Conhecer as profundezas do Algarve vai ser mais fácil já em 2018

Provavelmente, os nomes Algar Medusa, Algar Maxila ou Algar João não lhe dizem nada. É a 78, 90 ou 60 […]

João Varela e Pedro Andrés

Provavelmente, os nomes Algar Medusa, Algar Maxila ou Algar João não lhe dizem nada. É a 78, 90 ou 60 metros de profundidade, respetivamente, no Cerro da Cabeça, em Moncarapacho, que pode encontrar todas estas grutas. Boa notícia: conhecê-las vai ficar mais fácil. É que o Centro de Estudos Espeleológicos e Arqueológicos do Algarve (CEEEAA) tem, já para o próximo ano, prevista a publicação do “Inventário das Grutas do Cerro da Cabeça”.

Este será o culminar de um trabalho de mais de duas décadas e que tem dois rostos: João Varela, presidente do CEEEAA, e Pedro Andrés, do mesmo centro de estudos. «Se não compilarmos tudo, num trabalho de muitas e muitas horas, os dos dos levantamentos já feitos acabam por se perder», explica João Varela ao Sul Informação.

Juntos, Pedro e João já desceram às profundezas do Algarve (literalmente) e agora querem dar a conhecer uma boa parte delas, a todo o público, nem que seja só em livro. «Neste inventário, vamos ter o mapa de cada gruta, uma foto da entrada, aspetos referentes às formações calcárias que se podem encontrar e o seu estado de conservação», diz João Varela ao Sul Informação.

E como este vai ser um livro que quer chegar a todas as pessoas, a linguagem «não vai ser muito científica e complexa», adianta o espeleólogo.

No total, neste livro vão estar descritas cerca de 90 grutas, sendo o Cerro da Cabeça um dos sítios no Algarve onde há mais. Para o livro, por agora, «ainda falta fazer a exploração e o mapa de cinco ou seis», adianta João Varela.

Mas, até ser publicado, fique já a saber algumas das particularidades das grutas do Cerro da Cabeça, onde pode encontrar, por exemplo, morcegos, estalactites, estalagmites, colunas, e até bandeiras (formações que parecem ser leques).

Morcegos no Algar da Figueira

O Algar Maxila tem esse nome porque lá foi encontrada «uma maxila petrificada, de um animal», diz João. Já para o Algar Medusa, a história é outra. Naquela gruta, há um primeiro poço, ou seja uma descida, com 33 metros, e, na transição entre o segundo e o terceiro poço, vê-se uma formação, «toda em calcite, em forma de medusa», conta João Varela.

Aquela publicação tem tanto uma função pedagógica – «dar a conhecer o mundo subterrâneo» – como de prevenção. «Queremos que o público, no geral, tendo acesso à informação, ganhe mais respeito pelo património subterrâneo».

É que está em curso «uma destruição latente» em muitas destas grutas do Algarve. Essa degradação, alerta João Varela, «tem aumentado e é visível nestas grutas do Cerro da Cabeça».

Por exemplo, «ao fim de semana, há jovens que vão para o campo e, vendo entradas de fácil acesso, fazem graffiti e vandalizam o património».

Com este livro, o interesse pelas grutas do Cerro da Cabeça irá, em princípio, crescer. Tal levará a que haja mais pessoas interessadas em visitar as grutas. Aliás «esse é um dos nossos objetivos», explica João Varela.

E não poderá isso levar ao aumento do vandalismo e, até, a questões como estar a afetar colónias de morcegos? Segundo o presidente do CEEEAA, a ideia é que essas pessoas visitem as grutas na companhia de alguém do Centro, portanto em segurança e sensibilizadas para a importância de proteger tudo o que envolve aquele património.

Este é um livro feito inteiramente do suor e trabalho de João Varela e Pedro Andrés. «Não temos nenhum tipo de apoio. Houve alturas em que tivemos o patrocínio esporádico da Região de Turismo do Algarve para dar a conhecer trabalhos, através da revista “Boletim Medusa”, um género de anuário do que fazíamos», recorda João Varela.

Atualmente, o CEEEAA tem 30 membros, que pagam uma quota anual de apenas 10 euros. Aos fins de semana, alguns juntam-se para promover verdadeiras descobertas do património no subsolo do Algarve. Normalmente, é através de cartas geológicas que tomam conhecimento da possível existência de grutas. «Vemos o tipo de rocha que existe, vamos aos sítios e fazemos a exploração», conta João.

Nesta demanda, também há quem os ajude. «Por vezes, há agricultores que nos avisam que ali pode haver uma gruta», explica, entusiasmado.

É que engane-se quem pensa que, no Algarve, apenas se pode encontrar grutas no Cerro da Cabeça. Todo o barrocal é rico nesse património, tal como o repórter do Sul Informação teve oportunidade de constatar na zona da Varjota, em Loulé, na descida ao Algar da Figueira.

Aquela é, apenas, uma gruta com cerca de seis metros de descida (uma pequena vertical), mas nela podem-se encontrar mais morcegos do que aquilo que é habitual.

João e Pedro não abdicam mesmo de continuar a explorar todo este património porque um dos projetos que têm na manga é fazer um inventário de todas as grutas do Algarve. «Queremos replicar isto para toda a região, apesar de, por agora, o projeto estar em stand by», revelou ao nosso jornal.

Há por isso que esperar por essa verdadeira bíblia das grutas do Algarve. Até lá, a partir do próximo ano, os interessados poderão ficar a conhecer medusas ou maxilas, ao longo das 150 páginas que terá o livro.

«Isto é fundamental para potenciarmos o renascimento do Centro. Queremos atrair novos membros e até ter mais fundos para comprar material, uma vez que cada equipamento de descida custa cerca 500 euros», conclui João Varela.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

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