Quando a contabilidade é ao preço da chuva

Desde que a Ordem dos Contabilistas Certificados (antes Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas) foi obrigada a extinguir os honorários […]

Desde que a Ordem dos Contabilistas Certificados (antes Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas) foi obrigada a extinguir os honorários mínimos, verificou-se uma diminuição dos honorários praticados pelos Contabilistas Certificados (CC) independentes, através de novos contratos ou sua renegociação.

Mas a que se deve esta descida? Racionalmente, só constato três situações responsáveis: crise financeira, maior competitividade entres os CC e menos obrigações declarativas (nomeadamente fiscais, contabilísticas).

Se analisarmos estas três situações, verificamos que, devido à crise económica mundial e nacional, a oferta e a procura reajustaram-se, conduzindo a uma maior competitividade, como em todas as outras áreas qualificadas, apesar de haver (desde 2009) um crescimento anual do número de empresas registadas em Portugal.

Contudo, as obrigações declarativas que necessitam da intervenção do CC não diminuíram, muito pelo contrário, aumentaram, “sufocando” cada vez mais os CC, a nível de tempo.

Deste modo, só consigo encontrar uma explicação plausível para a quebra nos preços: a emoção, neste caso o medo de perder o cliente para outro colega, a sobrepor-se à racionalidade.

Será assim tão grave perder um cliente? Salvo situações excecionais, os clientes só procuram outros CC por quebra de confiança entre ambos, por incompatibilidades ou por não apreciarem ou não entenderem, tecnicamente, o trabalho que está a ser desenvolvido pelo CC (cabe ao CC “caprichar” neste campo).

Não devem os Contabilistas Certificados ser racionais e não se sujeitarem a avenças que nem dão para pagar um quarto do subsídio mensal de alimentação de um funcionário? Sim, porque já ouvi empresários afirmarem, com orgulho, que têm “uma avença com o Contabilista ao preço da chuva”, por menos de 25€ mensais!

Se, na ótica dos CC, honorários de valor diminuído podem trazer mais problemas do que benefícios, na ótica dos empresários, preço baixo (escolher o CC ao preço da chuva) é como ir a um restaurante de qualidade duvidosa e querer um serviço de excelência, ou seja, há grandes mais probabilidades de ficarmos completamente desiludidos e quiçá mal servidos…

Assim, não é bom para ambos os intervenientes aceitar um serviço ao desbarato. É preciso, principalmente, que os CC percebam que a sua responsabilidade é enorme, que os seus erros são punidos com coimas bastante pesadas, não tendo medo de perder “maus” clientes. E é também necessário que os empresários entendam que jamais podem ter um serviço de qualidade (de apoio à gestão com rigor e qualidade) quando os honorários são ao preço da chuva.

 

Autor: Miguel Luzia
CC Nº 92184

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