Ópera sem vozes estreia-se em Sines antes de se apresentar em Madrid

«Sempre/Ainda: Ópera sem vozes» é a obra contemporânea que será apresentada no segundo concerto do Festival Terras sem Sombra, marcado […]

Sempre/Ainda«Sempre/Ainda: Ópera sem vozes» é a obra contemporânea que será apresentada no segundo concerto do Festival Terras sem Sombra, marcado para o próximo sábado, dia 12 de Março, no Centro das Artes, em Sines.

José António Falcão, diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja e diretor-geral do Festival, salienta, em entrevista ao Sul Informação, que esta peça do compositor Alfredo Aracil tem «libreto de uma grande figura das letras espanholas, que é Alberto Corazón». «Estamos a falar da primeira divisão da música espanhola da atualidade», num concerto que «se apresenta no Centro das Artes de Sines, antes de ser apresentado em Madrid, no Centro Rainha Sofia, ou em Sevilha», o que «dá uma noção da importância».

Esta é uma das duas óperas que serão apresentadas na edição deste ano do festival, mas com a particularidade de ser uma ópera…sem vozes. Estranho, não?

O compositor espanhol Alfredo Aracil
O compositor espanhol Alfredo Aracil

José António Falcão explica que será «uma experiência estética muito envolvente. Estamos a falar de uma ópera sem vozes. É uma novidade, é algo que vem, de certo modo, revolucionar aquilo que nós consideramos como o género operático e que aqui está associado à imagem, quer fixa, quer em movimento, porque há também uma projeção multimédia».

Mas esta será «uma experiência estética inesquecível, também porque fala do que está neste momento a acontecer na Síria. O autor faz uma reflexão, a partir da sua memória de uma estadia na Síria antes da guerra, que hoje infelizmente é uma memória truncada e quase perdida», depois de toda a destruição.

Alberto Corazón é um artista de referência dos nossos dias, um mais importantes designers da transição do século XX para o XXI, mas também pintor, fotógrafo e escritor muito conceituado.

Ele foi um dos últimos europeus a visitar extensamente o património sírio antes do país mergulhar no caos, apercebendo-se da sua enorme importância para o conhecimento da história da humanidade: aí nasceu, aliás, grande parte do que se entende hoje como civilização. «Foi a memória desse diálogo com a arte antiga da Síria, traduzida em textos poéticos de notável beleza e impregnada de uma espiritualidade associada ao próprio devir do tempo, que forneceu o fio condutor de Sempre/Ainda», salienta a organização do Festival.

O concerto reúne, assim, três criadores que ostentam os prémios nacionais espanhóis de Design, Composição e Interpretação Musical, que coincidem naquele que será talvez o mais insólito espetáculo desta edição, uma “ópera sem vozes”, a partir de textos de Damasco Suite, de Alberto Corazón, com música composta por Alfredo Aracil e interpretação ao piano por Juan Carlos Garvayo. Na realização multimédia, inspirada por pinturas de Alberto Corazón, colabora também Simón Escudero.

«Sempre/Ainda» é um espetáculo singular em que a música para piano solo e as imagens projetadas vão revelando, pouco a pouco, os textos de Alberto Corazón (traduzidos para português pelo poeta Ruy Ventura). «A sua matéria-prima resulta de anotações, tiradas dos cadernos de viagem, pelo autor, durante aquela transcendental estadia em Damasco. Uma reflexão lúcida e acutilante sobre uma realidade que nos interpela a todos».

O concerto está marcado para o Centro das Artes de Sines, no sábado, dia 12, às 21h30. A entrada é gratuita, mas sujeita à capacidade da sala.

 

Mesa-redonda e ação pela biodiversidade

Alberto-Corazón
Alberto Corazón

Preparando a apresentação da ópera, realiza-se no dia anterior, 11 de março, sexta-feira, às 21h30, na cafetaria do Centro das Artes, uma mesa-redonda, intitulada Memória e Criação, com Alberto Corazón, Alfredo Aracil, Juan Carlos Garvayo, Juan Ángel Vela del Campo – diretor artístico do Festival –, Ruy Ventura – tradutor do libreto para português – e José António Falcão. A moderação corre a cargo de José Carlos Seabra Pereira, professor da Universidade de Coimbra e diretor do Secretariado Nacional de Pastoral da Cultura.

Na manhã de domingo, 13 de Março, às 10h00, artistas, espetadores, membros da comunidade local e outros voluntários associam-se, como é costume, para uma ação de salvaguarda da biodiversidade. Esta denomina-se Mãos à Obra em Sines: O Projeto Coastwatch e a Monitorização Voluntária da Beira-mar e realiza-se em colaboração com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e o GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, com o apoio do Município e da Capitania do Porto de Sines.

Coastwatch é um projeto de âmbito europeu que permite obter uma caracterização geral da faixa costeira, envolvendo inúmeros voluntários, a título individual ou em grupo. O seu grande objetivo é a caracterização, ao longo do litoral, de fenómenos-chave, relacionados com os seguintes aspetos: salvaguarda da biodiversidade; zonamento costeiro; erosão marítima; resíduos; contaminação; e pressões antrópicas.

Os voluntários do Terras sem Sombra – uma iniciativa da sociedade civil que tem mobilizado o Baixo Alentejo para a conservação da natureza – associam-se a estes trabalhos com a realização de várias atividades de monitorização na orla litoral de Sines.

Em paralelo, será recolhido o lixo marinho encontrado ao longo dos percursos junto ao mar. Podem ser colhidas mais informações no site do Festival ou através do telefone 962 414 521 ([email protected]).

De entrada livre, o Festival Terras sem Sombra, organizado pelo Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, prolonga-se até 2 de Julho, e segue para Santiago do Cacém, Ferreira do Alentejo, Odemira, Serpa, Castro Verde e Beja, sob o título Torna-Viagem: o Brasil, a África e a Europa (Da Idade Média ao Século XX). Um hino ao Baixo Alentejo: à beleza dos seus espaços naturais e ao prazer da descoberta cultural ao alcance de quem o deseje.

 

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