«É interessante perceber como os peixes estão adaptados ao seu ambiente»

Nascida em Coimbra, Anabela Maia é professora universitária e investigadora na Eastern Illinois University, nos Estados Unidos. Radicada neste país, […]

Nascida em Coimbra, Anabela Maia é professora universitária e investigadora na Eastern Illinois University, nos Estados Unidos. Radicada neste país, Anabela Maia produz investigação e dá aulas na área da biomecânica dos peixes. Esta entrevista foi realizada no âmbito do GPS – Global Portuguese Scientists, um site onde estão registados os cientistas portugueses que desenvolvem investigação por todo o mundo.

Pode descrever de forma sucinta (para nós, leigos) o que faz profissionalmente?

Sou professora universitária na Eastern Illinois University.
A minha área de investigação é a da biomecânica de peixes, ou seja, estudo como é que os peixes se deslocam e a função de cada barbatana e de cada músculo para se movimentarem.
Estudo também o custo energético associado à locomoção, tanto em condições naturais, como em condições de perturbação, como na presença de poluentes, alterações de temperatura e na presença de turbulência. Dou ainda aulas de Anatomia e Fisiologia Humana, Animal e Comparada.

Agora pedimos-lhe que tente contagiar-nos: o que há de particularmente entusiasmante na sua área de trabalho?

Quando pensamos em peixes, a questão de como se movimentam não é propriamente a primeira coisa que nos vem à cabeça. Pensamos mais, se calhar, num peixinho grelhado…
Mas na realidade, tal como nós, os peixes gastam muita energia para se deslocarem de A para B. Quando visito um aquário, perco-me a reparar na diversidade de formas e cores das suas barbatanas. Porque são estas estruturas tão diferentes?
A resposta é mais fácil de encontrar no laboratório, onde podemos controlar algumas das condições – velocidade da água, tipo de corrente – e observar, com recurso a lasers e a câmaras de alta velocidade, como é que as barbatanas interagem com a água para o peixe se movimentar. É deveras interessante quando conseguimos perceber como um peixe está incrivelmente adaptado ao seu meio ambiente.

Por que motivos decidiu emigrar e o que encontrou de inesperado no estrangeiro?

Decidi imigrar para fazer o meu doutoramento em tubarões. Queria perceber mais sobre a fisiologia e o comportamento dessas espécies e havia na altura poucas oportunidades para o fazer em Portugal.
Mudar-me do ambiente universitário português, onde era bolseira de investigação, para o ambiente universitário americano, enquanto aluna de doutoramento, mostrou-me um mundo de contrastes.
Uma das diferenças que saltou logo à vista é como nos Estados Unidos se dá muito menos importância aos títulos e há muito menos formalidades entre alunos e professores.
A outra grande diferença, que é mais regional (costa nordeste dos Estados Unidos), foi como ajudar um colega era uma coisa nunca vista e há sempre a necessidade de pagar em espécimes os favores, por exemplo, se dou de comer ao gato do vizinho, recebo um vale de oferta para um restaurante ou café.
Em termos profissionais, também foi uma lufada de ar fresco perceber que há muito mais fontes de financiamento, tanto para investigação, como para desenvolvimento profissional.

Que apreciação faz do panorama científico português, tanto na sua área como de uma forma mais geral?

Portugal deu passos muito grandes em termos de criar um elevado número de investigadores em áreas críticas, mas continua sem conseguir atrair e reter investigadores de qualidade.
As universidades continuam a ter poucas oportunidades para os doutorados se integrarem no quadro docente e continua-se a fazer carreira de bolsa em bolsa, com oportunidades precárias.
O desenvolvimento científico tem um potencial económico muito elevado e tem de se continuar a apostar nas ciências fundamentais e aplicadas, para criar mais valias que irão continuar a atrair empresas a Portugal, em busca de quadros técnicos especializados.
O programa científico português tem de ter uma visão mais estratégica que vise criar oportunidades sustentáveis a médio e longo prazo. Uma outra forma de criar mais-valia que se está a começar a desenvolver, mas que ainda pode crescer, são as cooperações entre universidades e pólos industriais e tecnológicos, com espaço para incubadoras de pequenas empresas startup.

Que ferramentas do GPS lhe parecem particularmente interessantes, e porquê?

A rede GPS apresenta-se como uma excelente oportunidade para divulgar o que os Portugueses fazem pelo mundo inteiro, recrutar alunos e desenvolver parcerias.

 

Consulte o perfil de Anabela Maia no GPS – Global Portuguese Scientists.
GPS é um projeto da Fundação Francisco Manuel dos Santos com a agência Ciência Viva e a Universidade de Aveiro.

Autor: GPS/Fundação Francisco Manuel dos Santos
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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