O som do bater dos martelos no cobre vai voltar a Loulé

O curso de Caldeireiro Artesanal, do Loulé Criativo, foi o ponto de partida para se reativar esta profissão. Terminada a formação, […]

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O curso de Caldeireiro Artesanal, do Loulé Criativo, foi o ponto de partida para se reativar esta profissão. Terminada a formação, os quatro aprendizes estão agora em aperfeiçoamento, ainda supervisionados pelo mestre Analide Carmo. E o futuro parece risonho: a antiga loja do Mestre Ilídio, na Rua da Barbacã, em Loulé, vai voltar a abrir para todos os alunos formados poderem exercer «esta arte que não queremos que se perca».

A ideia, explicada ao Sul Informação por Graça Palma, da empresa ProActiveTur, responsável pelo projeto Loulé Criativo, é ter um «espaço onde os caldeireiros possam trabalhar», não criando só uma loja, mas também «um espaço para workshops». A loja já foi adquirida pela Câmara de Loulé e aguarda a ida, que, apesar de tudo, é facultativa, dos quatro aprendizes para o espaço.

A previsão, dada por Joaquim Mealha, técnico da autarquia louletana, é que a partir de «Janeiro ou Fevereiro de 2017», os quatro aprendizes se possam mudar de tachos e cataplanas para a Rua da Barbacã.

Enquanto não se materializa esta ida, é nuns armazéns da Câmara de Loulé que o processo de aperfeiçoamento dos aprendizes, após o fim do curso no início do mês de Novembro, se dá.

 

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Na oficina improvisada onde se trabalha tanto o cobre como o latão, o reboliço é grande: guiados pelo mestre Analide Carmo, os aprendizes vão metendo mãos à obra. Veem-se (muitos) martelos, compassos, esquadros, tesouras… e a forja, onde se acende o fogo e se pousam as peças de cobre para depois se tornarem mais moldáveis. No ar, ecoa o som caraterístico do martelo a bater no cobre, que até obriga a que os aspirantes a caldeireiros usem uma proteção nos ouvidos.

Marco Cristovam é um dos aprendizes desta «arte». Ferreiro de profissão, já foi, inclusive, considerado o mais jovem a exercer este ofício, tal como deu conta o Sul Informação. Por ter faltado a algumas sessões do curso, está um pouco atrasado face aos colegas na aprendizagem do ser-se caldeireiro. «O facto de o tempo da formação se ter estendido é muito bom, porque dá para aprender melhor», diz, de sorriso na cara.

O seu objetivo, ao frequentar este curso, foi aprender o ofício… para poder «complementar» o que já sabe da arte de ferreiro. O facto de se associar mais facilmente os caldeireiros – e as suas peças – às cataplanas ou os tachos, por exemplo, é algo que Marco Cristovam quer mudar. «São coisas mais antigas», explica. Logo, «quero pegar nisto numa vertente mais artística. Criar coisas novas, como esculturas, e fugir do tradicional», acrescenta, convicto.

Quer David Cabrita, quer Heinz-Jueren Cramer (o quarto formando não estava presente aquando da reportagem do Sul Informação) também já têm algum passado neste tipo de trabalhos. David é carpinteiro, após ter sido ferreiro, ao passo que Heinz também «trabalha com ferro e pedras». Este alemão rumou ao Algarve há 16 anos e, após o curso, confessa já se sentir apto a fazer as suas «próprias peças».

Neste sentido, David Cabrita também já está a trabalhar numa peça sua: um relógio. Por agora, vai cortando e fazendo as formas da futura obra. No início, tal como Marco, pensou que iria querer juntar a arte de ser caldeireiro, ao que já sabia de carpintaria. Só que… «já notei que isto, só por si, dá», conta, de avental vestido.

Todas as peças que os aspirantes a caldeireiros estão a fazer (e já fizeram) têm um objetivo: «ser usadas em exposições ou em mercadinhos, como os que temos na Avenida», explica, por sua vez, Joaquim Mealha.

 

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Bem no meio da oficina, a trabalhar numa base para um futuro castiçal, está Analide Carmo. Pelas mãos do mestre passa agora uma base que será usada num castiçal. Tudo é feito ao pormenor: primeiro bate-se o cobre, depois este é colocado na forja para poder ficar mais moldável, sendo limpo, com ácido sulfúrico, com o objetivo de se tirar as marcas do fogo da forja.

O processo «demora mais tempo», mas, para o mestre Analide Carmo, estas peças feitas à mão «são únicas». «À máquina, conseguimos ter uma peça feita em poucos minutos, mas não é a mesma coisa», diz. No entanto, em pleno século XXI, ainda haverá pessoas interessadas em comprar este tipo de produtos? O Mestre Analídio pensa que sim. E dá a cataplana, «que está tanto na moda», como exemplo.

Quanto ao curso que ministra, diz que é «um trabalho muito positivo», já que não quer «que se perca este ofício». E a ida dos caldeireiros para a antiga loja do Mestre Ilídio parece ser, neste sentido, um bom sinal.

Ainda assim, este não é o único objetivo de futuro para os aspirantes os caldeireiros. Joaquim Mealha refere que é também intenção «mais adiante ligar tudo com a gastronomia». A juntar a isto, está também o objetivo de ser possível, no futuro, «encomendar ou reparar peças», conclui.

 

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Fotos: Pedro Lemos|Sul Informação

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