projeto acrescenta que, «pelo facto de não haver muitas entidades que promovam atividades de educação ambiental, isso aproxima-as. Ao haver esta proximidade, temos boas condições para fazer uma rede que permite complementaridade de conhecimentos e temáticas para alcançar mais público na área da educação ambiental».

A Ria Formosa, o Vale da Asseca, em Tavira, e a zona do Trafal e da Foz do Almargem, em Loulé, são os pontos chave das atividades promovidas pela REASE, «pelas problemáticas mais relevantes perto de nós. A ideia é a valorização da orla costeira como um ecossistema que gera serviços, não só culturais, como também ambientais».

André Pinheiro explica que «as zonas de sapal são um dos ecossistemas mais produtivos do mundo e nisso assenta um dos eixos chave da Estratégia Nacional de Educação Ambiental 2020, que é a descarbonização. Descobriu-se que este tipo de ecossistema é responsável pela fixação do dióxido de carbono em grandes quantidades. A estratégia de descarbonização passava pela redução das emissões de carbono, mas, desta forma, o que estamos a fazer é aumentar o que a natureza consegue processar, podemos tratar esta problemática de outra vertente».

Segundo o membro da Almargem, «ao não protegermos estes ecossistemas, estamos a contribuir para que níveis de carbono aumentem na atmosfera. Pretendemos sensibilizar para este tipo de serviço, além de vantagens mais óbvias que estas zonas têm ao nível do fornecimento de alimento, ou do turismo».

Cristina Veiga-Pires, diretora do Centro Ciência Viva do Algarve, Rui Santos, do CCMar, Rita Borges, diretora do Centro Ciência Viva de Tavira, Helena Barracosa, professora na Escola Secundária João de Deus, Manuel Reis, do Centro Ciência Viva do Algarve, e André Pinheiro, da associação Almargem

No âmbito da REASE, o CCMAR vai «formar pessoas nesta problemática. Este carbono absorvido pelas plantas, neste tipo de ecossistemas, é o denominado carbono azul. O CCMAR vai sensibilizar, através de mini-projetos curriculares, que já estão a decorrer com o Agrupamento João de Deus, levando alunos ao terreno, para perceberem que estudos podem ser feitos».

Os alunos das escolas também vão ser envolvidos numa atividade de campo promovida pela Almargem que «vai fazer saídas para recolha de macro-invertebrados. Os miúdos vão para a ribeira, apanham macro-invertebrados e é-lhes explicado que, se tens determinados animais, é bom; se faltam alguns animais, quer dizer que a qualidade da água é má. Com esta brincadeira, estamos a reunir centenas de fichas que permitem identificar deterioração de determinados locais ou que demonstram a sua recuperação».

A cerca de 4000 alunos de agrupamentos de escolas do Algarve, será ainda distribuído um inquérito cujo objetivo «é reunir informação sobre os locais onde são encontrados anfíbios e répteis atropelados, que é maior causa de mortalidade destes animais. Isto permite identificar pontos negros, que podem permitir vir  a tomar ações muito concretas nessas zonas, como a criação de passagens subterrâneas: faz-se uma espécie de vedação que culmina num túnel e os animais passam por aí», em segurança.

Para os mais crescidos, a Almargem vai promover passeios guiados, como o que se realizou no passado domingo, pela zona do Trafal e da Foz do Almargem. Nestas caminhadas, «João Santos, que foi professor de biologia, vai sensibilizando as pessoas para as diferentes problemáticas. Ele tem um conhecimento muito amplo e vai alertando as pessoas para como as zonas se foram deteriorando e o que se está a fazer para travar isso».

Ribeira de Cadoiço – Foto: Almargem

Farão ainda parte destes roteiros de descoberta da natureza, «uma observação de anfíbios em Olho de Paris, em São Brás de Alportel, um roteiro de biodiversidade no Vale da Asseca, a 12 de Novembro, e um passeio pela ribeira do Cadoiço, em Loulé, a 25 de Novembro, sobre património natural e cultural, que será guiado por um biólogo e um professor de história».

O Projeto REASE vai ainda promover exposições temáticas, organizadas pelos Centros Ciência Viva, e duas conferências e debates, «uma sobre o Vale da Asseca, para discutir o que a Câmara de Tavira poderia promover na zona, quer ao nível da proteção da biodiversidade, quer geológica, e outra sobre a Fonte da Pipa, a ribeira do Cadoiço e o Parque Urbano, que é um projeto da Câmara de Loulé para recuperar a zona rural e criar um parque para valorizar a biodiversidade», explica André Pinheiro.

No final do projeto, serão feitas também duas publicações temáticas online, uma delas sobre património natural no Vale da Asseca e outra sobre o Cadoiço, o Trafal e a Foz do Almargem. «Estas publicações vão incluir a avaliação geral do local e propostas para o melhorar».

Será também na Internet que serão publicados «apanhados das conferências, os resultados dos inquéritos, das recolhas…  Esta plataforma será a sede da REASE», acrescenta o membro da Almargem.

O final do projeto está marcado para dia 30 de Novembro, mas «a ideia é manter a rede. A ideia será fazer uma nova candidatura conjunta para a obtenção de fundos, incluindo novos parceiros. Quanto mais se alargar a rede, melhor», conclui André Pinheiro.

O REASE foi o único projeto aprovado no Algarve pelo programa do Fundo Ambiental e a Almargem e os seus parceiros esperam que, depois desta primeira fase em 2017, outras se possam seguir.

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