Profissão de caldeireiro pode dar «um grande retorno financeiro» a quem nela apostar

Quem quiser comprar utensílios em cobre e latão, como a tipicamente algarvia cataplana, chaleiras, panelas e alambiques, só com dificuldade […]

Espólio Caldeireiros Loulé_Analide Carmo_2Quem quiser comprar utensílios em cobre e latão, como a tipicamente algarvia cataplana, chaleiras, panelas e alambiques, só com dificuldade encontrará peças feitas no Algarve, de forma artesanal. Os caldeireiros são cada vez mais raros, na região, o que levou a Câmara de Loulé a lançar um Curso de Caldeireiro Artesanal, para manter vivo o conhecimento que ainda existe sobre esta profissão.

Esta ação vai decorrer entre os dias de 3 de Outubro a 3 de Novembro, durará 150 horas e é gratuita. Os interessados em dar os primeiros passos nesta profissão artesanal podem fazer a sua inscrição online até ao dia 15 de Julho. O curso destina-se a «adultos em idade ativa, com experiência ou interesse no trabalho artesanal, dispostos a realizar atividade profissional nas artes do metal».

Espólio Caldeireiros Loulé_Analide Carmo_6Esta pode ser uma oportunidade, para os que revelarem ter mais aptidão, de se lançar numa carreira que pode ser lucrativa. Analide Carmo, que será o formador principal do curso, não tem dúvidas de que «quem apostar nesta profissão, pode ter um grande retorno financeiro», já que a procura é grande e há cada vez menos pessoas a fazer estas peças de forma artesanal.

O artesão falou com o Sul Informação, para contar um pouco da sua história e explicar como será este curso que ministrará, em parceria com Francisco Dias.

«Com 12 anos, sai da escola e fui trabalhar para a oficina do Barracha, como caldeireiro. Depois fiz a tropa e, quando a acabei, ainda trabalhei lá mais dois anos, até aos 25. Mas, como calcula, na altura ganhava-se pouco. Pensei ir para a França ou para a Alemanha, mas acabei por não ir nem para um lado, nem para outro. Fui para a Cimpor, onde me pagavam um ordenado decente», contou.

Desde que Analide Carmo deixou de trabalhar na oficina Barracha, uma casa bem conhecida em Loulé e no Algarve, na qual chegou a ocupar a posição de mestre, até ao momento em que Francisco Dias lhe pediu ajuda para fazer panelas em latão no âmbito da residência artística «Mesa Ajudada», passaram cerca de 40 anos. Mas, assegura o artesão, transformar discos de cobre e latão em utensílios variados «é um pouco como andar de bicicleta, não se esquece», embora admita que «a rapidez e perfeição não são as mesmas».

Neste primeiro Curso de Caldeireiro do Loulé Criativo, procurar-se-á transmitir as noções básicas do que é ser caldeireiro, numa ação que terá uma forte componente de mãos na massa. «Isto já dá para aprender qualquer coisa. Vou tentar ensinar o máximo que conseguir. Espero que, ao fim de um mês, alguns deles sejam capaz de produzir um tacho, que é a coisa mais básica», disse.

Até porque, como explicou a Câmara de Loulé, o projeto prevê «apoio à instalação e criação da atividade económica dos novos caldeireiros».

Este será um primeiro passo para a recuperação deste ofício, em Loulé, onde chegaram a existir diversas oficinas de caldeireiro. Hoje, restam os espaços ao abandono, mas também as ferramentas que eram usadas, bem como algumas peças, que foram recolhidas pela autarquia e estão armazenadas no depósito municipal.

Neste espaço camarário, há o mais variado tipo de ferramentas de caldeireiro, algumas bem antigas. A  expressão no rosto e o brilho nos olhos de Analide Carmo, ao olhar para elas, revelavam uma viagem mental ao passado, por parte do artesão. De forma entusiasmada, explicava para que servia determinada peça, salientando a complexidade de se fazer certo tipo de trabalho.

Espólio Caldeireiros Loulé_Analide Carmo_3Algumas das ferramentas que tanto entusiasmaram o caldeireiro louletano vão ser utilizadas no curso, que decorrerá num espaço que a Câmara de Loulé recuperará e onde se pretende manter viva esta profissão tradicional.

Esta é apenas uma vertente do projeto ECOA, que a autarquia louletana está a promover, enquadrado no Loulé Criativo.

Como explicou o vice-presidente da Câmara de Loulé Hugo Nunes ao Sul Informação e à Rádio Universitária do Algarve, o ECOA pretende revitalizar as artes tradicionais, «não só dos caldeireiros, mas também da empreita e da olaria, por exemplo», dando vida a um conjunto de oficinas que estavam desativadas, no centro histórico de Loulé e noutros pontos do território deste concelho.

O pólo central do ECOA será o Palácio Gama Lobos, edifício histórico que a Câmara de Loulé se propõe recuperar, numa obra que «deverá ser lançada a seguir ao Verão e deverá custar cerca de 2 milhões de euros».

Mas o projeto já está em andamento, como prova o Curso de Caldeireiro Artesanal, e a ser levado bem a sério. Os que se inscreverem no curso serão sujeitos a uma pré-seleção, que será feita em Setembro.

Haverá, de resto, diferentes fases de seleção, para garantir, desde logo, que o interesse e empenho dos candidatos é genuíno, mas também avaliar a aptidão dos que se inscreverem para aprender um trabalho que, como ilustrou Analide Carmo, «pode ser duro».

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