Câmara de Faro rejeita proposta de 2 milhões de euros por peça do Museu Municipal

A Câmara de Faro rejeitou, esta tarde, por unanimidade, uma proposta de 2 milhões de euros pela compra da peça […]

nkisi nkondi1A Câmara de Faro rejeitou, esta tarde, por unanimidade, uma proposta de 2 milhões de euros pela compra da peça de arte africana «Nkisi Nkondi», que faz parte do espólio do Museu Municipal.

A oferta foi feita pela galeria inglesa Entwistle, especializada neste tipo de artefactos, há cerca de um mês e meio, apurou o Sul Informação. 

No documento para votação, levado a reunião de Câmara, assinado pelo vice-presidente Paulo Santos, eram dadas duas hipóteses aos vereadores: o reconhecimento do «interesse na prática dos atos e procedimentos conducentes à alienação da peça Nikisi Nkondo, património do município, destinando-se o respetivo valor a investimento no espaço do Museu Municipal de Faro e valorização cultural do mesmo», ou «não reconhecer interesse na prática dos atos e procedimentos conducentes à alienação da peça Nikisi Nkondi, património do Município».

No documento lê-se que Niki Nkondi «é uma das principais peças do acervo patrimonial do Museu Municipal de Faro, quer pelas suas características únicas de objeto ritualístico, associado a práticas tribais do Congo, ligadas à feitiçaria e espiritualidade» e que «a sua presença em exposições de museus de referência na área da antropologia, tornaram esta peça uma das mais viajadas e com maior currículo dentro do conjunto de bens culturais do Museu Municipal de Faro».

Museu de Faro
Museu de Faro

A proposta considerava ainda que «a peça acrescenta ganhos na visão internacional e universalista que o museu pode ter, nomeadamente mostrando as diferentes latitudes religiosas e espirituais existentes e que por aqui também passaram, bastando lembrar a cidade de Faro, como um local portuário e de convívio entre diferentes culturas».

Por outro lado, o documento reconhecia que o investimento no espaço do Museu, para onde seria canalizada a verba da venda, é considerado «prioritário, sobretudo no aumento da área expositiva, assim como no aumento da área das reservas e relocalização de alguns serviços técnicos, enquadrando-se na ótica da reabilitação urbana prevista pelo PARU» e que a «cidade de Faro não possui relação particular com esta peça de origem africana, a não ser o facto de ter sido recolhida e oferecida por um munícipe local em 1917 (João de Sousa Viegas)».

Ao início da tarde, cerca das 14h00, quatro horas antes do final da reunião de Câmara, o PS Faro, em comunicado enviado às redações, acusava o executivo liderado por Rogério Bacalhau, do PSD, de «delapidar os bens culturais dos farenses».

Para os socialistas, «a proposta de venda deste bem cultural, alegando razões financeiras, é um verdadeiro escândalo e coloca a nu a ausência de uma estratégia para a afirmação de Faro».

No entanto, na reunião de Câmara, a alienação da peça foi rejeitada por unanimidade, ou seja quer pelo PS, quer pelo PSD, quer pela CDU.

Fonte da Câmara de Faro disse ao Sul Informação que «nunca houve a intenção de vender esta peça» e que este comunicado dos socialistas «nos deixou muito surpreendidos», uma vez que «quando a proposta foi recebida, houve uma reunião com os vereadores da oposição onde foi dada a conhecer a intenção de não a aceitar. No entanto, não cabia ao presidente, ou ao vice-presidente, rejeitar uma proposta deste valor e tornava-se obrigatório que fosse a Câmara a fazê-lo».

Por isso, segundo a mesma fonte, os vereadores socialistas «sabiam desde este dia que não era intenção vender o património, mas preservá-lo, enriquecê-lo e melhorá-lo. Há a plena consciência que esta peça enriquece muito quer o concelho, quer o Museu».

Na reunião de Câmara, além da rejeição da alienação da «Nkisi Nkondi», foi aprovada, também por unanimidade, uma proposta para que seja feita uma avaliação imparcial do artefacto e um seguro, para que fique protegido.

 

Sobre a peça Nkisi Nkondi:

Esta peça data do século XIX e incorporou no espólio do Museu Municipal de Faro em 1917, tendo sido recolhida na fronteira do Congo (Ionbe) com Angola e Zaire. De forma antropomórfica apresenta-se plena de pregos, lâminas, elementos em ferro e cobre. No peito ostenta um chocalho pendurado e relicários; os olhos em vidro, o trabalho de entalhe da madeira e a boca semi-aberta acentuam a sua expressividade e características. O braço direito, erguido, levava na mão uma faca ou pequena lança, conferindo-lhe algum movimento. Madeira, cobre, ferro, vidro, fibras vegetais e tecido compõem este fetiche.

 

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