Rita Redshoes mais madura vai a Loulé apresentar “Her”

Rita Redshoes vai apresentar esta sexta-feira, 24 de Fevereiro, às 21h30, no Cine-Teatro Louletano, o seu novo disco “Her”. Este quarto […]

Rita Redshoes vai apresentar esta sexta-feira, 24 de Fevereiro, às 21h30, no Cine-Teatro Louletano, o seu novo disco “Her”. Este quarto álbum tem sido apresentado como o mais maduro da artista Rita Pereira, no qual procurou criar a música que mais a toca.

«Queria voltar ao primeiro disco e assumir essa sonoridade clássica, que, olhando para o que oiço em casa e me arrepia mais, tem a ver com as cordas e as melodias mais intemporais», explica a artista ao Musicália|Sul Informação.

Com esta ideia em mente, rumou a Berlim para gravar com Victor Van Vugt, produtor australiano que tem no seu historial “Murder Ballads”, de Nick Cave, ou “Trailer Park“, de Beth Orton, e trabalhos com P.J. Harvey, Depeche Mode, The Fall, Billy Bragg ou Einsturzende Neubauten.

Esta foi a primeira vez que Rita Pereira saiu de Portugal para gravar as suas músicas e fê-lo com um objetivo concreto: «ir para Berlim e estar um mês e meio concentrada e fechada no disco trouxe coisas novas para as canções e na forma como as interpreto».

Quanto à escolha do produtor, reconhece que é um elemento que nem sempre é bem percebido, «às vezes nem pelos músicos», mas que pode influenciar todo o processo de produção.

«É como se fosse o braço direito do artista no processo de gravação. É com ele que o artista discute o que vai ser o disco, qual a sonoridade e que conceitos, que artistas vão tocar, quais as músicas, que caminho se vai seguir. É o parceiro, tem de saber equilibrar os tempos das coisas, quando se deve parar, quando gravar, gerir emoções, é uma espécie de treinador», diz Rita Redshoes.

A artista tem procurado explorar diferentes ambientes nos seus trabalhos. No primeiro disco, fez a ponte entre a sua formação clássica e um lado mais pop, no segundo abraçou o seu lado mais folk, mais orgânico, já no terceiro decidiu aventurar-se ainda mais, procurando o produtor/músico brasileiro Gui Amabis, para desconstruir a sua vertente mais clássica, optando por um “som partindo”, usando samples em vez das cordas reais.

Pelo meio, participou em bandas sonoras onde explorou outras sonoridades e outros instrumentos. Esta é, provavelmente, uma das vertentes menos conhecidas da compositora, mas aquela que, admite, lhe dá mais gozo. «Gosto muito fazer música para cinema e teatro, se pudesse, era apenas o que faria, porque é um espaço de grande liberdade criativa e o ponto onde encontro todas as linguagens que mais admiro», explica.

Apesar de a música produzida ter de se enquadrar num contexto e numa mensagem já criada, a artista considera que é aí que pode explorar melhor a sua criatividade musical. «É onde eu posso explorar outras vertentes melódicas, harmónicas e instrumentais, a escolha dos instrumentos e sonoridades. É onde não tenho barreiras. A liberdade é maior e é muito saudável, porque me descentra da minha carreira e personalidade criativa, enquanto compositora de canções e dos meus discos».

No terceiro trabalho, “Life Is A Second Of Love” (2014), falava-se de um crescimento na carreira de Rita Pereira, onde era notória a passagem da Rita-menina para a Rita-mulher, sendo que “Her” é a afirmação dessa mulher, aceitando a maturidade, como a capacidade que de ir assumindo os erros, não os escondendo ou camuflando.

«Sinto-me calma, em paz comigo mesma, com o que vou fazendo sem medo de mostrar o que sou neste momento e lidando com isso. Essa calma acaba por passar para aquilo que se compõe, a forma como se canta, como se toca, aquilo que se procura. Acho que este disco é mais um passo nesse sentido, nesse caminho», diz Rita Redshoes.

Um caminho que a leva a canções como “Sou mulher”, um apanhado do disco, muito no feminino, «mas onde não se esquece o masculino» ou “Desire but no Fire”, que ganhou um novo rumo quando foi partilhada em estúdio com os músicos e produtor, fazendo com que a sua «mensagem tivesse passado melhor». Já “Bird Hunter”, uma das preferidas da artista, tem uma melodia clássica e uma letra que ficou finalizada assim que foi escrita, sem necessidade de mais retoques.

A confiança que se atinge com a idade e com a experiência de palco reflete-se também nas letras de “Her”, resultando num disco mais direto, mas com mensagens subtis. Se, nos álbuns anteriores, a escrita era mais metafórica, neste, há canções que, mesmo podendo ter várias interpretações, são mais diretas, talvez até mais duras.

«Neste momento, senti a necessidade de escrever as coisas assim e acho que antes não teria conseguido fazê-lo e isso tem a ver com um autoconhecimento maior», explica a artista.

A segurança que sente nesta altura levou Rita Pereira a atrever-se a escrever em português. Esta é uma novidade num disco de originais de Rita Redshoes, mas não na sua carreira.

Em 2012, no espetáculo The Other Women cantou um tema escrito por Xana (Rádio Macau) e a ligação que se criou com quem assistia fez crescer uma vontade de fazer mais, que foi sendo trabalhada.

«Ao longo deste tempo, fui fazendo experiências em casa e também tive alguns convites para cantar em português, ao vivo, e gravar com os GNR. Foi um desafio, não vou negar, até porque a língua tem muitas arestas, há coisas que, às vezes escritas são muito bonitas, mas cantadas não resultam», considera.

São três as canções que canta na sua língua materna – Mulher, Fé na Vida e Vestido – músicas que nasceram naturalmente. «Não me sentei horas à secretária a escrever em português, acho que isso vem de já ter havido um trabalho prévio, que não foi tão exposto, mas que me trouxe a este sítio que me é confortável».

Para os fãs mais atentos, houve a oportunidade de seguir, quase passo a passo, o processo de produção e gravação, algo que começou por ser um registo pessoal para a posteridade, mas que ganhou uma outra dimensão. «Não queria perder, no tempo e na memória, o que estava a viver ali com aqueles músicos fantásticos e com aquele produtor. Depois, fez sentido partilhar isso com o resto das pessoas».

Apesar de os vídeos conterem alguns momentos mais íntimos, decidiram partilhá-los, aproveitando para ir contando a história do disco, quem são as pessoas que o gravaram, e o que o público poderia esperar dele. O retorno que teve de quem assistiu aos websódios reforçou essa opção, já que permitiu que fizessem um caminho até chegarem ao produto final e tiveram um acesso raro aos momentos de estúdio.

«Criaram imagens e sonoridades na cabeça, antes de ouvirem o disco todo, e isso acabou por aproximá-los das temáticas e de mim como músico em estúdio, porque, habitualmente, têm contacto com o lado mais do palco e dos concertos e perdem esse outro lado que é de muito trabalho, muitas horas e muita repetição», explica Rita Redshoes.

Na partilha dos momentos com o seu auditório, o concerto em Loulé é, maioritariamente, de apresentação do novo disco. A grande novidade é a concretização de uma antiga ambição de Rita Pereira de se fazer acompanhar em palco por um quarteto de cordas, que irá dar uma nova sonoridade aos clássicos da artista, que não podiam faltar, criando «novas interpretações e novos espaços e ambientes nas músicas antigas».

Para além dos dois violinos, viola e violoncelo, Rita Pereira conta com Nuno Lucas, no baixo, e Rui Freire, na bateria, dois músicos que habitualmente a acompanham ao vivo.

Este é o terceiro concerto inserido no ciclo musical “Femina”, que vai levar ao Cine-Teatro Louletano, ao longo de 2017, grandes vozes no feminino. Seguem-se Luísa Sobral, a 18 de Março, e Áurea, a 22 e 23 de Abril.

O concerto tem a duração de 75 minutos e os preços variam entre os 10 euros – para maiores de 65 anos e menores de 30 anos – e os 12 euros. O Cartão de Amigo é aplicável neste evento.

Oiça e veja “Life is Huge”:

A entrevista completa:

 

 

Comentários

pub